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Trabalheira: Como a Inteligência Artificial reforça preconceitos no RH?

Muito antes de o ChatGPT virar mania e ganhar manchetes, a Inteligência Artificial (IA) já vinha ganhando cada vez mais espaço nos departamentos de Recursos Humanos (RH) das empresas mundo afora.

Esse é o tema do quarto episódio da nova temporada do podcast Trabalheira, disponível no arquivo acima.

Dentre as diversas ferramentas de IA, destacam-se as plataformas chamadas de ATS — sigla em inglês para Applicant Tracking System. Numa tradução livre, seria algo como Sistema de Rastreamento de Candidatos.

Basicamente, as plataformas de ATS funcionam como uma espécie de “marketplace de emprego” , conectando empresas que oferecem e pessoas que procuram trabalho.

Mas, na prática, elas vão muito além dessa mera intermediação, organizando todo o processo de recrutamento e seleção de candidatos.

Isso quer dizer que esses sistemas automatizados são capazes não só de fazer anúncios, mas principalmente de analisar currículos e, principalmente, ranquear os perfis mais indicados para a vaga disponível.

Produzido pelo Repórter Brasil e distribuído pelo UOL, o programa discute a relação entre mercado de trabalho e tecnologias digitais. Em sua primeira temporada, o podcast foi eleito um dos destaques do ano pelo Spotify no Brasil.

Facilidade e eficiência

O principal diferencial das plataformas de ATS é a capacidade de compilar e interpretar grandes volumes de dados, agilizando o processo de seleção de novos funcionários.

“Quando eu olho para o processo de recrutamento, se eu estiver cuidando de 1.500 vagas sem o ATS, ele tem que ficar fazendo filtros e combinações diversas”, explica Ana Navarro, gerente sênior da consultoria Accenture Brasil e especialista na área de RH.

“Imagina o trabalho que eu tenho para um recrutador para conseguir chegar ao melhor ranking dos cinco melhores candidatos para mandar para um gerente entrevistar. Então, eu tenho uma automação muito grande para a área de recrutamento que me deixa ficar mais focada nas entrevistas que eu preciso fazer”, complementa (ouça a entrevista a partir de 06:23).

Vieses e preconceitos

A questão é que, como toda inteligência artificial, as plataformas de ATS não são infalíveis. Muito comumente, elas acabam replicando preconceitos e vieses bastante questionáveis.

Um estudo internacional realizado pela Universidade de Harvard em parceria com a Accenture, intitulado “Hidden workers: untapped talent” (Trabalhadores invisibilizados: talentos não aproveitados), traz um exemplo bastante ilustrativo de como isso acontece na prática.

Sistemas de ATS avaliados pelos pesquisadores excluíam automaticamente do processo seletivo qualquer pessoa que estivesse há pelo menos um semestre sem trabalhar, sem levar em consideração o motivo dessa pausa.

Em outras palavras, por mais qualificado que um candidato fosse para uma vaga, ele sequer teria seu currículo analisado por causa desse parâmetro estipulado pelo algoritmo.

Pesquisador do DigiLabour, laboratório da Unisinos (RS) que estuda as intersecções entre trabalho e tecnologias digitais, Fabricio Barili levantou queixas de candidatos que se inscreveram para vagas de emprego por meio de plataformas de ATS.

“São dois pontos: primeiro que [os questionários de seleção] são longos, exaustivos e repetitivos. Segundo: alguns candidatos acham que não tem uma lógica — perguntas muito abertas ou perguntas que não tenham a ver com o que tu vai trabalhar”, resume (ouça a entrevista a partir de 09:30).

O podcast A nova temporada do “Trabalheira” conta com cinco episódios, publicados sempre às quintas-feiras, neste espaço.

O programa é roteirizado e apresentado por este colunista, em parceria com a jornalista Ana Aranha, da Repórter Brasil.

Fonte: Coluna Carlos Juliano Barros no UOL

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