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Casas feitas de tubo de pasta de dente substituem barracos em favela de SP

Heitor de Oliveira Rafael, de 66 anos, viveu por 32 anos em situação de rua e, há dez, ocupava um barraco na Favela dos Sonhos, antiga Favela Boca de Sapo, localizada na região de Ferraz de Vasconcelos, em São Paulo. A sua moradia não tinha água, saída de esgoto, a luz era clandestina e molhava tudo em dias de chuva.

O aposentado, que hoje vive com três filhos e um neto, foi um dos beneficiados por um projeto que está trocando os barracos da comunidade por moradias transitórias construídas com placas feitas de tubos de pasta de dentes reciclados.

A iniciativa da ONG Gerando Falcões, em parceria com a Favila, empresa social parceira da startup Polvo Lab, que atua na construção de casas transitórias, com tecnologia sustentável, tem transformado a moradia de várias famílias. Até o momento, mais de 20 dessas casas já foram entregues, proporcionando melhor qualidade de vida e segurança para os moradores.

Dados prévios divulgados pelo IBGE a partir do levantamento do Censo 2022, mostram que, no Brasil, cerca de 16 milhões de pessoas vivem em mais de 11 mil favelas; número que representa um significativo aumento de 40%, comparado com o resultado do Censo de 2010.

Uma delas é a Favela dos Sonhos. O novo nome dado à comunidade foi escolhido pelos próprios moradores, a partir de uma votação organizada pela Gerando Falcões. A missão e o lema que movem os trabalhos em que a ONG atua, segundo Flávia Taverna, analista de comunicação, é a de “transformar a pobreza da favela em peça de museu”.

O ‘dignômetro’, que foi instalado no centro da Favela dos Sonhos pela ONG, mostra o início dessa transformação: 98% dos espaços de uso comum já foram revitalizados, 96% dos moradores foram inseridos no mercado de trabalho e 95% das pessoas passaram por qualificação profissional.

Um teto de verdade
A construção das moradias transitórias tem contribuído muito para elevar o ponteiro da ‘dignidade’ das famílias da comunidade.

Heitor contou ter conhecido sua falecida esposa na rua e também que a primeira filha dessa relação nasceu e morou na rua durante seu primeiro ano de vida. “Para morar na rua, o cara tem que dormir bêbado, porque se não dorme, enlouquece. Eu fiquei muito tempo sem saber quem eu era, um
enorme vazio”, relembrou.

“A rua é uma selva de pedras em que sobreviver é a luta diária”, Heitor de Oliveira, aposentado.

Construir ou reformar uma casa para a maior parte dos brasileiros de baixa renda é um grande desafio, mas, para quem viveu tanto tempo nas ruas os obstáculos se apresentam com ainda maior força.

“A gente nunca tem condições porque quando você pensa ‘amanhã vou pegar R$ 100 e vou comprar um tijolo pra por ali’, chega amanhã e você olha no armário e tá faltando comida, então não tem como, nunca dá pra fazer” desabafa, Heitor.

Ao recordar o dia em que entrou na nova casa pela primeira vez, Heitor se emocionou. “Eu não tenho vergonha de falar, eu chorei de emoção, era uma coisa que não esperava, eu nem sabia que poderiam fazer com esse material; o primeiro sentimento foi de imensa alegria e agora meus filhos
têm um teto de verdade”.

Madeira e tubos de pasta de dente
Caio Luizetto, CEO-fundador da Favila, explica que a solução criada por eles combina tecnologia, sustentabilidade e dignidade. As casas construídas pela Favila são feitas com estruturas em madeira e painéis feitos de tubos de pasta de dentes reciclados, que são resistentes, isolantes e impermeáveis.

É possível montar uma moradia destas em até 48 horas. Elas têm 27m², dois dormitórios e banheiro, porta e janelas em alumínio, encanamento, chuveiro, rede elétrica e outros atributos que garantem o conforto e a segurança das famílias.

“As casas são pedagógicas: elas ensinam as famílias a cuidar do seu espaço e a planejar o seu futuro”, Caio Luizetto, CEO-fundador da Favila.

Heitor confirma que a estrutura é muito resistente. “Aqui já suportou chuva de vento forte e até granizo e passou no teste”, disse com o sorriso no rosto. Para ele, a atuação da ONG contribuiu para a mudança da cultura da comunidade: “Mudou tudo, muita gente estudando, trabalhando, mudou o comportamento das pessoas e até o nome da comunidade”.

Ele lembra que os moradores sofriam muito preconceito quando diziam morar na Favela Boca do Sapo, o que dificultava na conquista de emprego e também na forma como eram atendidos nos estabelecimentos.

Ações como essa geram esperança e oportunizam novos sonhos, como os que Heitor passou a ter. “Para mim, que morei muito tempo na rua, dormindo em cima de um papelão, isso aqui é um castelo que a gente via no desenho. O meu sonho daqui em diante é ver meus filhos realizados.”

Luizetto faz questão de lembrar que as moradias são sustentáveis, transitórias e oportunizam o mínimo necessário de dignidade para que as pessoas possam avançar e viver melhor “até que o Estado consiga, de fato, efetivar aquilo que é sua competência: oferecer moradias perenes, dentro
de um padrão comum”.

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Fonte: Ecoa/UOL

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