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Juíza alerta sobre respeito à mulher e advogado rebate: ‘Mundo está chato’

Um advogado foi repreendido por uma juíza, que teria percebido nos gestos e entonação do profissional uma certa agressividade e desrespeito às mulheres. Após a advertência durante uma audiência na 4ª Vara do Trabalho de Goiânia, o homem rebateu a colocação dizendo que o “mundo está muito chato”.

Em relatório obtido pelo UOL, a magistrada Jeovana Cunha de Faria, apontou um comportamento “aparentemente misógino” [de ódio às mulheres] no Tribunal, com “tom de voz alterado e as gesticulações excessivas e agressivas”, no dia 5 de julho — e registrou todo o ato e resposta em ata oficial.

De acordo com a advogada Lara Nogueira, que estava representando a outra parte na audiência, a situação começou após ela pedir para ouvir uma testemunha que ele tinha levado. “Ele se opôs. Disse que [a testemunha] era dele. Eu então afirmei que só a juíza poderia responder. Nesse momento ele começou a mexer no celular e pedi para que ele não fizesse isso”, contou ela ao UOL.

Após o pedido, o advogado se exaltou, segundo Lara. “A juíza chamou atenção dele, pediu para ele mexer no celular apenas se fosse essencial. Então, ele começou a gesticular, falar alto.”

No relatório, a magistrada afirma que ele “alterou o tom de voz, começou a gesticular de forma agressiva e passou a se dirigir à sua colega pelo nome, sem a aposição da palavra doutora, e afirmou que ela estava insinuando que ele estava fazendo algo de errado enquanto mexia no celular.”

A juíza interveio, pontuando que a advogada estava apenas cumprindo seu papel e falando com educação. “Quando alertado por esta Magistrada acerca do conteúdo aparentemente misógino de seu comportamento, afirmou: ‘o mundo está muito chato mesmo'”, relatou juíza em documento.

“Foi uma maneira realmente agressiva de se portar. Nós duas estávamos falando baixo com ele, que tentava se impor a todo momento”, relembra a advogada Lara.

Na ata da audiência, a magistrada classificou que a afirmação do advogado “reverbera o desrespeito que graça na sociedade em relação às mulheres e ao direito das minorias”, citando ainda uma reflexão da também advogada Gabriela Prioli:

“É mimimi reclamar de racismo estrutural num país em que os negros estão sobrer-representados entre os que vivem abaixo da linha da pobreza, os jovens negros são as vítimas preferenciais da polícia e, no ano passado, as mulheres negras receberam 44,4% do salário dos homens brancos. Aliás, é mimimi discorrer sobre dados de violência contra a mulher no Brasil”, diz trecho escolhido pela magistrada.

Jeovana também determinou que “comportamentos congêneres não serão tolerados por este juízo” e que seriam “tomadas todas as providências legais cabíveis à espécie.”

A audiência seguiu e, ao final, o advogado pediu desculpas para Lara e Jeovana, que considerou suficiente a advertência realizada por ela na audiência.

Lara conta que, depois do episódio, não conversou novamente com o advogado. Hà 7 anos atuando como advogada, ela diz que, depois do ocorrido, começou a refletir sobre outras situações semelhantes. “A gente abre o olho para o que passamos por todos os dias. Não é apenas com colegas advogados, mas também com clientes.”

Ela diz que, recentemente, percebeu um assédio de um cliente por mensagem de texto. “Eu nunca vi ele na vida e ele começou a me escrever dizendo que estava com saudades, me chamando de ‘meu bem’. Eu sequer converso com a pessoa”, relata.

Para ela, o fato de ser mulher interfere no tratamento que recebe profissionalmente. “Penso que é porque é uma sociedade que nos vê de forma mais inferior ainda. Espero que ao menos essa situação sirva para que a gente perceba que não podemos tolerar isso mesmo”, finaliza.

O UOL tentou contato por ligação telefônica com o advogado mencionado, mas não teve as ligações atendidas. A reportagem também entrou em contato por mensagem de texto com o escritório que ele representa, mas, até o momento, não obteve resposta. O profissional não foi localizado nas redes sociais. O espaço segue aberto para eventuais manifestações de sua defesa.

Fonte: Universa/UOL

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