Homem leva vantagem sobre mulher ao pedir flexibilidade no trabalho
Enquanto há quem sugira que a flexibilidade no trabalho tem o potencial de reduzir desigualdades, um novo estudo mostra que ela pode agravar a discriminação com base em gênero e cuidados paternais ou maternais.
A autora do estudo, Christin Munsch, professora-assistente de sociologia na Universidade Furman (EUA), analisou reações tanto em relação a homens como a mulheres quando estes requisitaram trabalho flexível — ou que trabalhassem de casa, ou que cumprissem horários não tradicionais.
Homens que pediram para trabalhar de casa em dois dias da semana para cuidar de crianças levaram significativa vantagem na comparação com mulheres que fizeram o mesmo. Munsch, que apresentará sua pesquisa no 109º encontro anual da Associação Sociológica Americana, também descobriu que tanto homens como mulheres que solicitaram flexibilidade no trabalho com o intuito de tomar conta de crianças obtiveram vantagem sobre aqueles que fizeram o mesmo pedido com outras finalidades.
Em seu estudo, Christin utilizou uma amostra de 646 pessoas com idades entre 18 e 65 anos e residência nos Estados Unidos. Aos participantes foi mostrada a transcrição de uma suposta conversa verídica entre um profissional de recursos humanos e um empregado. O empregado pedia ou não pela flexibilidade no trabalho. Entre os que a requisitavam, a demanda podia ser por chegar mais cedo e sair mais cedo em três dias da semana ou trabalhar de casa dois dias por semana. A professora também variou o gênero do empregado e o motivo do pedido (envolvendo o cuidado de crianças ou não). Depois de ler a transcrição, os participantes deviam dizer o quanto estariam dispostos a conceder o benefício e ainda avaliar o quão agradável, comprometido, confiável e dedicado eles julgavam o funcionário fazendo o pedido.
Entre os que se depararam com um cenário em que um homem pedia para trabalhar de casa para cuidar de crianças, 69,7% disseram estar propensos ou muito propensos a aprovar o pedido, ante 56,7% que analisaram a demanda de uma mulher. Quase um quarto – 24,3% – considerou o homem “extremamente agradável”, enquanto apenas 3% disseram o mesmo sobre a mulher. Além disso, somente 2,7% classificaram o homem como nada ou pouco comprometido, sendo que 15,5% consideraram a mulher nada ou pouco comprometida.
“Os resultados demonstram como as noções culturais de criação influenciam as percepções das pessoas que demandam trabalho flexível”, diz Christin. “Hoje, pensamos que as responsabilidades da mulher incluem trabalhar fora e obrigações domésticas, mas ainda vemos o homem como o maior responsável pelo sustento da família e nos sentimos agradecidos se eles cuidam das crianças ou realizam outras tarefas da casa.”
A autora teme que isso possa se tornar um problema à medida que os casamentos se tornam mais igualitários. “Por exemplo, se ambos os parceiros contribuem igualmente com as finanças domésticas, os homens vão conseguir vantagens no local de trabalho”, diz. “Nesse cenário, um movimento na direção da igualdade em casa perpetuaria a desigualdade de gêneros no trabalho.”
No que diz respeito às descobertas relacionadas às demandas de flexibilidade para cuidar de crianças e por outros motivos, a professora diz que “tanto homens como mulheres que pediram para trabalhar de casa ou em horários alternativos para tomar conta de uma criança foram vistos como mais confiáveis, agradáveis, comprometidos e merecedores de uma promoção, e seus pedidos receberam mais apoio que aqueles que demandaram flexibilidade por outras razões [como pra evitar longos deslocamentos entre casa e trabalho ou reduzir o impacto ambiental]”.
Fonte: Valor Econômico