Resgate de trabalho análogo à escravidão tem ápice em 12 anos, 135 anos após Lei Áurea
O Disque 100 recebeu 1.228 casos de violações aos direitos humanos caracterizadas como trabalho análogo ao de escravo de janeiro a maio deste ano. O número representa aumento de 54% em relação ao mesmo período de 2022, que somou 796 registros.
O Disque 100 recebe ligações gratuitas e anônimas de qualquer local no Brasil, com funcionamento 24 horas. Além do telefone, meio pelo qual 90% das denúncias são feitas (chamadas de 7 minutos de duração em média), o canal acolhe demandas pelo WhatsApp (61) 99611-0100, webchat do portal, e-mail, aplicativo, e de forma presencial, nas ouvidorias locais.
“Geralmente, quando a pessoa liga no Disque 100, muitas portas já se fecharam. Então, a tendência é que já ligue em um estado de desespero. Nós temos que ter um preparo diferenciado”, diz o coordenador-geral da Ouvidoria Nacional, Sidnei Costa, 41.
Somando 2022 e o período entre janeiro e maio deste ano, os crimes foram revelados por meio de 320.289 denúncias feitas pelos canais oferecidos. Apenas por telefone, a média diária ao longo dos quatro meses e meio foi de 6.139 ligações.
Uma vez que o relato é recebido, o procedimento do canal é buscar o órgão adequado para fazer uma ação de fiscalização ou de busca no local, a depender do contexto da denúncia.
O serviço trabalha integrado ao Ministério do Trabalho, à Polícia Federal e às secretarias estaduais.
O Disque 100 terceiriza os atendimentos com a empresa BrBPO, o que traz desafios, segundo Costa, por se tratar de um trabalho que exige contato humano.
Os funcionários que fazem os atendimentos passam por uma capacitação com profissionais especializados.
“Treinamento continuado é uma coisa indissociável de um serviço como esse”, diz o coordenador. Em seminários e oficinas ofertados, os atendentes recebem orientações sobre legislação, abordagem nos telefonemas e script, entre outras instruções específicas, segundo Costa.
Para além do suporte teórico, as equipes do Disque 100 precisam de aparato psicológico. Episódios de crises de choro, necessidades de pausa durante atendimentos e ligações com teor de importunação sexual fazem parte da rotina de atendentes.
“É muito temerário você colocar pessoas para trabalhar sem pensar na situação de direitos humanos dessas pessoas em relação ao trabalho”, diz Costa. Os funcionários recebem, além de treinamento e educação continuada, atendimento psicológico coletivo.
Fonte: Mais Goias