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Economia brasileira resiste ao pessimismo e ao tarifaço com dados robustos

Mesmo com incertezas externas, PIB avança acima do esperado, mercado de trabalho bate recordes e inflação dá sinais de perda de fôlego

Apesar da pressão do mercado financeiro, das incertezas externas provocadas pelas tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e do cenário de juros elevados, a economia brasileira tem mostrado resiliência em 2025. O desempenho do PIB (Produto Interno Bruto), do mercado de trabalho, da produção agropecuária e do setor de serviços aponta uma trajetória sólida, embora não imune a riscos.

Veja abaixo um panorama analítico dividido entre os principais pontos positivos e os desafios ainda presentes na economia brasileira.

O que vai bem na economia brasileira

● PIB surpreende positivamente e crescimento é revisado para cima

PIB brasileiro cresceu 1,4% no segundo trimestre de 2025, acima das projeções do mercado (+0,9%). A indústria e o setor de serviços puxaram o desempenho. No acumulado de 12 meses, o avanço é de 2,5%, colocando o Brasil entre os países que mais cresceram no G20 (grupo dos 20 países mais ricos do mundo).

Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda revisou a estimativa de crescimento para 2025 de 2,4% para 2,5%. O mercado financeiro, segundo o último Boletim Focus do Banco Central, projeto a alta do PIB em 2,21% este ano.

● Emprego formal e mercado de trabalho batem recordes históricos

taxa de desemprego no segundo trimestre de 2025 chegou a 5,8%, a menor da série iniciada em 2012. Comparada ao primeiro trimestre de 2025, essa taxa caiu em 18 das 27 unidades da federação e ficou estável nas outras nove, segundo divulgação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) feito nesta sexta-feira (15). Pernambuco (10,4%), Bahia (9,1%) e Distrito Federal (8,7%) mostraram as maiores taxas, enquanto as menores foram em Santa Catarina (2,2%), Rondônia (2,3%) e Mato Grosso (2,8%).

O país também gerou 1,22 milhão de empregos formais no primeiro semestre, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), com destaque para mulheres e pessoas inscritas no CadÚnico (Cadastro Único).

● Melhora da renda tira beneficiários do Bolsa Família

O programa Bolsa Família registrou, em julho, a saída de 958 mil famílias, ou cerca de 3,5 milhões de pessoas, em razão do aumento da renda domiciliar. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS), o motivo predominante foi o ingresso em empregos formais ou o crescimento de pequenos negócios, reflexo da recuperação do mercado de trabalho e de políticas de inclusão produtiva.

Com isso, o número de famílias beneficiárias do Bolsa Família caiu de 20,5 milhões em junho para 19,6 milhões em julho — o menor desde a reformulação do programa, em março de 2023.

● Safra recorde impulsiona agro e transportes

A estimativa da safra nacional para 2025 é de 340,5 milhões de toneladas, alta de 16,3% em relação a 2024 — o maior volume da série histórica do IBGE. Isso impulsiona a economia rural e contribui para o dinamismo do transporte de cargas, setor que liderou o crescimento de serviços em junho.

● Real entre as moedas que mais se valorizaram no mundo

Segundo ranking da Austin Rating, o real foi a quarta moeda que mais se valorizou em 2025 frente ao dólar, com alta acumulada de 10,1%, reflexo da política monetária restritiva e melhora na percepção de risco. A valorização ajuda a conter pressões inflacionárias e reduz custos de importações.

● Inflação dá sinais de moderação

Apesar de choques como o encarecimento da energia elétrica, a inflação oficial medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), no acumulado nos últimos 12 meses, está em 5,23%, e a projeção para o ano caiu para 4,9%. A inflação de julho foi de 0,26%, puxada por itens pontuais. O mercado espera queda gradual nos preços, apesar de o índice ainda estar acima do teto da meta (4,5%) definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).

Além disso, dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostram que a queda de 0,69% nos preços dos alimentos consumidos no domicílio foi o principal fator de alívio da inflação de julho, beneficiando especialmente os mais pobres, que gastam mais com alimentação. O movimento ajudou a neutralizar o impacto do reajuste de 3,0% nas tarifas de energia elétrica, que pressionou o grupo habitação.

● Nobel de Economia elogia postura do Brasil diante dos EUA

Os economistas Joseph Stiglitz e Paul Krugman criticaram as tarifas unilaterais impostas por Donald Trump ao Brasil e elogiaram a postura firme do presidente Lula. Ambos destacaram o compromisso do país com o Estado de Direito e defenderam retaliações como resposta à ofensiva norte-americana.

O que ainda preocupa na economia brasileira

● Inadimplência cresce e pressiona famílias

A inadimplência atingiu 76,6 milhões de brasileiros, o maior patamar desde 2016. Houve aumento das dívidas com instituições financeiras e serviços não essenciais. Nos condomínios, a inadimplência subiu para 17% no 1º trimestre, impulsionada pela alta das taxas condominiais.

Programas do governo federal como o Desenrola Brasil e o Consignado CLT foram criados para dar fôlego financeiro a famílias endividadas.

Criado pelo governo federal, o Desenrola Brasil renegociou dívidas com condições facilitadas. Já o Consignado CLT é uma linha de crédito com desconto direto na folha de pagamento para trabalhadores com carteira assinada. Ele oferece juros mais baixos e a possibilidade de substituir dívidas de alto custo por uma dívida mais barata e previsível

● Indústria avança, mas mostra sinais de perda de fôlego

Apesar da alta de 0,1% em junho, a produção industrial ainda não recuperou totalmente o recuo acumulado em abril e maio. O setor está 15,1% abaixo do pico registrado em 2011, e há sinais de arrefecimento no ritmo, com oscilações mensais e pressão dos custos.

Nova Indústria Brasil (NIB) é a política industrial lançada pelo governo federal em janeiro de 2024 com o objetivo de impulsionar o desenvolvimento da indústria nacional até 2033. O programa prevê investimentos de R$300 bilhões até 2026, distribuídos em financiamentos, recursos não reembolsáveis e participações acionárias.

● Juros altos limitam consumo e investimentos

Na última reunião, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central interrompeu o ciclo de alta da taxa Selic, que permanece em 15% ao ano, maior patamar em duas décadas. O Banco Central mantém postura cautelosa diante da inflação persistente e do risco externo trazido pelo “tarifaço” dos EUA. A política de juros altos inibe o crédito, aumenta a dívida pública, e pesa sobre empresas e famílias.

● Tarifas dos EUA criam incertezas no comércio exterior

A taxação de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos EUA, imposta pelo governo Trump, gera preocupação sobre os impactos no comércio e na confiança dos investidores. O BC admite incertezas nos efeitos agregados da medida, enquanto o governo busca uma resposta firme.

Nesta semana, o governo do presidente Lula (PT) anunciou um plano de R$ 30 bilhões para ajudar as empresas atingidas pelo tarifaço.

Apesar disso tudo, a economia brasileira segue surpreendendo positivamente, sustentada por fundamentos sólidos: emprego, agropecuária, serviços e câmbio favorável.

Para o governo, o desafio será manter o ritmo de crescimento com estabilidade, enfrentando choques externos e internos sem perder o rumo.

Fonte: ICL Notícias