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Organização ‘Cruzando Histórias’ dá voz a pessoas que estão em situação de desemprego

Por Verônica Lazzeroni Del Cet

A situação de desemprego pode não só provocar mudanças na vida de uma pessoa, mas também fazer com que a história de vida do desempregado(a) pudesse ser contada para os outros

(foto divulgação)

A organização social “Cruzando Histórias” (CH) tem essa função: cruzar as histórias dos desempregados com quem está buscando alguém para trabalhar. Fundada há quatro anos, com a criação de uma página no Facebook (com o mesmo nome da organização), que “Cruzando Histórias” deu voz ao desempregado, oferecendo para ele a chance de contar a sua história.

“Sou profissional de RH há muitos anos, e sempre conduzi os processos seletivos de forma mais humana, convidando a pessoa a trazer para a superfície quem ela realmente é. E, enquanto caminhava no Centro, via aquele tanto de gente, embaixo do sol, com a pasta de currículos embaixo do braço e o rosto cansado. Pensei que talvez eu pudesse ajudá-los a se destacar e minha ideia foi dar voz a eles, contando suas histórias”, explica Beatriz Diniz, 33, presidente da organização “Cruzando Histórias”

A presidente, que tomou iniciativa após se emocionar ao assistir a uma reportagem na televisão, se viu diante de uma situação em que o desemprego nascia em seu interior, mas sem nunca a ter atingindo. Ela viu, naquela reportagem, a humanidade do desemprego, de acordo com a entrevistada.

(foto divulgação)

A partir deste momento ela decidiu agir. “Passei então a sair pelas ruas com uma lousa escrito “Está sem trabalho?”, fui conversando e conhecendo pessoas, e muitas delas se tornavam “histórias” numa então página do Facebook “Cruzando Histórias”. O nome veio dessa minha vontade de cruzar histórias de pessoas que estavam precisando trabalhar, com pessoas que estavam precisando de alguém para trabalhar”, conta a presidente.

O ponto de partida

A sua iniciativa começa em 3 de fevereiro de 2017, com Beatriz e uma lousa pelas ruas do centro urbano de São Paulo. “Nesse movimento, ao longo do ano, escutei mais de 800 pessoas. Fui marcando pequenos encontros e estruturando com uma amiga e voluntária, Raquel Tetti, a Oficina de Currículos, onde falávamos sobre a importância do autoconhecimento para a carreira. Na época parecia uma ideia de duas privilegiadas, mas fomos ganhando a confiança das pessoas, conforme as recolocações pipocavam. A Cruzando só foi registrada após um ano e meio, como uma associação sem fins lucrativos, ONG como apelidam”, explica a presidente Beatriz Diniz.

Atualmente, a organização conta com um time pequeno, mas que tem bastante trabalho, além da rede de voluntários.

Inclusive, é preciso bastante esforço, já que cada vez mais o número de pessoas assistidas pela organização cresce. “O número de assistidos vem crescendo ano a ano, em 2020 impactamos diretamente 4800 pessoas, quase cinco vezes mais que em 2019. Como ainda não alcançamos a sustentabilidade financeira, nosso time de gestão conta com 70% de força voluntária”, diz a presidente.

Atividades e projetos do Cruzando Histórias

(foto divulgação)

“Nós estamos mesclando nos projetos nossos pilares: acolhimento, desenvolvimento e conexão às oportunidades. Neles cabem mentorias, palestras, workshops, além da produção de conteúdo e gestão das comunidades online, onde compartilhamos vagas, cursos, eventos etc.”, explica Beatriz sobre as atividades desenvolvidas pelo “Cruzando Histórias”

A presidente ainda comenta que um dos principais diferenciais da organização é o projeto EscutAção, que funciona através da mentoria de carreira aos desempregados, baseando-se na escuta empática, apoio emocional e psicológico, totalmente individualizado e gratuito.

“Queremos cruzar histórias, encontrar oportunidades, mas reconhecemos que num país que vive em crise, a jornada é longa e desgastante, por isso optamos por cuidar da pessoa, acolher, amparar, orientar, e assim, proporcionar o fortalecimento que será crucial para um bom resultado.”, explica Beatriz.

Dentre os demais projetos da organização, todos eles buscam atender e amparar os participantes, além de oferecer capacitação, palestras e apresentações de histórias a partir de uma perspectiva diferente do habitual, ou seja, daquela mostrada no currículo de todo profissional.

Dessa forma, destacam-se os projetos “Ela Pode”, “Semana da Carreira”, “Vitrine de Talentos” e o “EscutAção”.

“O “Ela Pode” é um programa do Instituto Rede Mulher Empreendedora, e eu me tornei multiplicadora em 2019. Estou apta a oferecer as capacitações em empreendedorismo feminino pelo programa. Como sou presidente da CH, celebramos uma parceria, e até o momento já ministrei aulas para mais de 800 mulheres”, explica Beatriz Diniz.

“A “Semana da Carreira” é um projeto próprio, um eventão, onde trazemos especialistas de diversas áreas para entregar palestras, workshops ou rodas de conversa. A “Vitrine de Talentos” é nossa coletânea de histórias, onde seguimos apresentando as pessoas numa perspectiva diferente da que o currículo mostra. O “EscutAção” é o nosso queridinho, a evolução da “Bia com sua lousinha”, nele oferecemos escuta, orientação de carreira e psicoterapia breve. Cheio de potência, esse projeto recebe enxurrada de lindos depoimentos. Apoio psicológico no Brasil é para pouquíssimas pessoas, e conseguimos lançar gratuito e com ótima qualidade.”, conta a presidente do “Cruzando Histórias”.

Inclusive, a organização não apenas atende o desempregado como público-alvo, mas até empreendedores, ou trabalhadores que desejam mudar de carreira.

“Na Cruzando, nosso maior público são mulheres entre 30 e 40, muitas delas excluídas do mercado por conta da maternidade, vivida ou iminente. Duro enxergar que o mercado julga as pessoas por sua idade, cor, orientação sexual, CEP etc., e não por suas competências, habilidades e vontade de se desenvolver e entregar”, explica a entrevistada.

Mudanças positivas

(foto divulgação)

Com a pandemia e a necessidade do isolamento social, desde 2020 a organização passou por várias mudanças no sentido de migrar todo o seu conteúdo e projetos de forma online.

Foi um desafio, mas com resultados positivos, de acordo com a entrevistada. “Corremos migrar tudo. Como num pulo, em poucos dias, já estávamos operando online e ampliando nossos serviços com a psicoterapia breve. Essa foi uma ideia da escutadora Jessica Sano, que é psicóloga e já atuava na CH há algum tempo. Comprei a ideia e trabalhamos para viabilizar tudo.”, relembra a presidente.

“Com isso conhecemos novas realidades, tivemos que entender que o desemprego se apresenta de diversas formas pelo Brasil. Desconstruí muito do que eu conhecia, para dar espaço para novos aprendizados. Buscamos voluntários de outras regiões para que nos apoiassem com visão e perspectiva”, conta Beatriz.

Além disso, a presidente comenta que um grande desafio do “Cruzando Histórias”, em 2020, foi o aumento dos relatos sobre casos de violência contra mulher, não apenas domésticas, mas até no ambiente de trabalho, com mulheres que vivenciaram algum tipo de experiência muito traumática e degradante. “49% dos atendimentos do EscutAção esbarraram em alguma questão, isso é muito!”, explica a entrevistada.

Novas perspectivas do Cruzando Histórias

A partir desse cenário, Beatriz buscou suporte e mentorias com profissionais para orientarem as vítimas.

Apesar de todas as mudanças que 2020 trouxe, muitas foram impactantes ao “Cruzando Histórias” e já garantem uma nova perspectiva de ação da organização.

“Vejo um cenário favorável para contarmos a nossa história, e ampliarmos nossos projetos. A dor que vivemos com a pandemia abriu espaço para discutirmos sobre cuidado e saúde mental, e claro, sobre o desemprego. Em nosso fechamento anual, decidimos focar na empregabilidade feminina em 2021. Entendemos que a jornada de recolocação da mulher é mais longa e instável”, diz a presidente.

“No momento estamos buscando empresas que queiram investir socialmente, e fomentar suas políticas de diversidade e inclusão, ou mesmo desenvolver seus colaboradores através do voluntariado. Costuramos nossos projetos para oferecer uma jornada de cuidado e desenvolvimento para 1000 mulheres, e estamos em captação de recursos para viabilizar o projeto.”, explica Beatriz.

O LADO HUMANO DO DESEMPREGO

O “Cruzando Histórias” coleciona até hoje histórias de pessoas que vivenciaram o acolhimento emocional e capacitação que a organização ofereceu. São histórias de vida não contadas no currículo, mas com um peso tremendo e resultados inesquecíveis na vida de cada um dos participantes.

“Acredito que o maior legado da Cruzando Histórias é o cuidado com as pessoas, seja as que estão desempregadas, seja as voluntárias, doadoras etc.”, diz Beatriz.

“Nossa luta é pela humanização do desemprego, fazemos isso através da escuta empática e valorização das histórias de vida, e claro, incentivamos o desenvolvimento profissional. Olhamos para todos como seres integrais, com sonhos, lutas, forças e fraquezas. E alinhamos o passo para que voltem a confiar que é possível fortalecerem sua “trababilidade”. Alguns ainda criticam nosso “romantismo”, mas seguimos confiantes que a Cruzando Histórias proporciona um novo lugar para o desemprego, e esse lugar tem respeito, cuidado e novas oportunidades”, finaliza a presidente.

Link: Cruzando histórias

Fonte: Carta Campinas

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