Enxurrada de currículos com IA: como desempregados se vingam do RH
A inteligência artificial está chacoalhando o mundo do trabalho. Antes, as empresas recorriam a ferramentas com IA para selecionar candidatos. Agora, o jogo virou, e são os candidatos a uma vaga que recrutam as máquinas para ajudá-los.
Com isso, os recrutadores estão sofrendo com uma enxurrada de currículos elaborados por ChatGPT e companhia. O problema? Documentos genéricos que dizem pouco ou quase nada sobre o profissional ou suas habilidades. Com isso, o processo seletivo se arrasta.
No novo episódio de Deu Tilt, o podcast do UOL para humanos por trás das máquinas, os apresentadores Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes comentam as práticas de desempregados em busca de trabalho que estão colocando o RH para pensar.
“O setor de RH é um dos pioneiros dentro das empresas [no uso da IA], até porque precisa lidar com alguns processos que às vezes são mais fáceis quando tem alguma ferramenta tecnológica”, Helton Simões Gomes.
Antes mesmo do avanço de soluções como o ChatGPT, da OpenAi, ou Gemini, do Google, empresas já atuavam com plataformas de contratação.
É o caso da brasileira Gupy, especializada em recrutamento e que oferece às empresas uma ferramenta capaz de filtrar informações contidas nos currículos, agilizando a burocracia interna.
“Só que nem tudo são flores. Tem muitos problemas de enquadramento na hora de selecionar candidatos com essas plataformas de inteligência artificial”, Helton Simões Gomes.
Diogo lembra de um caso de equívoco cometido pela IA da Amazon. O que o serviço fez foi descartar todas as candidatas mulheres. Como o quadro de funcionários era composto majoritariamente por homens, o sistema admitiu que esse era um pré-requisito buscado pela empresa. A ferramenta cometeu o que o pesquisador intitulou de “injustiça algorítmica”.
“É quando a inteligência artificial está tomando decisões que podem beneficiar ou prejudicar algum grupo com base em características irrelevantes. O que acontece é que a inteligência artificial começa a repercutir ou levar uma coisa do passado para o futuro sem questionamentos”, Diogo Cortiz.
A revolta dos desempregados
Diante do uso intenso de IA pelo RH, quem está se candidatando não fica para trás. A Neurosight, uma consultoria de recrutamento, realizou um estudo que mostrou que 57% dos estudantes concorrendo a uma vaga usaram o ChatGPT para fazer seus currículos.
“É um jogo de gato e rato, porque a tecnologia de recrutamento estava só na mão das empresas e agora a IA generativa coloca [essa tecnologia] na mão dos candidatos. Com IA eles vão conseguir fazer um currículo mais rápido, mais assertivo, mas que não necessariamente vai expressar a realidade daquele candidato”, Diogo Cortiz.
São currículos repletos de informações genéricas, palavras-chave sem sentido e de um entusiasmo falso. Faltam personalidade do candidato, as paixões dele e sua história de vida.
“Cara, a gente está virando coadjuvante no processo de busca e recrutamento de empregos”, Diogo Cortiz.
Fonte: TILT/UOL