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É uma escolha? 42% das mães deixam suas ocupações ao dar à luz

*Por Michelle Levy Terni, CEO da Filhos no Currículo

Ser mulher é ter degraus mais altos a subir em sua autonomia profissional. Como mãe e criadora de um movimento que enfatiza as potencialidades de uma mulher que optou por ser mãe e continuar crescendo em sua carreira, me atrevo a falar que a maternidade é um dos principais degraus a superar.

Por isso, é crucial enfatizar os entraves dessa jornada feminina, e materna, em busca da desconstrução de alguns vieses e da construção de uma isonomia de direitos.

Números desenham a realidade

Vamos aos fatos. O mercado de trabalho hoje expulsa 48% das mulheres com filhos de até 2 anos de idade (FGV). No Brasil, 48% das mulheres chefiam seus lares e são as principais provedoras da família (IBGE 2023). A conta não bate, certo? Para essas mulheres apontadas pelo IBGE, parar de trabalhar não é uma opção.

Diante de políticas parentais restritivas, jornadas de trabalho inflexíveis e falta de segurança psicológica, mulheres que conciliam filhos e carreira se sentem num rafting nível hard em um rio que desemboca num penhasco: a desigualdade salarial.

Você sabia que as mães tendem a ganhar 22,8% a menos que os pais (Pnad)? E que o salário desses homens com filhos continua crescendo independentemente do filho no RG?

Por que precisa ser assim: filhos ou carreira? Que atalho nessa subida disfuncional é preciso criar para que as duas correntezas se encontrem? Resultado: mulheres são arrastadas pela bifurcação da carreira. Das que não foram “saídas” do mercado de trabalho, muitas abandonam ou sentem vontade de abandonar – cerca de 42% deixam suas ocupações ao dar à luz (LSE – London School of Economics and Political Science).

Fora de moda

Os dados refletem uma sociedade que ainda considera o trabalho do cuidado como uma responsabilidade principal das figuras maternas, liberando o pai para atuar exclusivamente na função de provedor. Não tem coisa mais fora de moda do que isso.

Engrossa a lista de homens que nem querem assumir mais um papel secundário na paternidade. Muitos já se queixam da forma como a publicidade retrata os pais como “desastrados” e meros “coadjuvante” nos cuidados com os filhos, segundo o estudo do Google Insights.

“Cadê a mãe da criança?” é o que muitos escutam quando tentam sair do trabalho para acompanhar a criança num compromisso. E as lideranças inconscientemente reforçam os estereótipos quando desautorizam seus funcionários a viver uma paternidade protagonista com esse tipo de comentário.

O primeiro passo para reprogramar as organizações no acolhimento à parentalidade, parte da desconstrução do viés de que filho atrapalha. Pelo contrário, filho potencializa a carreira. Isso porque são novas as habilidades que pais e mães desenvolvem ao criar uma criança. Priorização de tarefas, gestão de crise, empatia e criatividade são algumas das principais desenvolvidas na relação parental. E isso vale para a carreira também, afinal, não temos vidas apartadas.

O segundo passo é a implementação de um ambiente de bem-estar parental nas organizações e revisão de cultura para a inclusão das figuras maternas e capacitações de lideranças para recrutamentos mais inclusivos.

Não estamos falando apenas de vagas “mom-friendly”, com benefícios considerados positivos para mães, a exemplo de flexibilidade de horários e licenças parentais estendidas. Estamos aspirando é uma política, de fato, parental de equidade.

A jornada precisa ser igual para todas as pessoas. Ser mulher, e ser mãe, não nos coloca no mesmo ponto de partida, tampouco nos oferece degraus sólidos. É preciso repararmos cada um ao longo do caminho. Viva cada passo de nossa subida.

*Michelle Levy Terni é CEO da consultoria Filhos no Currículo e conselheira do Instituto Serendipidade. Ela é Top Voice Linkedin 2022 para temas de equidade de gênero e tem como missão reprogramar o mercado de trabalho para que nenhuma pessoa tenha que escolher entre filhos ou carreira, ajudando as organizações a construírem um ambiente de bem-estar parental com seu trabalho.

Fonte: Michelle Levy Terni Colunista de UniversaUniversa/UOL