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Forças Armadas precisam pedir desculpas à sociedade, diz Comissão da Verdade

Pedro Dallari afirma que colegiado insiste em pedido de esclarecimento, e que negativa dos militares sobre torturas e mortes é um ‘acinte’

O presidente da Comissão Nacional da Verdade, Pedro Dallari, afirmou nesta quinta-feira, dia 4, que as Forças Armadas precisam pedir desculpas pelas violações aos direitos humanos durante a ditadura (1964-1985), para que a falada reconciliação nacional seja possível. As declarações foram feitas durante audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo, ontem, dia 4, sobre reabertura dos trabalhos de identificação das ossadas do cemitério de Perus. “É preciso que as Forças Armadas reconheçam publicamente o papel que tiveram na prática dessas graves violações”, afirmou Dallari, para quem a resposta oficial a relatório da CNV sobre torturas em instalações militares, negando tais ocorrências ao afirmar que não ocorreu desvio de finalidade, “é um acinte à sociedade brasileira, é inaceitável”.

O jurista lembrou que o colegiado fez um pedido de esclarecimento às Forças Armadas e aguarda resposta. Segundo ele, os militares negam o reconhecimento de algo que o próprio Estado brasileiro já reconheceu. “Do ponto de vista político e histórico, é necessário que as Forças Armadas venham a público e reconheçam que houve tortura e morte, e peçam desculpas à sociedade brasileira.” Dallari afirmou ainda que se trata de uma instituição que conta hoje com respaldo da sociedade, mas que precisa colaborar. “Credibilidade e reputação as instituições têm ou não têm.”

Os trabalhos da comissão nacional estão em seus últimos meses, já que o mandato do colegiado termina em 16 de dezembro. “Desde fevereiro, a Comissão Nacional da Verdade fez uma opção de levar para a sociedade os resultados, mesmo que parciais, de suas investigações”, lembrou o coordenador. Ele acredita que isso já teve efeito, por exemplo, nos atos relativos aos 50 anos do golpe, em março. “A passagem do cinquentenário deu ensejo a celebrações pífias, em um momento em que a sociedade está insatisfeita com a política. Não houve nostalgia.”

Na avaliação de Dallari, as atividades da CNV também têm conseguido mostrar que os crimes cometidos durante a ditadura não foram aleatórios ou “coisa de psicopata”, mas faziam parte de uma “política pública” do Estado brasileiro. “Houve uma política de Estado vinculada à prática de extermínio de seus opositores.”

O secretário nacional da Justiça e presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, disse que é preciso se preparar para o “momento estratégico” posterior ao da apresentação do relatório da Comissão Nacional da Verdade. A preocupação é evitar que os “editoriais dos jornais” não deem o tema como encerrado. Assim, os próximos meses serão importantes para dar continuidade à agenda de transição sobre o direito à verdade, à memória e à justiça. “E como vamos nos apropriar desse relatório, dessas informações.”

Fonte: Rede Brasil Atual

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