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Pessoas com deficiência são 8,9% da população e têm salário menor, aponta IBGE

Levantamento inédito do IBGE divulgado hoje aponta que 8,9% dos brasileiros possuem algum tipo de deficiência. Os dados são do módulo “Pessoas com Deficiências” da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) Contínua 2022.

O levantamento revelou que as pessoas com deficiência (PCDs) ainda sofrem com uma série de barreiras para ter acesso aos estudos e mercado de trabalho, e quando conseguem ser ocupadas, recebem uma remuneração menor do que as pessoas sem deficiência.

O que diz a pesquisa

Cerca de 18,6 milhões de pessoas (ou 8,9% do grupo etário acima de dois anos) tem algum tipo de deficiência. O percentual foi calculado ainda com a estimativa de população, e não com os dados iniciais do Censo divulgados na semana passada.

O maior percentual de pessoas com deficiência é de idosos. Em 2022, 47,2% das pessoas com deficiência tinham 60 anos ou mais de idade. Entre as pessoas sem deficiência, apenas 12,5% eram deste grupo etário.

Já acima de 80 anos, o percentual de pessoas com deficiência chega a mais da metade da população da idade.

“A pesquisa é feita a partir das dificuldades funcionais: se tem alguma, muita, pouca ou nenhuma. Com isso, automaticamente temos maior participação de pessoas idosas, já que são as dificuldades que vamos adquirindo com a idade; quanto mais idoso, mais dificuldades acumuladas”, Luciana Alves dos Santos, analista do IBGE.

As dificuldades dos brasileiros:

  • 3,4% para subir degraus
  • 3,1% para enxergar, mesmo usando óculos ou lentes de contato
  • 2,6% de aprender, lembrar-se das coisas ou se concentrar
  • 2,3% para levantar uma garrafa com 2 litros de água da cintura até a altura dos olho
  • 1,4% para pegar objetos pequenos ou abrir e fechar recipientes
  • 1,2% para ouvir, mesmo usando aparelhos
  • 1,2% para realizar cuidados pessoais
  • 1,1% de se comunicar, para compreender e ser compreendido

Das pessoas com deficiência no país, 3,4% têm duas ou mais deficiências acumuladas.

Por ser uma pesquisa que usou questionário inédito seguindo a referência internacional, não há dados de outros anos para se comparar.

A influenciadora digital alagoana Vane”ssa Oliveira, 35, tem problemas motores por uma distrofia muscular, acredita que ainda é preciso que o país avance em várias questões para enfrentar o preconceito ainda forte na sociedade.

“Existe uma percepção minha antes e depois que comecei a entender o que era capacitismo. Percebi que os conceitos que acreditava não foram formados por mim, e sim pela sociedade, que é completamente capacitista. Eu não me sinto completamente respeitada. Quanto menos informação as pessoas têm sobre o assunto, mais preconceito eu sofro. Geralmente eu sou mais acolhida em lugares onde as pessoas já me conhecem e tem noção da minha vivência”, Vanessa Oliveira.

Ela chegou a concluir o ensino médio em Maceió, mas não conseguiu chegar a faculdade que queria cursar, de publicidade. “Não fiz tanto pela falta de acessibilidade das universidades, quanto da locomoção”, diz.

“Enquanto as pessoas e os lugares não se adaptarem, o acesso será cada vez mais difícil”, Vanessa Oliveira.

Nordeste lidera

A região com maior proporção de pessoas com deficiência é o Nordeste, onde 10,3% da população tem algum tipo de deficiência. No ranking dos dez estados com mais pessoas com deficiência, os nove nordestinos estão.

Segundo o IBGE, isso se deve às piores condições de vida apresentadas na região. “Isso influencia mais que a idade”.

“A questão da deficiência não tem só a ver com envelhecimento: outros componentes influenciam. Tem a questão do rendimento, da qualidade de vida. Essa região é a que tem histórico maior de analfabetismo, índices de pobreza, por exemplo”, Maira Bonna Lenzi, analista do IBGE.

PCD estados

Falta inclusão no mercado de trabalho

Uma das novidades dessa pesquisa são os dados detalhados sobre o mercado de trabalho.

Segundo a PNAD, o nível de ocupação (14 anos ou mais) é de apenas 26,6% entre as pessoas com deficiência, menos da metade dos 60,7% das pessoas sem deficiência.

No caso, considera-se apenas pessoa sem ocupação, mas integrante da força de trabalho, aquelas que procuraram atividade ou estão aguardando início de um emprego.

Segundo o IBGE, o total de pessoas com deficiência com idade de trabalhar (14 anos ou mais) era de 17,5 milhões de pessoas. Porém, a força de trabalho representava 5,1 milhões.

A desigualdade de gênero também fica clara. Entre homens são 32,7% ocupados, e mulheres, 22,4%.

Ainda segundo a pesquisa, a escolaridade ajuda a aumentar as chances, mas não há garantia de igualdade para aquelas pessoas com deficiência que chegam a concluir curso superior.

“Ou seja, mesmo com as diversas limitações ela conclui o curso superior, mas ele não é suficiente para entrar no mercado de trabalho. Isso é um retrato muito grande da realidade brasileira, é uma disparidade muito grande, são 30 pontos percentuais”, Maira Bonna Lenzi.

Além de menor ocupação, a taxa de informalidade das pessoas ocupadas com deficiência é maior, e mais da metade delas ocupa trabalho não formal: 55% das pessoas com deficiência que trabalhavam estavam na informalidade, enquanto para as pessoas ocupadas sem deficiência esse percentual foi de 38,7%.

Um detalhe importante é como eles têm relevância na renda de famílias: 12% das pessoas responsáveis pelos domicílios no país têm alguma deficiência.

“No rendimento a gente vai reproduzir as mesmas desigualdades do mercado em geral, acentuado pela questão de deficiência: homens com rendimento superior ao de mulheres; homens com deficiência superior ao de mulheres com deficiência, só que a distância vai aumentando”, Luciana Alves dos Santos.

Raça ainda pesa mais que deficiência

Um dado que chamou a atenção da equipe é que apenas no recorte de rendimento as pessoas com deficiência conseguem ter um dado maior que uma pessoa sem deficiência quando há recorte de raça.

Uma pessoa com deficiência branca recebe, em média, R$ 2.358 por mês, enquanto um preto sem deficiência tem rendimento mensal de R$ 2.051; e um pardo, de R$ 2.065.

“A cor prevalece mais que a deficiência; o fato de a pessoa ser branca garante um rendimento maior do trabalho principal superior ao de pessoas sem deficiência de pessoas de cor preta ou parda” , Maira Bonna Lenzi.

Educação também deixa de fora

A taxa de analfabetismo é bem maior entre pessoas com deficiência do que entre pessoas sem deficiência. Enquanto a média nacional é 4,1% de analfabetos com 15 anos ou mais, entre as pessoas com deficiência esse percentual chega a 19,5%.

“As novas gerações estão tendo mais acesso [ao estudo], mas a diferença entre os dois grupos [com e sem deficiência] continua quando mudamos as faixas”, diz Luciana Alves dos Santos.

Também é possível ver um retrato na dificuldade de acesso de pessoas com deficiência na escola no tempo correto.

Fonte: Coluna Carlos Madeiro/UOL

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