Apesar de estudo do FMI apontar que bancos com mais mulheres na chefia têm melhores resultados, nas dez maiores instituições financeiras do Brasil, apenas 8% dos altos executivos e 10% dos membros dos Conselhos são mulheres e não há presença feminina entre os presidentes. Os dados são do levantamento “O ciclo de vida do gap de gêneros”, da consultoria internacional Oliver Wyman. O estudo mostra que as mulheres até entram no mercado financeiro em maior proporção do que os homens, representando 55% dos analistas júnior. No entanto, quanto mais sênior a posição, menor a representação: elas são 37% dos coordenadores, 31% dos gerentes, 22% dos superintendentes executivos e 16% dos diretores executivos.

Ana Carla Abrão Costa, uma das autoras do estudo, diz que muitas mulheres ficam pelo caminho nesse setor devido à dificuldade de conciliar as jornadas extensas com a maternidade e a avaliações enviesadas que acabam as deixando em desvantagem na hora de uma promoção:

– Há muito tempo estamos perdendo mulheres nesse setor. Elas optam por sair porque não veem perspectivas de progredir e porque há pouca flexibilidade de horário para quem tem filhos. É quase um desalento. Quando a profissional é agressiva em suas posturas, ao contrário do homem, que é visto como ambicioso, ela é tachada de histérica, de estar com TPM (tensão pré- menstrual).

Roberta Anchieta, de 40 anos, é uma dessas exceções. Entrou há 18 anos, como trainee, no banco onde, há um ano e meio, ocupa o cargo de superintendente. Comanda uma equipe de 55 pessoas, sendo cinco gerentes, três delas mulheres. Tem dois filhos, de 6 e 2 anos e meio.

– Sempre entendi que, se eu fizesse um bom trabalho, seria reconhecida. Nunca coloquei como obstáculo o fato de eu ser mulher. Mas ajudou a licença maternidade ser de seis meses e o fato de eu poder chegar mais tarde e sair mais cedo para amamentar – disse Roberta, ressaltando que também é fundamental a divisão igualitária de funções com o marido: – Um equilíbrio maior de papéis em casa é essencial para que a mulher possa desenvolver sua carreira.

Ações para reduzir desigualdade
Regina Madalozzo, economista especialista em gênero e professora do Insper, diz que o setor financeiro é um dos mais resistentes a reduzir essas desigualdades por acreditar que a meritocracia é eficaz em reconhecer talentos:

– O setor financeiro é altamente racional e meritocrático. Mas, se houvesse uma autocrítica, perceberia que há avaliações enviesadas. Há uma questão de identificação em algumas decisões, em razão do viés inconsciente. Um homem branco, na casa dos 40 anos, vai se identificar mais facilmente com esse mesmo perfil ao fazer uma seleção.

Segundo a especialista, é preciso criar um sistema que minimize as ações enviesadas, como treinamentos de lideranças e recrutadores e comitês de avaliação que incluam mulheres. Os bancos enfatizam que o sistema de avaliação é meritocrático, mas reconhecem gargalos e já caminham para reduzir desigualdades com ações que se intensificaram nos últimos dois anos. O Banco do Brasil deixou de usar como critério de crescimento profissional a passagem por agências de diferentes cidades, pois, como as mulheres acumulam mais tarefas de cuidados com os filhos, não têm disponibilidade para essas transferências, ficando em desvantagem. O Conselho de Administração da Caixa é presidido por uma mulher e tem outra integrante feminina em sua composição.

Entre as instituições privadas, o Santander vem buscando, em seus processos de seleção, garantir um equilíbrio entre candidatos de ambos os gêneros e afirma que não há diferença salarial entre homens e mulheres que ocupam os mesmos cargos, na mesma região. O Itaú desenvolve, há 11 anos, um programa de treinamento para o casal que terá filhos; garante que, no primeiro mês após a licença maternidade, a mãe tenha a jornada de trabalho reduzida para seis horas; oferece uma sala especial onde a funcionária pode tirar e armazenar o leite materno durante o expediente; e, mais recentemente, deixou de descontar os meses de licença maternidade da participação nos lucros.

A Febraban, que representa o setor, auxilia os bancos a desenvolver e aperfeiçoar as políticas de diversidade e inclusão.

Fonte:  O Globo