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Movimentos cobram reformas, mas pedem respeito à democracia

Organizadores reivindicaram mudanças na economia, ao mesmo tempo em que defenderam respeito ao resultado das eleições. Ato durou quase quatro horas. Passeata teve 1,5 quilômetro de extensão

Representantes de centrais sindicais e movimentos sociais que organizaram ato na tarde de sexta-feira, dia 13, em São Paulo, cobraram reformas, especialmente a política, e um redirecionamento da economia. Mas também fizeram discursos em defesa da democracia e de respeito ao resultado eleitoral de 2014. Perto de completar quatro horas, a manifestação terminou pouco antes das 19h, com o hino nacional e um chamamento feito pelo presidente da CUT, Vagner Freitas, que garantiu apoio nas ruas ao mandato da presidenta Dilma Rousseff desde que ela implemente a agenda transformadora proposta durante as eleições.

“Quem está achando que é um ato de guerra está muito enganado. Tem uma parcela querendo dividir o Brasil. Nós queremos unificar. Quem quer derrotar o governo, que o faça daqui a quatro anos, na próxima eleição”, disse o dirigente.

A passeata que saiu da avenida Paulista, seguiu pela rua da Consolação e terminou na praça da República, na região central, teve pelo menos 1,5 quilômetro de extensão. Quase na reta final da Consolação, ainda havia manifestantes dobrando a esquina na avenida Paulista. Os organizadores do ato calcularam a participação em 100 mil pessoas, enquanto a Polícia Militar estimou em 12 mil. Para o instituto Datafolha, havia 41 mil.

As manifestações foi pacífica por todo o percurso, com a presença de famílias inteiras, muitas crianças, idosos, mulheres grávidas. À frente, os manifestantes carregavam uma grande faixa dizendo: “corrupção se combate com reforma política”. A PM não fez o habitual cordão que costuma cercar manifestações de movimentos, apenas acompanhou o primeiro caminhão de som e fechava o final do ato com viaturas e um grupamento da Tropa do Braço, policiais especializados em combate corporal, que traziam armas de bala de borracha, bombas de gás lacrimogênio e escudos.

Dois grupos se manifestavam desde o início da tarde. O que estava diante da sede da Petrobras, na altura de 900 da Paulista, se encontrou com manifestantes no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), principalmente professores da rede pública estadual, de onde rumaram para a Consolação, quase sempre sob chuva, descendo a rua no sentido da República. O ato terminou ao som do Hino Nacional. A Polícia Militar acompanhou à distância. Não houve acidentes.

“O ato é pelo direito dos trabalhadores e defesa da Petrobras e de democracia e contra o retrocesso. Nós esperamos que a presidenta Dilma pense uma política econômica voltada ao desenvolvimento, para que tenhamos condições de crescer, e não só o corta, corta, corta que vem sendo proposto”, afirmou Vagner Freitas. Sobre o ato previsto para domingo, contra o governo, ele afirmou que é preciso “acabar com a eleição” e que não existe terceiro turno. “Quem quer protestar tem o direito, mas não podemos viver uma eleição eterna. Neste momento não nos cabe ser contra ou favor da Dilma. Precisamos de uma unidade nacional em favor do desenvolvimento.”

“Vamos lutar para garantir a ordem constitucional e o direito da presidenta Dilma de exercer o seu mandato”, acrescentou o presidente da CTB, Adilson Araújo. “Está em curso uma onda golpista que atenta contra os interesses da nação, os direitos sociais e trabalhistas.” Ele lembrou que as centrais farão um ato na semana que vem no Congresso, para exigir o arquivamento do Projeto de Lei 4.330, sobre terceirização.

“Estamos aqui defendendo a democracia, mas também queremos aprofundá-la. Empresa não doa, faz negócio. Não podemos aceitar que eles continuem mandando no Congresso. Também não aceitamos o golpe, pois precisamos de mais e não de menos democracia”, comentou a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Juvandia Moreira. Ela também pediu democratização dos meios de comunicação, hoje sob o comando de poucas famílias no país, “e isso vai contra o interesse da população”, segundo observou. “Por fim, defendemos a Petrobras 100% estatal. Em 2002 a Petrobras representava 3% do PIB e hoje são 13%. Defendê-la é defender o povo brasileiro.”

O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Alberto Broch, também pediu mudanças. “Este é momento de debater as reformas sobretudo a política, mas também a agrária, judiciária e tributária, essenciais para que o o país continue o seu desenvolvimento”, afirmou, pouco antes do início da passeata.

“Estamos aqui principalmente para exigir reformas, política, agrária, urbana, e o fim do ajuste fiscal”, disse Gilmar Mauro, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “Somos favoráveis que se puna os corruptos, mas para enfrentar isso tem de acabar com o financiamento privado das campanhas eleitorais.”

Crime
O secretário de Relações Internacionais e Empresas Privadas da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antônio de Moraes, também cobrou punição dos envolvidos em corrupção, mas defendeu a companhia. “Não vamos permitir que entreguem o pré-sal para mãos privadas. Isso é um crime contra o povo brasileiro. Para nós, é muito claro: quem fez coisa errada, tem de investigar e se comprovar, puna-se. Mas não vamos aceitar propostas como a do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), que já apresentou projeto para transformar o regime de partilha em concessão.”

Coordenador estadual da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim avalia que a Petrobras está sendo “difamada” com um único objetivo: “Ser entregue ao capital estrangeiro”. Ele também cobrou “respeito ao processo político-eleitoral”.

“O povo brasileiro escolheu um projeto de desenvolvimento para o país. Por isso, estamos aqui para defender a democracia. Nós, que lutamos muito pela democracia, sabemos o valor do nosso voto”, afirmou, já na passeata, a presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Virgínia (Vic) Barros. Ela também criticou medidas que afetam o setor social. “Os trabalhadores e estudantes não podem pegar pela crise. Não podemos reduzir direitos”, disse.

Para Tiago Pará, do Levante Popular da Juventude, a principal questão é a reforma política, com uma Constituinte e consulta popular. Ele também considera necessário criticar o governo, por medidas “que afetam os mais pobres e mais vulneráveis”.

“O que acontece neste país hoje é uma tentativa de tirar do poder aquela que foi eleita democraticamente”, disse o presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT, Paulo Cayres. “Ele ressaltou a organização do ato, que transcorre com tranquilidade: “As manifestações dos trabalhadores são assim”.

O jurista Jorge Luiz Souto Maior, encontrado pela reportagem em um posto de gasolina, se disse surpreso com o ato, que, para ele, deixa o jogo político bastante interessante: “Até agora estava parecendo que só a direita estava articulada, que só a direita tinha força, que só ela ia poder exigir alguma coisa”. Ele disse que ficou bem satisfeito de ver que a esquerda está unida, que conseguiu levar bastante gente para a rua, e que não é um ato cego, de apoio irrestrito ao governo, mas sim um ato crítico, que coloca também em ponderação os problemas do governo Dilma.

Participação popular
Ao lado da filha Mirela, 5 anos, e grávida de sete meses, Luana Silva, de 23 anos, ativista do Movimentos dos Atingidos por Barragens (MAB), destacou a importância da participação neste momento. “A gente tem que se colocar contra o impeachment e em defesa da Petrobras.”

Irene Santos, pesquisadora de 50 anos, soube do ato pelas redes sociais e foi defender Dilma: “É um absurdo querer tirar a presidenta, que mal começou o seu segundo mandato”.

Silvio Lopes de Oliveira, vigilante, veio do Nordeste para São Paulo há oito anos. Lembra que há dez anos a população do interior do Nordeste não tinha a menor expectativa de vida, era trabalhar na roça para ganhar um sustento miserável, passar necessidade. Hoje, conseguiu comprar um carro e uma casa no bairro dos Pimentas, em Guarulhos, na região metropolitana. Diz que tem muito orgulho de ter votado no PT durante todo esse tempo, e acha um absurdo quererem o impeachment da presidenta Dilma. Ele acha que querem o impeachment, não porque o governo é ruim, mas porque hoje o pobre pode ter uma casa, carro e andar de avião. “E os ricos não aceitam isso. Eles querem só para eles.”

Fonte: Rede Brasil Atual

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