Influenciadores trocam as redes pela segurança da CLT
Influenciadores voltam para CLT em busca de segurança financeira, de saúde mental, de direitos e estabilidade.
Com os crescentes relatos de influenciadores que promovem uma vida de flexibilidade e independência, a realidade por trás das câmeras costuma ser bem diferente. A CLT — Consolidação das Leis do Trabalho — surge como um porto seguro para muitos que enfrentam instabilidade financeira e emocional no universo digital.
A visão do mercado
Matéria do Estadão publicada nesta sexta (5) mostra, por exemplo, que a criadora de conteúdo Alana Azevedo, 33 anos, conhecida pelo perfil @alanitcha e pela criação de uma “emissora fictícia” durante a pandemia, chegou a conquistar grandes marcas como Quinto Andar, Globoplay e Mercado Livre. Mas, apesar do sucesso, Alana enfrentou a insegurança típica da carreira digital: renda instável, pressão constante e falta de benefícios. Há dois anos, aceitou um emprego CLT em uma agência de publicidade em São Paulo. Hoje, mantém a produção de conteúdo apenas como atividade paralela.
Segundo Rafaela Lotto, CEO da consultoria Youpix, viver apenas de influência está cada vez mais difícil. O aumento da concorrência, a disputa por verbas publicitárias e a necessidade de diversificar as fontes de receita tornam a carreira exaustiva e incerta.
Levantamento da Youpix com a Brunch mostra que a maioria dos influenciadores brasileiros ganha entre R$ 2 mil e R$ 5 mil por mês. Apenas 0,54% chegam a superar os R$ 100 mil mensais, contrastando com o imaginário de riqueza abundante.
CLT como alternativa de equilíbrio
A matéria aponta benefício da CLT, como:
- Estabilidade financeira: empregos formais garantem remuneração mensal fixa, 13º salário, férias remuneradas, FGTS, seguro-desemprego e recolhimento ao INSS — algo praticamente inexistente para muitos criadores de conteúdo autônomos.
- Proteção legal e benefícios trabalhistas: além dos direitos garantidos, o vínculo formal ainda assegura acesso a licenças médicas e previdenciárias, aliviando as incertezas da inconstância dos ganhos nas redes.
- Equilíbrio emocional: o emprego com benefícios sociais traz previsibilidade — e conforto psicológico — num ambiente digital permeado por pressão constante por performance.
O sonho digital custa caro — em frustração
Apesar de alguns enxergarem o retorno à carteira assinada como sinal de “fracasso”, os depoimentos revelam o contrário: trata-se de uma escolha consciente por qualidade de vida e segurança.
“Talvez tenhamos uma classe média de criadores, que paga as contas, mas não é mais atraente do que ter um trabalho CLT que permite viver bem”, conclui Rafaela Lotto.
Entre os desafios do trabalho como influenciador, estão:
- Concorrência feroz e visibilidade volátil: com algoritmos em constante mudança e milhares de novos perfis competindo por atenção, crescer e manter o público é um desafio diário.
- Ganho financeiro instável: receita de publicações patrocinadas, monetização de vídeos ou parcerias é sazonal e desprovida da previsibilidade de um salário fixo.
- Pressão constante e desgaste mental: a necessidade de ser criativo, manter engajamento alto e ainda parecer “sempre bem” nas redes pode resultar em esgotamento emocional — o famoso burnout.
Um retorno consciente
Segundo a matéria do Estadão, para muitos influenciadores, retornar à CLT representa uma escolha que prioriza bem-estar, planejamento e segurança — ao contrário da instabilidade que marca a carreira digital.
Num cenário em que a liberdade aparente das plataformas digitais nem sempre se traduz em qualidade de vida ou ganhos reais — e muitas vezes traz instabilidade — o emprego formal ressurge como alternativa racional. Com benefícios e segurança incorporados, a CLT oferece o respaldo que muitos influenciadores descobrem, tarde ou cedo, que realmente fazem falta.
Fonte: Estadão — reportagem de Jayanne Rodrigues, publicada em 5 de setembro de 2025: Por que influenciadores estão deixando as redes e voltando ao regime CLT.