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Emprego em serviços simples faz ocupação avançar mais forte do que a renda

O desemprego está caindo com mais rapidez do que a atividade econômica está avançando. É o que se pode concluir dos números da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), no trimestre encerrado em agosto, divulgados nesta sexta-feira (30), pelo IBGE. O mesmo fenômeno pode ser visto nos resultados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) de agosto, divulgados nesta quinta-feira (29).

Na Pnad, a taxa de desemprego desceu a 8,9% da força de trabalho, e soma agora 9,7 milhões de trabalhadores. No Caged, o estoque de mão de obra formal no mercado de trabalho subiu para 42,5 milhões de pessoas, pouco menos de 25% do contingente em agosto de 2020, início da nova série histórica do indicador.

A explicação para o vigor do momento observado no mercado de trabalho é a de que as vagas que estão sendo ocupadas se concentram nos segmentos que empregam mão de obra menos qualificada, o setor de serviços. Analisando o Caged, o economista Bruno Imaizumi, especialista da LCA Consultores, uma das maiores e mais influentes do mercado, chama a atenção para o volume de novos postos abertos na área de atividades administrativas.

“São vagas abertas, por exemplo, em limpeza e manutenção de escritórios, assim como para zeladores e porteiros em prédios de escritórios, uma consequência da volta das atividades presenciais”, diz o economista. A indicação é a de que, além do natural impulso trazido pela aceleração da atividade, o mercado está se beneficiando da volta ao padrão de funcionamento anterior à pandemia.

A absorção mais acentuada de mão de obra em ocupações de baixa qualificação também se reflete nos salários pagos. O salário médio de admissão está subindo lentamente e chegou a pouco menos de R$ 2 mil mensais, no Caged de agosto. É um valor ainda 5% abaixo do que era pago em média em fevereiro de 2020, mês anterior à decretação da pandemia. “A recuperação do mercado de trabalho está forte pela ocupação, mas não pela renda”, conclui Imaizumi.

A movimentação mais intensa no mercado de trabalho também tem revelado uma aceleração na rotatividade da mão de obra. “As admissões estão avançando, mas as demissões também estão em alta”, constata o sociologia Clemente Ganz Lucio, até recentemente diretor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) e assessor das centrais sindicais. Parte desse movimento de saída é voluntário e pode ser atribuído ao aquecimento da economia, que promove a abertura de novas vagas mais atraentes para o pessoal já empregado.

No mercado de trabalho em geral, a ocupação concentrada em serviços de menor exigência de qualificação se revela ainda na força do trabalho informal, sem vínculos de emprego. Na Pnad de agosto, o total de empregados sem carteira assinada, que soma 13,2 milhões de trabalhadores, é o maior da série iniciada em 2012. Segundo a pesquisa, no conjunto do mercado de trabalho, perto de 40 milhões são informais, enquanto 36 milhões têm carteira assinada.

Com a redução gradativa da ociosidade na economia, a expectativa é a de que as vagas que estão sendo ocupadas com o retorno das atividades à normalidade caminhe para um esgotamento. Projeções atuais para a taxa de desemprego apontam reversão do atual movimento de queda já no fim do ano, com a possível volta aos dois dígitos ao fim de 2023.

Fonte: Coluna José Paulo Kupfer/UOL

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