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Um em cada cinco infectados ignora ter HIV

No Dia Mundial de Luta contra a doença, governo divulga balanço: 734 mil são soropositivos no país

O Brasil tem cerca de 734 mil pessoas com HIV, mas, delas, 145 mil (ou uma em cada cinco) não sabem que são soropositivas. Entre as que sabem, 191 mil não se tratam. Hoje, há 589 mil pessoas diagnosticadas com o vírus causador da Aids, das quais 398,5 mil estão em tratamento, um crescimento de 12,4% em relação às 354,5 mil pessoas do ano passado. Ao todo, o país teve 39.501 novos casos e 12.431 mil mortes em decorrência da Aids em 2013.
AP Teste rápido. No Brasil, houve 39 mil novos casos no ano passado, diz o boletim

Os números fazem parte do Boletim Epidemiológico HIV-Aids 2014 e foram divulgados ontem pelo Ministério da Saúde, em razão das celebrações do Dia Mundial de Luta contra a Aids. A pasta informou que pretende cumprir até 2020 a meta do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) e da Organização Mundial da Saúde, chamada de 90-90-90. Ou seja: testar 90% da população; tratar 90% dos que tiverem resultado positivo para o HIV; e fazer com que 90% das pessoas em tratamento apresentem carga viral indetectável. Para alcançar as metas, o ministério estima que precisa diagnosticar mais 72 mil pessoas com HIV, tratar mais 197 mil e fazer com que outras 206 mil tenham a carga viral suprimida. Atualmente, 331 mil pessoas em tratamento têm carga indetectável.

— São dois desafios: trabalhar com esses quase 150 mil que têm HIV e não sabem e, portanto, precisam fazer o teste. E, ao mesmo tempo, trazer para tratamento os quase 200 mil que são HIV positivo, já sabem e ainda não começaram o novo esquema de tratamento — disse o ministro da Saúde, Arthur Chioro, referindo-se à diretriz que prega o uso de medicamentos imediatamente após o diagnóstico.

O Brasil apresentou uma taxa de detecção de 20,4 novos casos para cada 100 mil habitantes em 2013, índice que, segundo o Ministério da Saúde, se estabilizou ao longo dos últimos anos. Isso deu 39.501 novos casos diagnosticados no ano passado, dos quais 15.243 foram no Sudeste; 8.625, no Nordeste; 8.451, no Sul; 4.260, no Norte; e 2.922, no Centro-Oeste. O estado com maior taxa de detecção em 2013 foi o Rio Grande do Sul: 41,3 por 100 mil habitantes, seguido por Amazonas (37,4), Santa Catarina (32,2) e Rio de Janeiro (27,6).

O Ministério da Saúde informou também que o coeficiente de mortalidade por Aids caiu nos últimos dez anos. Eram 6,1 mortes para 100 mil habitantes em 2004, número que diminuiu para 5,7, em 2013. Alguns estados puxaram o índice para cima, como Rio Grande do Sul (11,2 óbitos por 100 mil habitantes), Rio de Janeiro (9,1) e Amazonas (8,7). Na outra ponta estão Rio Grande do Norte (3,3) e Paraíba, Sergipe e Minas Gerais (3,5 cada). Estados com pequena população, como Amapá, Roraima e Acre, não foram considerados.

O Ministério da Saúde começou a avaliar os motivos para Rio Grande do Sul e Amazonas terem índices tão altos. Foi observado, por exemplo, que no Rio Grande do Sul muitas pessoas abandonavam o tratamento. Com base nisso, foram montados planos de reorganização da rede. No ano que vem, o estudo será estendido para Santa Catarina e Rio de Janeiro.

PORTO ALEGRE É A MAIS AFETADA
Apesar de uma leve redução no índice de mortalidade, Porto Alegre voltou a liderar o ranking de doentes e de mortes por Aids em todo o país. A capital gaúcha registrou 96,2 casos novos da doença e 28,2 óbitos para cada 100 mil habitantes. Em números absolutos, foram registrados na cidade 1.340 novos casos da doença entre 2012 e 2013. O secretário municipal de Saúde, Carlos Casartelli, atribuiu os índices negativos à proliferação de doentes na região metropolitana, que em geral acabam sendo tratados na capital.

Com os números, a ONU passou a considerar Porto Alegre “área crítica”. Segundo Casartelli, a detecção em crianças menores de cinco anos, um dos indicadores usados para medir a eficiência dos programas públicos de controle, caiu de 21,5 para 7,6 para cada 100 mil habitantes entre 2012 e 2013. Além disso, de acordo com o secretário, a mortalidade — ainda que seja quatro vezes superior à média nacional — caiu de 29,7 em 2012 para 28,2 em 2013.

O coordenador da área de DST/Aids da prefeitura, Gérson Winkler, disse que a epidemia em Porto Alegre se “heterossexualizou” muito mais rapidamente que no resto do Brasil, o que pode justificar os índices alarmantes.

— É um padrão muito diferente do país, o que exige um olhar diferente. É preciso uma estratégia nova de enfrentamento, com destaque para as populações vulneráveis e uma participação multidisciplinar — afirmou.

Para o Ministério da Saúde, a Aids vive “epidemia concentrada”. Enquanto 0,4% da população brasileira tem HIV, o núme-

MIL
Estudantes indianos formam a fita símbolo da luta contra a doença ontem: no Brasil, jovens estão mais vulneráveis É o número de diagnosticados. Deles, 398,5 mil estão em tratamento.

NOVOS CASOS POR 100 MIL HABITANTES
Foi a média no país em 2013. RS lidera: 41,3. RJ, em 3º, teve 27,6.

MORTES POR 100 MIL
Foi a média nacional em 2013, contra 6,1 em 2004. RS teve 11,2; e o RJ, 9,1. ro sobe para 10,5% entre os gays e homens que fazem sexo com homens. Foi justamente entre os gays jovens de 15 a 24 anos que houve o maior crescimento proporcional de novos casos. Além disso, a maioria das mortes ocorridas no Brasil até 2013 se deu entre os homens: 198.534, ou 71,3% do total. Outros grupos mais vulneráveis são os usuários de drogas (5,9% têm HIV), de crack (5%), e transexuais (4,9%).

EM SP, 33,7% MAIS CASOS ENTRE JOVENS
Os números em São Paulo corroboram esse quadro. Os casos entre jovens de 15 e 24 anos cresceram 33,7% entre 2007 e 2012 no estado, segundo o Boletim Epidemiológico do Centro de Referência e Treinamento (CRT) DST/Aids. Entre jovens de sexo masculino que buscaram ajuda no sistema de saúde por causa de efeitos do vírus, o crescimento foi de 76,9%. Entre as mulheres, houve decréscimo de 25%.

Segundo a infectologista Denise Lotufo, gerente de assistência do CRT, a epidemia sempre foi concentrada em grupos mais vulneráveis. Atualmente, ela considera “assustador” o crescimento da doença entre jovens gays do sexo masculino.

— Depois de 30 anos de epidemia, é muito triste ver jovens de 20 anos ou menos doentes — diz a médica.

Na população paulista em geral, entre 2007 e 2012 houve queda de 4,5% no número de casos. O único grupo que registrou aumento nesse mesmo período é o de jovens do sexo masculino.

Fonte: O Globo

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