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Carro quebrado em SP comove mais que 27 mil desabrigados na região Nordeste

Abrigo para os afetados pela chuva no Município de São Miguel dos Campos, em Alagoas – Imagem: Edvan Ferreira/Agência Alagoas

Perdas são perdas, partimos daí. Dor é dor, nenhuma é maior ou menor que a outra. O que me deixa curioso é o peso e a atenção que as coisas ganham, a depender de onde acontecem e com quem.

Alagoas e Pernambuco tem 27 mil pessoas desabrigadas neste momento. A imprensa tradicional deu a essa história o peso que merece? Em toda e qualquer reunião política, este é o tema urgente e central da conversa?

Primeiro, é preciso dizer o óbvio, a chuva é um fenômeno natural que, até certo ponto, pode ser previsto. Seja pelo calendário anual, seja pela tecnologia disponível hoje. E pessoas continuam perdendo tudo, até a vida, entra ano e sai ano. Então, alguém não está cumprindo com as suas responsabilidades, denuncia Gessika Costa. Ela é comunicadora popular, mora em uma das periferias de Maceió.

“Se todos os anos há uma previsão de chuvas, o que os gestores públicos precisam fazer? Se organizar. Hoje em dia se gasta mais com pós, quando muito já foi destruído e perdido, do que com a prevenção”, diz. Géssika defende que o problema não é a chuva em si, mas a ausência de planejamento estratégico para lidar com ela. Faltam políticas públicas sérias no enfrentamento ao que acontece, quando as chuvas acontecem. Porque elas vão acontecer. E ela tem um palpite do porquê as coisas são assim, desde sempre.

“Do mesmo jeito que existe a indústria da seca nos estados da região Nordeste, existe também a Indústria das chuvas. A gente já sabe as regiões que irão inundar, quantas pessoas estão nessa região, então o que falta para agir?”, questiona. Cidicleiton Zumba, que mora em Paulista, cidade colada ao Recife, concorda e muito. Ela e ele nem se conhecem, mas tem em comum o uso da comunicação para debater direitos nas periferias e favelas de suas cidades. Cidicleiton é do Coletivo Tururu.

“Não dá para pensar todos esses casos de forma isolada”, explica. “Todos os anos, a população passa pelo mesmo sofrimento: chuvas fortes, pessoas sem casas. São barragens que estouram, ruas alagadas. E as famílias empobrecidas sempre são as que mais sofrem”. Para o comunicador, não se
trata de uma coincidência. Muito pelo contrário.

“Isso é racismo ambiental”, explica. “As pessoas pretas que moram nas periferias têm que conviver com desastres todos os anos provocados mais pela inoperância dos governos, menos pelas chuvas em si”. Ele conta que em meados do ano passado, no mesmo contexto, morreram mais de 100 pessoas. E o que mudou desde então? Só olhar ao redor, praticamente nada.

“Estamos vivendo tempos de mudanças climáticas drásticas, com temperaturas elevadas e mais chuvas torrenciais acontecendo. Quem vive em áreas de barreiras sofre desesperadamente. Quem tem pouco acesso à moradia vive numa labuta eterna”, enfatiza Cidicleiton. Ou seja, se não forem pensadas, e de maneira urgente, políticas que considerem essas realidades, anos após a anos, escutaremos as mesmas, e dolorosas histórias. Isso se as tragédias acabarem não virando paisagem nos noticiários.

Sobre isso, inclusive, Gessika pede uma mudança na cobertura da imprensa. Para ela, o ainda pouco que se fala a nível nacional sobre momentos como os vividos por Pernambuco e Alagoas, contribui para a ideia de que se trata de acontecimentos pontuais. Ou, tragédias isoladas.

“A mídia contribui com essa leitura, quando cobre a chuva pela chuva. Fala dos transtornos causados aqui, o trânsito ficou ruim, algumas pessoas não puderam se locomover. Existe essa visão de cobertura pontual sobre o tema ou com a lente da solidariedade, que é importante, mas não é a única”, finaliza. Para a comunicadora, falta uma abordagem holística e estrutural.

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Fonte: Coluna Tony Marlon no UOL

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