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Big techs em crise: por que demissões devem continuar em 2023

As big techs estão em crise. A onda de demissões em massa oficializadas nas últimas semanas demonstra um processo intenso de ajustes de contas. Até a última sexta-feira (9), calcula-se que mais de 90 mil trabalhadores do setor tenha sido mandados embora em 2022 só nos Estados Unidos.

A Meta já demitiu 11 mil funcionários — incluindo no Brasil. No Twitter foram 3,7 mil pessoas (50% da sua força de trabalho). Microsoft, Netflix, Snap (dona do app Snapchat) e Amazon também estão nessa lista de crise.

Para especialistas ouvidos por Tilt, desligamentos nas big techs são impulsionados por motivos diferentes, mas correlatos, que passam por crise econômica global — potencializada pela pandemia de covid-19 — e queda de investimentos.

O cenário

Twitter. Vem perdendo dinheiro há anos (chegou a perder US$ 4 milhões por dia) e ainda não soube como ter um modelo de negócio sustentável. A situação se agravou após a compra da empresa por Elon Musk.

Meta. Contratou pessoas para o desenvolvimento do metaverso, mas não conseguiu convencer os investidores ainda. Em 2022, as ações do grupo também caíram mais de 70% diante da queda de usuários (que têm migrado para o TikTok).

Amazon. Fez volumosos investimentos contratando mais de 200 mil pessoas durante a pandemia, chegando a 1,5 milhão de funcionários em 2022. Mas desde então, a margem de lucros passou a cair pela metade a cada trimestre.

Previsões para 2023

  • Amazon prevê corte de 10 mil funcionários (cerca de 3% da empresa) em 2023.
  • Google prevê cortes de pessoal mas no especificou quantitativo.
  • Congelamento de investimentos em pessoal na Apple – única com resultados positivos em 2022 e que fechou o ano passado com 154 mil funcionários.

Não dá mais para “queimar dinheiro”

O trabalho das big techs passa por ideias inovadoras e ditas disruptivas. E isso custa dinheiro, é preciso grande capital para tornar projetos, serviços e/ou produtos viáveis. Diante da crise econômica e altas taxas de juros, fundos de venture capital (capital de risco) suspenderam aplicações em negócios com riscos elevados e desaceleraram os investimentos.

“Como a economia global está passando por um período de recessão – guerra entre Rússia e Ucrânia, alta inflação nos países desenvolvidos e crise energética – os investidores estão receosos em aplicar capital nos projetos onde não se tem certeza de retorno rápido”, explica o professor Angelo Zanini, coordenador de Ciência da Computação do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT).

Quando esses fundos diminuem seu apetite por indústrias que “queimam muito dinheiro”, elas precisam encontrar outra forma de se sustentarem sozinhas. O corte de funcionários foi o caminho encontrado para esse processo, já que a folha de pagamento representa a principal linha de despesas das big techs, segundo ele.

Apple e Google não possuem registros de demissões em massa, mas as áreas de games e desenvolvimento de software foram descontinuadas. Isso mostra um novo cálculo de rota, completa Junior Borneli, diretor-executivo da StartSe e especialista em transformação digital em organizações empresariais.

Para o conselheiro da Federação das Empresas de TI, Gerino Xavier, as demissões vistas são também uma resposta do mercado, que não conseguiu atender à velocidade em pesquisa e tecnologia das big techs.

“Há uma disputa entre as gigantes para ver quem consegue chegar primeiro em novas tecnologias. Elas ficaram queimando caixa [dinheiro], até que o mercado deu um freio. Houve problemas de planejamento e gestão”, avalia Xavier.

Com o mercado mais conservador atualmente, as empresas vão precisar de alguma comprovação de que o setor está “apetitoso” por aquele novo produto ou serviço.

“A partir de agora, de tempos em tempos as big techs vão precisar olhar para suas folhas de pagamento, seus tamanhos e suas projeções e fazer alguns ajustes se quiserem continuar crescendo”, alerta Zanini.

Máquinas no lugar de humanos

Para diminuir os custos com folha de pagamento, as big techs devem passar a substituir parte de sua força de trabalho humana por máquinas na visão de Junior Borneli, da StartSe. AAmazon, por exemplo, já iniciou a transição em seus sistemas físicos com cerca de 70 mil robôs só nos centros de distribuição.

“O Google deve passar por um processo de low code/no code, em que softwares de inteligência artificial farão o trabalho dos programadores, devido ao alto custo dessa força de trabalho. Ou seja, códigos vão escrever códigos. Já há quem diga que programadores são os datilógrafos do século XXI”, afirma o CEO.

Paralelo a isso, a demanda por tecnologia continuará cada vez maior, diz Borneli, inclusive em áreas tradicionais como medicina.

“Esse setor tem transformado muitas empresas que ainda são analógicas em digitais. É uma necessidade das corporações, uma questão de sobrevivência”, acrescenta Zanini.

É o fim da mão de obra humana? Não

Segundo os especialistas, as demissões devem provocar uma desinflação no custo de mão de obra de algumas funções, como a de programador, por exemplo.

Apesar disso, a demanda por capital humano, com competências e habilidades especializadas, deve continuar em alta, justamente porque as empresas vão precisar se reinventar para se manter na concorrência.

“O setor de tech necessita de pessoas. Acredito que só está havendo uma movimentação de capital humano. Algumas são dispensadas em uma empresa e recolocadas em outras. Não acredito que haja especialistas em certas tecnologias ociosas e sem recolocação em sua área”, avalia Angelo Zanini.

Em países como o Brasil, em que há milhares de vagas abertas, é possível que parte dos demitidos pelas big techs sejam absorvidos, especialmente em nível sênior.

“Muda também a performance do profissional no mercado, que deverá ser mais pragmático, com capacidade de entrega em curto prazo para gerar receita rápido em um momento em que a economia gera pontos de atenção”, pontua Zanini.

Fonte: Tilt/UOL

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