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Brasileiro vê racismo na polícia, Justiça e país, mas não se acha racista

Levantamento realizado pelo instituto de pesquisa Ideia, com exclusividade para o UOL, mostra que 98,5% dos entrevistados admitem que existe racismo no Brasil —81,6% consideram que há “muito racismo” no país.

Mas grande parte das pessoas não reconhece o seu próprio racismo: 85% se consideram “nada racistas”. A questão é que a própria dinâmica das relações raciais —forjada na mais longa e numerosa escravidão do mundo —fez e faz a manutenção do racismo ao longo dos anos.

O instituto entrevistou 1.252 pessoas em todo o país, entre os dias 21 e 25 de janeiro. E indicou também que a população associa à polícia e à Justiça as práticas racistas. Mais de 80% dos entrevistados disse acreditar que o tratamento dado por essas instituições à população negra é “injusto”.

Nos últimos dias, o Brasil se viu exposto diante de seu próprio racismo em formas muito violentas:

  • O linchamento público, assassinato e abandono do corpo negro de Moïse Kabagambe, 24, no calçadão da Barra da Tijuca;O homicídio de Durval Teófilo Filho, 38, alvejado pelo vizinho e sargento da Marinha Aurélio Alves Bezerra, que estava armado e o considerou suspeito;
  • e A prisão injusta do jovem Yago Corrêa, 21, morador do Jacarezinho, no Rio, ao ir à padaria para comprar pão de alho e ser detido como traficante.

A brutalidade expressa nesses três casos tem nome: é o racismo que nos estrutura e está naturalizado e institucionalizado.

Foi isso que permitiu que Moïse fosse espancado até a morte sem que ninguém tentasse interromper as pauladas. Foi isso também que fez com que seu corpo tombado ficasse abandonado por horas. Foi sobre esse arranjo racista que Durval foi baleado e que Yago foi preso.

Para enfrentar o racismo, é preciso mover as bases do que somos enquanto nação.

É necessário renovar as políticas dirigidas a combater a violência racial, cometida por civis, por agentes de segurança pública e/ou pelo sistema de Justiça.

É fundamental garantir que as escolas incluam a nossa história afro-brasileira e seu legado nos currículos, cumprindo a lei 10.639.

É preciso dar continuidade às políticas afirmativas para ingresso no Ensino Superior, que possibilitam a diminuição da desigualdade racial e a mobilidade social.

É fundamental que a população negra brasileira ocupe os espaços de poder e de tomada de decisão;

É urgente que se dê atenção às condições de saúde da população negra brasileira;

É urgente a mudança de comportamento no sentido de nunca tolerar atos racistas, de incorporar condutas antirracistas no dia a dia, além de vigiar as próprias atitudes racistas presentes —inevitavelmente— em cada um de nós.

O racismo se molda a cada momento histórico.É preciso estar atento.

Nestes quatro anos de governo Bolsonaro, o enfrentamento ao racismo foi deixado de lado pelo Planalto. A gestão de Jair fez questão de colocar à frente da Fundação Palmares (instituição destinada a retirar a invisibilidade dos negros como parte da formação da identidade brasileira) Sergio Camargo, um negro cujo trabalho diário é negar a existência do racismo, é tripudiar sobre o movimento negro, buscando apagar essa parte de quem somos nós. Um imenso retrocesso.

Ainda assim, há boas notícias: também nestes anos, o movimento negro se fortaleceu, nasceu a Coalizão Negra por Direitos, instituição consistente, resistente, representativa, atuante e forte, que ajudou a sustentar a nossa fragilizada democracia. E a outra boa notícia é que nas próximas eleições, em outubro, teremos muito mais candidaturas negras.

É importante que os partidos políticos invistam nas candidaturas negras com equidade racial: 98,7% das pessoas entrevistadas pelo Instituto Ideia afirmam que votariam em candidatos negros em 2022. A democracia brasileira demanda.

Fonte: Maria Carolina Trevisan Colunista do UOL

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