Artigos de menuUltimas notícias

Para a OMS, solidão é questão de saúde pública; como enfrentar isolamento?

Imagem: Getty Images

Em novembro, a OMS (Organização Mundial da Saúde) anunciou a criação de uma Comissão de Conexão Social para fazer frente, durante os próximos três anos, ao que ela chama de epidemia global de solidão.

A OMS estima que um em cada quatro idosos esteja isolado e que entre 5% e 15% dos adolescentes sofram com falta de vínculos sociais —embora seja um problema comumente associado a países ricos, a instituição afirma que as taxas são similares em todas as regiões.

O grupo formado por 11 representantes de diferentes países vai analisar pesquisas recentes que relacionam a conexão social com a melhora de indicadores de bem-estar e saúde e desenvolver estratégias para mitigar essa “ameaça urgente à saúde”. Para a OMS, o problema deve ser encarado como uma questão de saúde pública.

O programa nasce em um contexto de pós-pandemia, que agravou as dinâmicas de relações sociais no mundo todo pela necessidade sanitária de isolamento.

“Dadas as profundas consequências que a solidão e o isolamento têm nas esferas social e sanitária, temos a obrigação de investir na reconstrução do tecido social da mesma forma que temos feito para enfrentar outros problemas de saúde globais, como o consumo de tabaco, obesidade e a crise do vício”, Vivek Murthy, vice-presidente da comissão e cirurgião geral dos Estados Unidos, no anúncio da criação do grupo, no dia 15 de novembro.

Ameaça ao corpo e à mente
A solidão é tão nociva para a saúde quanto fumar 15 cigarros por dia, segundo a OMS. A instituição compara os efeitos da falta de socialização com outros fatores de risco como consumo excessivo de álcool, sedentarismo, obesidade e poluição atmosférica.

Pesquisas comprovam a relação entre isolamento e incidência de depressão, ansiedade, suicídio e doenças cardíacas —a solidão pode aumentar em até 50% o risco de demência e em 30% o risco de AVC e ataque cardíaco.

“Mais de quatro décadas de pesquisa demonstraram claramente que o isolamento social e a solidão estão associados a resultados desfavoráveis de saúde. Os médicos devem perguntar aos pacientes sobre a frequência de suas atividades sociais e se estão satisfeitos com seu nível de interação com familiares e amigos”, Crystal Wiley Cené, médica, líder da investigação na apresentação de um estudo que foi publicado pela revista da Associação
Americana do Coração.

Na divulgação da pesquisa publicada na associação, os profissionais relacionaram a solidão à maior propensão a condutas danosas para saúde cardíaca e cerebral, como má alimentação, sedentarismo e tabagismo. “Questões como transporte, situações de moradia e desentendimentos nas relações familiares, além da pandemia e dos desastres naturais, podem contribuir para o grau de isolamento ou conexão social”, diz o comunicado.

Outro estudo conduzido pela Universidade de Glasgow, no Reino Unido, realizado com 458 mil participantes ao longo de 12 anos e publicado uma semana antes do anúncio da criação da comissão da OMS, mostrou que não socializar com pessoas próximas pode contribuir em 39% para morte prematura.

Vem me tirar da solidão
O isolamento e o sentimento de desconexão social não são exclusividades de uma determinada faixa etária ou classe social. Todo mundo está vulnerável a se sentir sozinho em alguma fase da vida.

“Não existe uma regra rígida de que precisamos estar com outras pessoas o tempo todo, mas tendemos a nos sentir melhor quando estamos acompanhados, e podemos nos sentir pior se estivermos sozinhos com frequência. Quando você está sozinho, você se concentra demais em si mesmo e se preocupa com arrependimentos ou preocupações. Quando você está com outras pessoas, você volta seu foco para fora. Quando você pensa menos em si mesmo, você se preocupa menos consigo mesmo”, Michael Craig Miller, professor de psiquiatria da Harvard Medical School, ao site da universidade.

Conheça algumas estratégias para combater a solidão e aprofundar suas relações sociais:
Mexa o esqueleto
Além de fugir do sedentarismo e garantir boas doses de endorfina, fazer atividade física é uma ótima maneira de se conectar com pessoas diferentes —se você não for fã de esportes competitivos, escolha modalidades possíveis de serem praticadas em grupos e de modo recreativo, como ciclismo, pilates, ioga ou trilhas.
Aprenda algo novo
Que tal realizar aquele desejo antigo de aprender um novo idioma, tocar um instrumento musical, bordar, estudar história da arte, dançar um ritmo diferente ou fazer cerâmica? Mesmo que a habilidade que você decidir aprender seja uma tarefa individual, no processo de aprendizado você vai ter contato, senão com uma turma, pelo menos com um professor.
Encontre a sua turma
Seja qual for seu interesse, é muito provável que exista um grupo de pessoas que se reúne para discuti-lo ou colocá-lo em prática.
Voluntariado, observação de aves, jardinagem, leitura de textos religiosos, clube do livro, jogos de tabuleiro, vale tudo para se sentir em comunidade.
Cultivar as amizades
Amizades são relações que dependem do empenho mútuo. Não espere apenas que a outra pessoa o convide para algo, tome a iniciativa. Mesmo que seus amigos vivam longe, vale a pena enviar uma mensagem, ligar ou fazer uma chamada de vídeo. “Conexões virtuais ainda são conexões. Mesmo uma rápida troca de mensagens ou ver o rosto de alguém na tela pode melhorar o seu bem-estar”, defende o professor Miller.

Fonte: VivaBem/UOL