(imagem asmuSe – pixabay license)

*Por Regis Mesquita

O que faz o ser humano se sentir satisfeito e em paz ao observar um pôr do sol? Porque uma pessoa sente paz ao estar junto à natureza?

Alguns pesquisadores resolveram entender o que acontece no cérebro das pessoas para terem estas sensações. Eles planejaram uma pesquisa na qual as pessoas ficaram alguns dias na natureza SEM quaisquer equipamentos de mídia. (1)

A situação atual

Os pesquisadores dão os números dos EUA (não encontrei dados equivalentes do Brasil).

“O ambiente moderno experimentado pela maioria das pessoas que vivem em ambientes urbanos ou suburbanos pode ser caracterizado por uma diminuição dramática em nossa exposição a ambientes naturais e um aumento correlato na exposição a um ambiente de intensa tecnologia. Os dados sugerem que as crianças hoje gastam apenas 15 a 25 minutos por dia em brincadeiras ao ar livre e esportes e esse número continua a diminuir. Houve um declínio de 20% nas visitas per capita aos parques nacionais desde 1988, e um declínio de 18 a 25% na recreação baseada na natureza desde 1981. Simultaneamente, oitenta por cento das crianças do jardim de infância são usuários de computadores (USDE, 2005) e a média de 8–18 anos agora passa mais de sete horas e meia por dia usando um ou mais tipos de mídia (TV, celulares, computadores), enquanto os adultos provavelmente gastam mais tempo envolvidos com diferentes formas de tecnologia de mídia.”

O cérebro e a atenção passam “por esgotamento”

Cada dia é mais comum as pessoas se sentirem exaustas, acordarem cansadas, terem aumento da ansiedade e mais depressão. Este modo de vida literalmente esgota os recursos do cérebro. Por outro lado, atividades ao ar livre ajuda na “recarga” do cérebro.

Os autores do estudo explicam: “teoria da restauração da atenção (ART) sugere que a natureza tem efeitos restaurativos específicos no sistema de atenção executiva mediada pelo córtex pré-frontal, que pode se esgotar com o uso excessivo.

Altos níveis de envolvimento com tecnologia e multitarefas exigem que … mudem entre as tarefas, mantenham os objetivos da tarefa e inibam ações ou cognições irrelevantes.

A ART sugere que as interações com a natureza são particularmente eficazes na reposição de recursos atencionais esgotados. Nossa sociedade moderna está cheia de eventos repentinos (sirenes, buzinas, telefones tocando, alarmes, televisão, etc.) que roubam a atenção.

Em contraste, os ambientes naturais estão associados a um fascínio suave e suave, permitindo que o sistema de atenção do executivo seja reabastecido.

Na verdade, os primeiros estudos descobriram que interagir com a natureza (por exemplo, uma caminhada na selva) levou a melhorias na leitura de provas… Estudos baseados em laboratório também relataram que a visualização de slides da natureza melhorou a atenção sustentada e a supressão de informações que distraem.”

Poluição sonora e a diminuição da inteligência e da atenção em crianças

Outros estudos já mostraram que crianças submetidas à poluição sonora desenvolvem menos a inteligência e possuem maior dificuldade em manter a atenção fixa por longos períodos. A poluição mais impactante é o “ruído branco” a mistura de vários sons que formam um ruído persistente. O desgaste da mente submetida a estes ruídos é enorme.

O aumento do uso da tecnologia está sendo acompanhado pelo costume de estar em ambientes com poluição sonora (mesmo dentro das residências). Fato este que aumenta o stress e contribui para o esgotamento dos recursos do cérebro. (2)

A conclusão do estudo

O estudo constatou que as pessoas que se desconectaram da tecnologia (TV, celular, computador, etc) e ficaram quatro dias na natureza (caminhando) aumentaram a sua capacidade de resolver problemas em 50%. Este aumento de capacidade aconteceu porque áreas que são inibidas quando expostas às ações multimídias podem “despertar” quando na imersão na natureza (para uma explicação mais técnica deixo no fim do texto o link para o artigo).

Na opinião do autor deste artigo, Regis Mesquita, o cérebro é muito diverso e tem a necessidade de múltiplos estímulos. Boa parte destes estímulos possuem a seguinte característica: ativam determinadas áreas do cérebro e inibem outras.

A vida moderna está hiperprivilegiando alguns estímulos. Portanto, estes estímulos estão hiperestimulando determinadas funções e “atrofiando” outras. Cabe à todas as pessoas estarem atentas à esta necessidade e buscar uma vida com mais equilíbrio.

Algumas ações importantes

Silêncio:

Desconectar de tecnologia passou a ser fundamental para manter a plena capacidade da sua mente. O objetivo é preservar a saúde emocional e cognitiva. Nesta desconexão é importante atingir um objetivo específico: silêncio.

Esteja durante algumas horas por dia em ambientes sem barulho. Tenha atividades que não envolvam barulhos (ler, por exemplo).

Jamais durma com a televisão ligada.

Se aproxime da natureza

Busque ambientes mais naturais. O som, o visual e o exercício na natureza possuem ótimos efeitos restauradores para o corpo e a mente.

É importante notar que este efeito é cumulativo: quanto mais você se ACOSTUMA com o ambiente natural, mais preparado você está para relaxar e aproveitar os benefícios.

Aquietação da mente

Grande parte das pessoas não conseguem “desligar” a mente. Ela fica excitada o dia inteiro. Técnicas de aquietação da mente e rotinas de paz interior são muito bem-vindas.

O momento do despertar é muito especial. Aproveite-o para se treinar e atingir a aquietação da mente. (3)

Reforço que a aquietação da mente é um treino que deve ser praticado por toda a vida.

Consumir menos e produzir mais

Consumir é um processo que escraviza a mente aos desejos. O resultado é sempre a busca de excitação e a dificuldade de lidar com a satisfação de longo prazo.

Fazer, realizar, desenvolver são as palavras chaves para a diminuir o ritmo da mente. Exemplo: uma pessoa que toma gosto por tocar violão, aprende a tocar violão, toca violão para si e junto com os amigos, terá mil vezes mais prazer do que aquela pessoa que consumiu (assistiu) centenas de shows.

Desenvolva habilidades que envolvam você fazer, criar, manter e cuidar. Pode ser orquídeas, pode ser dança, etc. Para atingir o objetivo aqui proposto é importante que seja mais do que “consumir algumas aulinhas”. Deve haver um envolvimento real, um desejo de progredir, uma alegria em criar, participar, aprimorar. Em outros termos: tem que virar uma paixão.

Concluindo:

O estudo dos psicólogos americanos Ruth Ann Atchley, David L. Strayer e Paul Atchley reafirmam aquilo que já sabemos na prática: quando estamos em ambientes naturais nosso corpo relaxa, sentimos bem-estar e o stress diminui.

O que ele traz de novo é um alerta: “você está tão acostumado a sofrer que nem percebe que o sofrimento é originado nas suas escolhas de vida”.

Links citados

(1) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3520840/

(2) https://www.psicologiaracional.com.br/2012/11/poluicao-sonora-inteligencia.html

(3) https://caminhonobre.com.br/2014/10/09/a-manha-sagrada-reorganize-se-para-criar-um-espaco-sagrado-de-disciplina-e-satisfacao/

Fonte: Carta Campinas – Por Regis Mesquita, autor do Blog Psicologia Racional e da coluna “Comportamento Humano” aqui no site Carta Campinas.