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60% das pessoas com deficiência nunca foram promovidas, aponta estudo

Imagem de banco mostra homem de negócios em cadeira de rodas

Histórias de empresas que desejam aumentar a inclusão de pessoas com deficiência em seus quadros, mas ainda dão preferência por contratar as pessoas com deficiências não visíveis ou “mais leves”, infelizmente não são histórias raras e só aumentam a exclusão dos profissionais com deficiência que, por uma oportunidade de crescimento profissional, escondem e até negam suas deficiências.

Vivemos em um cenário onde muitos profissionais com deficiência se veem diante de um dilema: revelar suas deficiências e enfrentar a possibilidade de discriminação ou ocultá-las em busca de oportunidades de carreira. Esse impasse é mais do que apenas uma dificuldade; é uma forma de opressão, um capacitismo que limita a jornada da pessoa com deficiência que aspira a se desenvolver profissionalmente.

Em nossa busca pela verdadeira inclusão, encontramos histórias de pessoas com deficiência que, infelizmente, sentiram a necessidade de esconder suas deficiências para alcançar o sucesso em suas carreiras. Elas compartilham que, ao se auto declararem pessoas com deficiência, são categoricamente desencorajadas de buscar cargos de liderança e gestão.

Um estudo recente, intitulado “Pessoas com Deficiência e Empregabilidade,” liderado pela consultoria Noz Inteligência em parceria com a Talento Incluir, revelou que 60% das pessoas com deficiência entrevistadas nunca foram promovidas. Além disso, 45% dessas pessoas permanecem no mesmo cargo e na mesma empresa por mais de uma década.

Esses dados evidenciam que, até o momento, a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho tem se limitado à contratação, sem oferecer oportunidades iguais para o crescimento de suas carreiras. Infelizmente, a equidade ainda não é uma realidade após a diversidade entrar na empresa.

O Brasil contabiliza cerca de 18,6 milhões de pessoas com deficiência, correspondendo a 8,9% da população, de acordo com dados do IBGE. No entanto, esses números divergem significativamente das estatísticas globais que indicam uma taxa de 15% (um bilhão de pessoas com deficiência).

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) revela que 26,6% dos brasileiros com deficiência estão no mercado de trabalho, com 55,5% deles no trabalho informal. Segundo a Relação Anual das Informações Sociais (RAIS) de 2021, 9 milhões de pessoas com deficiência estão aptas para o trabalho, mas apenas 521 mil possuem empregos com carteira assinada.

A qualidade da inclusão também se apresenta como uma barreira para as pessoas com deficiência. Quando são contratadas, muitas vezes ficam estagnadas em suas funções por anos, sem as mesmas oportunidades de desenvolvimento de carreira oferecidas aos demais profissionais. Um levantamento da Talento Incluir demonstra que cargos de liderança nas empresas estão muito distantes de serem alcançados
pelas pessoas com deficiência.

Entre as empresas que abriram vagas específicas para profissionais com deficiência por meio da Talento Incluir, menos de 0,5% ofereciam oportunidades de liderança, e apenas 0,3 dessas vagas tinham salários acima de R$ 8.900,00.

O ato de não se autodeclarar é, mais uma vez, perpetuar a falta de acesso. É ceder às pressões que nos impedem de sermos autênticos. É fazer concessões para evitar revelar nossas deficiências, esconder aparelhos auditivos para passar despercebido ou depender da ajuda dos colegas para contornar a falta de acessibilidade. É encobrir a realidade em vez de enfrentá-la.

Ao contrário de outros marcadores sociais, o orgulho de ser uma pessoa com deficiência pode ser uma conquista desafiadora mas é essencial. Esse orgulho se constrói por meio de nossas experiências e jornadas, que nos elevam além das limitações impostas pelo capacitismo.

As empresas genuinamente comprometidas em aumentar a diversidade entre seus trabalhadores devem encorajar a autodeclaração. Elas precisam garantir que a revelação de deficiências não seja um obstáculo ao desenvolvimento profissional e à busca por cargos de liderança. Devemos criar um ambiente seguro no qual as características das deficiências não precisem ser escondidas ou minimizadas.

A autodeclaração é uma libertação. É uma afirmação positiva que as pessoas com deficiência devem fazer para reforçar seu orgulho e, ao mesmo tempo, superar o capacitismo que tenta nos diminuir. É um passo crucial para alcançar nossos objetivos de vida e sermos verdadeiramente nós mesmos.

*Katya Hemelrijk é formada em Administração de Empresas, tem especialização em Neurociência do Consumo e é certificada como Coach Internacional pelo ICC. É uma mulher com deficiência, que nasceu com a Osteogênese Imperfeita. Em sua trajetória profissional traz uma bagagem corporativa e de empreendedorismo de mais de 20 anos, sendo 12 deles como líder de comunicação na Natura. CEO da Talento Incluir Consultoria.

Fonte: Ecoa/UOL