Quando a violência invade creches e escolas, o Brasil precisa se tratar
Ainda tentando entender as causas do ataque feito por um aluno de 13 anos à escola em que estudava, em São Paulo, causando a morte de uma professora a facadas, o Brasil se choca com mais um caso absurdo de violência. Hoje, na cidade de Blumenau (SC), um homem entrou armado de machadinha em uma creche, matou quatro crianças e feriu outras três.
Por mais bizarro que possa parecer, modalidade tão brutal de violência não é inédita. Há dois anos, no município de Saudades, também em Santa Catarina, um homem armado de facão invadiu uma creche, matou três crianças e duas professoras. Antes, há cinco anos, oito crianças e uma professora morreram na cidade mineira de Janaúba quando um homem colocou fogo em uma creche.
Não é possível normalizar acontecimentos tão estarrecedores. O Brasil não pode se tornar uma terra em que meninos e meninas estão inseguros mesmo no local dedicado a educá-las.
Além da psicopatia de assassinos que se sentem desajustados na sociedade, os agentes do Estado muitas vezes são os responsáveis por fazer a violência transpor os portões da escola.
Nessa especialidade, a Polícia Militar do Rio tem muitos casos para contar. Entre eles o da estudante Maria Eduarda da Conceição, de 13 anos, que estava na escola municipal na comunidade de Acari, quando, no dia 30 de março de 2017, foi morta por tiros disparados em uma ação de policiais contra traficantes locais.
Hoje, no Complexo da Maré, um Ciep – escola idealizada por Leonel Brizola e Darcy Ribeiro para viabilizar a educação em tempo integral – serviu de cenário para o confronto entre traficantes e policiais, com direito a explosão de bombas no local.
O fato de crimes e ações tão chocante estarem ocorrendo com tanta frequência nesses espaços que deveriam ser especiais pode servir de termômetro para medir a epidemia de violência que acomete o Brasil.
A patologia é tão grave que alguns políticos bolsonaristas propõem solucionar a barbárie lançando mão de ainda mais barbárie: sugerem armar os professores e colocar funcionários armados nas escolas.
Aliás, o bolsonarismo é, sem dúvida, um dos fatores que potencializaram esse clima de violência no país, com seu discurso de ódio. Mas seria simplificar muito a questão atribuir exclusivamente a Jair Bolsonaro tamanha culpa, como querem alguns.
A selvageria está disseminada nas redes sociais, na deep web, nos games, em boa parte dos filmes, nos esportes, nas religiões, por toda a parte. A violência tornou-se uma sintaxe usada por muitos grupos sociais – legais ou ilegais – para marcar sua presença na sociedade.
Já estamos metidos nesse tipo de distopia há muito tempo, mas quando crianças de creches e escolas passam a ser vítimas frequentes de um crime tão cruel como o de hoje, o país precisa parar e se debruçar sobre a questão.
Buscar com a ajuda de estudiosos do assunto e autoridades governamentais uma solução racional, e não aquelas gritadas pelos personagens da extrema direita na tribuna do Congresso, é uma tarefa urgente.
Pelo bem de nossos meninos e meninas, o Brasil precisa se tratar dessa doença.
Fonte: Coluna do Chico Alves no UOL