Ministro ouve sugestão de renúncia, defende governo e diz se contrapor ao conservadorismo
Manoel Dias afirma que não acredita em desastre, critica mídia por criar ‘clima de incerteza’, garante programas sociais e lembra que PDT defende ‘outro modelo econômico’. Ele vê ataques à democracia
Na visita que fez nesta segunda-feira, dia 9, à Força Sindical, em São Paulo, o ministro do Trabalho e Emprego, Manoel Dias, evocou Leonel Brizola e João Goulart, ouviu sugestões para que renunciasse e seu partido (PDT) deixasse o governo, mas defendeu a presidenta Dilma Rousseff e disse que não acredita em desastres. Afirmou que pretende formar no governo “uma força que faça contraponto” ao conservadorismo. “Há um governo ideologicamente comprometido com os trabalhadores”, disse o ministro, para acrescentar em seguida que no atual “tem da direita à esquerda” e que sua sigla diverge do modelo econômico do Brasil. Após seu discurso a sindicalistas e militantes, Manoel afirmou à imprensa que não falara em conservadorismo. “Eu falei que há divergências. Somos um governo plural. Temos posições bem diferentes. Agora, vamos brigar sempre. No campo trabalhista, estamos para defender o que faz parte da nossa história.”
Além de questionar a dimensão da crise econômica – “Quem está em crise é o mundo, não é o Brasil” –, o ministro também fez advertências de ordem política. “O trabalhador tem de ficar muito atento. Essa campanha que se faz hoje (contra o governo) eu só assisti contra Getúlio e contra Jango. O trabalhador, mais do que ninguém, precisa da democracia. Radicalizar, podemos. Sectarizar, não”, afirmou. Ele também lamentou a redução da representação dos trabalhadores no Congresso na atual legislatura. “A pauta trabalhista certamente vai ser muito prejudicada.”
Ele também viu exageros no noticiário sobre a conjuntura brasileira, política e econômica. Para o ministro, há um “clima de incerteza” alimentado pela mídia, citando o caso da Petrobras. “Não acho que está tão ruim quanto querem. Isso deveria ser positivo, porque pela primeira vez o corruptor está sendo preso. A Justiça está apurando. Temos de ir a fundo nisso.” Dias afirmou que a presidenta prepara um pacote de medidas para reforçar os mecanismos legais de combate à corrupção.
O ministro não quis fazer previsões sobre o comportamento do mercado formal de trabalho neste ano. Destacou os índices de desemprego, que estão no menor nível histórico. E procurou mostrar otimismo. “Pelo volume de investimentos que o Brasil vai ter, não é possível que tenhamos um desastre.” Citou número relativos a investimentos em aeroportos, portos e rodovias, além de recursos vindos do exterior. “Não me conta que essa gente bote seu dinheirinho em lugar que não tem segurança de retorno.”
Intervenção do Estado
Posteriormente, o ministro admitiu crise no Brasil, que para ele pode ser “maior ou menor” dependendo da intervenção do Estado. “Não vai haver diminuição de investimentos em programas sociais. A política de criação de empregos e aumento real dos salários vai continuar”, afirmou, acrescentando que o Produto Interno Bruto “não é mais referência para a geração de empregos”, à medida que os postos de trabalho têm crescido acima da variação do PIB. “Não concordo com o desastre. Temos de fazer um amplo debate sobre políticas públicas de emprego, qualificação profissional e inserção no mercado de trabalho. O grande desafio agora é qualificar a mão de obra.”
Depois de sua apresentação, o ministro ouviu uma sucessão de críticas, algumas duras, sobre a economia e a política do Executivo. “O PDT, pelo seu histórico, pelo seu currículo, deveria deixar esse governo. Duvido que se ele (Brizola) fosse vivo o PDT estaria participando”, disse, por exemplo, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Sertãozinho, no interior paulista, Antonio Vitor. Segundo ele, os empregados do setor estão “à míngua”. Do mesmo partido do ministro do Trabalho, Carlos Rocha, o Serrote, do sindicato da categoria em São Paulo, afirmou que a presidenta Dilma “não está ouvindo o Lula”.
Também pedetista, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos (região metropolitana de São Paulo), José Pereira dos Santos, comentou que houve discussões sobre a permanência da legenda no governo. “Hoje temos o ministro do Trabalho, mas não temos o ministério. Se a gente vai continuar, vamos lutar para que tenhamos de fato o ministério na mão”, afirmou.
Manoel Dias disse não concordar com a “subtração” de direitos e afirmou que a presidenta, até hoje, não assinou nenhuma lei nesse sentido. As medidas provisórias que estão sendo questionadas pelas centrais sindicais (664 e 665), sobre direitos trabalhistas e previdenciários, são, segundo ele, para garantir a “saúde” do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e da Previdência. “Creio que vamos passar por um pequeno prazo de dificuldades. Não é possível, de um momento para outro, tudo acabar.” Algumas questões, lembrou o ministro, cabem ao Congresso – é ali que está, por exemplo, o projeto de taxação de fortunas, uma reivindicação das centrais. “Somos parceiros nessa luta”, disse aos sindicalistas. Na saída, ele foi acompanhado até o carro pelo ex-ministro Antônio Rogério Magri, hoje assessor na Força.
Fonte: Rede Brasil Atual