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O que as empresas podem fazer pelo trabalhador com Síndrome de Burnout

*Por Rui Brandão

No Brasil, estamos vivendo a pandemia de Covid-19 e o isolamento social já há mais de um ano. Um dos inúmeros e tristes reflexos disso têm sido o aumento dos casos de Síndrome de Burnout: quando comparamos os dados das sessões de terapia feitas por aqui no primeiro quadrimestre de 2021 com as realizadas no mesmo período de 2020, percebemos um avanço de de 1745% nas abordagens do tema.

A Síndrome de Burnout acontece por um acúmulo de pressões da empresa sobre o trabalhador e do trabalhador sobre si mesmo. Ao chegar nesse ponto, a saúde emocional dele já está gravemente comprometida, pois, por um período considerável de tempo, o trabalhador foi submetido a uma dinâmica extremamente tóxica!

Nesses casos, desmaios súbitos e outras manifestações de cansaço e mal funcionamento do corpo podem ocorrer. Outros sintomas são fadiga crônica, insônia, esquecimento, dificuldade de concentração, dores musculares, imunidade baixa, ansiedade, depressão, perda de prazer, pessimismo, isolamento, sentimentos de apatia, desesperança e irritabilidade aumentada.

Quem está doente sofre, assim como todos ao seu redor – principalmente familiares e amigos -, mas não só. Uma empresa é feita de pessoas, então, se seus trabalhadores estão com a saúde prejudicada, toda a empreitada sente! A corporação começa a sofrer com problemas de organização, dificuldades financeiras, erros nas entregas. A lista é longa! Dessa maneira, ao invés de ser uma empresa saudável e que opera bem, ela vira uma corporação desajustada.

Nem preciso dizer o quanto esse cenário é preocupante, certo? Por isso, compartilho, a seguir, algumas recomendações.

Como identificar se há pessoas com Burnout na equipe?

Gestores devem estar atentos aos seus trabalhadores. Algum deles está trabalhando em excesso? Irrita-se com frequência? Você percebe que a pessoa não dedica tempo à vida pessoal? Apresenta outros dos sintomas citados anteriormente? Se sim, alerta amarelo!

Vale conversar com seu funcionário para entender o que ele está sentindo e vivendo. Aliás, é fundamental que as lideranças estejam abertas e estimulem o diálogo. Trabalhadores cansados e insatisfeitos, que veem queda na qualidade de vida, precisam se sentir confortáveis para comunicar as suas experiências.

Os RHs, inclusive, costumam ser excelentes parceiros nesse processo! Eles podem contribuir na formação das lideranças para que gestores notem os sinais de alerta, são capazes de indicar caminhos para que a empresa lide com os casos de Burnout existentes; além de criarem um plano de prevenção para que novos quadros não aconteçam.

Encontrei pessoas com Burnout! E agora?

É preciso agir rapidamente! Lembre-se que a saúde do seu funcionário já está comprometida. Além disso, outras pessoas do time devem estar com problemas similares.

  • Conceda uma licença: a recuperação do seu trabalhador não se dará enquanto ele trabalha;
  • Facilite o acesso a tratamentos: seja cobrindo possíveis despesas ou oferecendo consultas com especialistas em saúde emocional;
  • Converse e escute: ouça com atenção e carinho o que o funcionário tem a dizer, pois permitir que ele se posicione pode ajudar na sua recuperação. Além disso, a sua experiência pode contribuir para que a empresa formule um plano de ação e, assim, casos do tipo não se repitam;
  • Entre em contato com pessoas envolvidas: todos que trabalham com o trabalhador em questão devem ser ouvidos. Nessas conversas, também já será possível passar feedbacks para profissionais que possam fazer parte dos agentes de aumento de ansiedade e estresse;
  • Promova mudanças: reveja valores da empresa, objetivos e metas. Promova reorganização de fluxos e mude prazos. Instaure uma cultura de intolerância ao assédio e proponha dinâmicas para aumentar o trabalho em equipe e diminuir a competitividade.

É possível prevenir casos de Burnout na minha empresa?

Claro! Não permitir o acúmulo de tarefas, definir prazos de entrega junto com os funcionários, em vez de impô-los, estimular o trabalho em equipe, dar feedbacks e estimular que o trabalhador também dedique tempo à sua vida pessoal são alguns dos caminhos. Outros são oferecer remuneração adequada e conceder benefícios de saúde emocional.

Nem todo mundo sabe, mas eu fundei a empresa por causa de um Burnout que minha mãe sofreu. Mesmo sendo médico, tive muita dificuldade em encontrar ajuda para ela e percebi que queria evitar que outras pessoas passassem pelo que ela passou. Trabalho nesse sonho já há cinco anos e aprendi que a forma mais eficaz das empresas ajudarem trabalhadores com Síndrome de Burnout é tendo a promoção da saúde emocional como pilar estratégico de atuação. Cada corporação, liderança e RH que têm ações nesse sentido, assim como cada funcionário que cobra esse tipo de atitude de sua empresa, ajuda tanto quem já tem a doença, como evita que outras tantas pessoas venham a ter.

*Rui Brandão é médico, com mais de 10 anos de experiência na área de saúde, tem MBA em Business and Management pela FGV. Fundou o Zenklub em 2016, após sua mãe sofrer um burnout, pois percebeu que assim poderia ajudar pessoas em uma escala maior do que conseguiria atendendo em um hospital.

Fonte: 6 Minutos/UOL

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