Maioria dos brasileiros apoia fim da escala 6×1 e a redução da jornada de trabalho, aponta pesquisa
Uma nova pesquisa divulgada essa semana revela que a reivindicação em torno do fim da escala de trabalho 6×1 e pela redução da jornada de trabalho segue no centro do debate junto à classe trabalhadora brasileira e, mais do que isso, tem apoio majoritário.
Segundo a pesquisa “Os brasileiros e a jornada de trabalho”, feita pela Nexus Pesquisa e Inteligência de Dados, 65% dos brasileiros são favoráveis à redução da atual jornada de trabalho no país de 44 horas para 36 horas semanais, sem redução salarial, e com a instituição de escala de trabalho 4×3 (quatro dias de trabalho e três de descanso).
O levantamento, realizado entre os dias 10 e 15 de janeiro com 2 mil entrevistados (*), mostra que a redução da jornada tem o maior apoio principalmente junto aos desempregados (73%) e jovens de 16 a 24 anos (76%), que veem na medida um caminho para a criação de mais empregos e melhor qualidade de vida.
Entre os trabalhadores formais e informais, o apoio é de 66% e na população economicamente ativa em geral (PEA) é de 63%.
O recorte por gênero e renda também destaca grupos que mais apoiam a mudança. As mulheres (68%) e os trabalhadores que ganham até um salário mínimo (70%) são os que mais defendem a proposta, evidenciando como a jornada atual impacta principalmente os setores mais explorados e vulneráveis economicamente.
Confira aqui a íntegra da pesquisa
Fim da escala 6×1
O percentual é semelhante (63%) dos que apoiam o fim da exaustiva escala 6×1, que impõe seis dias de trabalho para apenas um de folga, e querem a aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) protocolada neste ano no Congresso pela deputada Erika Hilton (PSOL), em articulação com o Movimento VAT (Vida Além do Trabalho).
Os dados da Nexus apontam que diante dos 63% que apoiam a PEC, 31% são contra, 4% se disseram nem a favor, nem contra, e 3% não souberam opinar.
Mais uma vez, o apoio é maior entre os jovens de até 24 anos (74%) e trabalhadores de baixa renda (70%). As mulheres (66%), que mais sofrem com essa jornada, também enxergam com mais benefícios o fim da escala 6×1 em comparação aos homens (59%).
Quando levada em consideração a renda familiar, o apoio à PEC é maior quanto menor a renda. São 70% favoráveis à PEC 6×1 entre quem ganha até 1 salário mínimo; 64% de 1 a 2 SM; 63% de 2 até 5 salários mínimos e 57% entre quem tem renda familiar maior do que cinco salários mínimos.
Vida além do trabalho
A melhoria na qualidade de vida é apontada como o principal benefício da jornada reduzida por 65% dos entrevistados, enquanto apenas 16% acreditam que haveria prejuízo. Já 55% dos brasileiros afirmam que uma menor carga horária semanal resultaria em aumento da produtividade, contrariando a ideia de que menos horas trabalhadas significariam menor eficiência.
Caso a PEC 6×1 seja aprovada, 47% dos entrevistados afirmaram que utilizariam o tempo extra para ficar com a família. Outras atividades mencionadas incluem cuidar da saúde (25%), gerar renda extra (22%) e investir em cursos e capacitação profissional (17%).
Entre as mulheres, o foco está na família (47%) e na saúde (29%), enquanto os homens demonstram maior interesse por atividades remuneradas, com 24% afirmando que buscariam um segundo emprego. Para os jovens, o tempo extra seria dividido entre família (47%), renda extra (19%) e atividades físicas (19%).
A percepção de que a redução dos dias trabalhados poderia prejudicar a economia é compartilhada por apenas 16% da população, enquanto 15% acreditam que a mudança não faria diferença.
Intensificar a luta nas ruas
A PEC pelo fim da escala 6×1 foi protocolada no Congresso no último dia 25 de fevereiro. No entanto, apostar todas as fichas nos trâmites no Congresso, dominado pelo Centrão e interesses empresariais, não é alternativa para os trabalhadores. É preciso pressão total. A vitória só será conquistada com ações diretas, como atos e greves de trabalhadores penalizados por essa escala de trabalho que impede a vida.
O vereador e liderança do Movimento VAT Rick Azevedo fez um chamado para que os trabalhadores protestem contra a escala 6×1 no 1º de maio (Dia Internacional de Luta do Trabalhador) e que no dia 2 de maio todos fiquem em casa pela redução da jornada de trabalho.
O fortalecimento das ações de rua foi a principal deliberação da 1ª Plenária Nacional contra a escala 6×1, realizada pela CSP-Conlutas e outras organizações, no mês de janeiro.
Na ocasião, o encontro reuniu mais de mil pessoas, e aprovou o 3º Dia Nacional de Luta contra a Escala 6×1 no dia 16 de fevereiro, que contou com protestos nas principais capitais do país. As manifestações do 8 de março- Dia Internacional de Luta das Mulheres, no último sábado, também teve como centro essa reivindicação
Para a CSP-Conlutas, além dos dias nacionais de luta, a campanha pelo fim da escala 6×1 e pela redução da jornada de trabalho deve ser parte central do calendário do movimento dos trabalhadores. A orientação é que sejam organizadas plenárias e comitês regionais para organizar e fortalecer a mobilização.
(*) A Nexus entrevistou, face a face, 2 mil pessoas, com idade a partir de 16 anos, nas 27 Unidades da Federação, entre 10 e 15 de janeiro de 2025. A margem de erro no total da amostra é de 2 p.p, com intervalo de confiança de 95%.
Fonte: CSP-Conlutas