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Pai de aluna que denunciou professora de Vinhedo por causa do MBL poderá ser processado

O discurso extremista do MBL (Movimento Brasil Livre – grupo de extrema-direita reacionária) pode explicar o caso do processo da Secretaria de Educação de Vinhedo contra a professora Virginia Ferreira, de 58 anos, que dá aulas de inglês há 20 anos na rede pública da cidade (19 km de Campinas).Uma professora que ensina há 20 anos.

Virginia Ferreira (foto arquivo pessoal – facebook)

A professora Virginia sofreu uma perseguição e um processo administrativo por falar sobre assuntos fundamentais para combater a violência contra a mulher. Ela abordou o feminismo e a violência contra as mulheres em sala de aula como um tema transdisciplinar no ensino de língua. Uma aluna gravou a aula e o áudio foi divulgado na internet. O pai da aluna acusou a professora de ‘ideologia de gênero’ (sabe-se lá o que é isso!). Inadvertidamente, a Secretaria de Educação do Município abriu um processo contra ela em agosto do ano passado. O processo foi um delírio de carolas do MBL, aliás, Vinhedo é considerado o berço do MBL.

O processo contra a professora acabou arquivado nesta segunda-feira, 17, por ser confirmado que não “houve configuração de irregularidade”. Neste período, relata reportagem de Felipe Betim, do El País, a professora foi investigada por negligência e corria o risco de sofrer uma punição disciplinar ―a maior delas seria o afastamento de suas atividades. “Participei de todos os depoimentos. Quando depôs, o pai fez uma ameaça velada. Disse: ‘eu tenho muita coisa contra essa professora, ela vai ver”, recorda Ferreira ao jornal.

O constrangimento da professora foi grande. Com o fim do processo, quem poderá ser processado agora é o pai da aluna. Muitos professores se sentiram ameaçados por esse tipo de atitude. Em texto publicado na Plataforma Carta Campinas, o professor Potiguara Lima, mostrou postagens do pai da aluna na internet.(LINK)

“Um dos trechos desse Parecer destaca sem nenhuma problematização (portanto sugerindo) que “As queixas contra a Professora chegaram as Redes Sociais e encaminhadas para a Diretora da Escola e para a Ouvidoria, com acusações de doutrinação e de prejuízos ao aprendizado dos alunos (…)”. Ora, o que houve foi mais um ataque covarde do Movimento Escola Sem Partido em relação ao qual a Secretaria de Educação se omitiu. A tentativa de criminalizar a professora expõem os profissionais da Secretaria de Educação responsáveis pelo Parecer a uma situação vexaminosa. Mas a bizarrice desse processo não pára aí. Sabemos que o processo começou com a articulação entre setores retrógrados que se sentem ameaçados pelo fortalecimento da luta feminista. E que a professora foi inicialmente atacada nas redes sociais em uma campanha articulada com uma denúncia do pai de uma aluna na ouvidoria do município. Mas há alguns dias, atentamos para o relato de uma queixa desse pai presente no processo, em que consta sua preocupação “de que está havendo por parte da professora ‘doutrinação’ durante a aula pois o conteúdo registrado no caderno fala de feminismo e Lei Maria da Penha”.

A reportagem do El País relata que na reclamação, bastante abrangente, o pai dizia que Ferreira usava suas aulas para ensinar sobre feminismo e “ideologia de gênero”. E que usava o português para se comunicar com os alunos (!!).

“Mas é claro que uso o português, é a língua mediadora entre o conteúdo que vou trazer e os alunos, que possuem um entendimento heterogêneo da língua inglesa”, justifica. “Minha aula não tem nenhuma estrutura de doutrinação, a gente faz um trabalho de diálogo, de conversa. Busco aproximar o conteúdo dos alunos e problematizar os temas trabalhados. É uma dinâmica já de anos em sala de aula”, afirma. Para a Secretaria, Ferreira argumentou ainda sobre o papel do professor em se fazer uma reflexão sobre a condição da mulher e a necessidade de se combater a violência contra ela, segundo o relato que consta no documento. Ela conta já ter acolhido alunos que choravam por ter visto a mãe sendo agredida pelo pai em casa, ou ainda “casos de alunas que sofreram abuso e violência dentro do próprio lar”.

A professora foi defendida pelo Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher (Nudem), da Defensoria Pública do Estado de São Paulo. “O Nudem argumenta que a discussão de gênero no ambiente escolar está em consonância com o que preconiza as convenções internacionais assinadas pelo Brasil e a Constituição Federal. Também condiz com os direitos à educação, à liberdade de cátedra, ao pluralismo pedagógico e, principalmente, com a Lei Maria da Penha —que afirma que uma das formas de prevenção é a discussão dos papéis de gênero. “Entendemos que o que essa professora fez foi debater gênero, e que esse debate é essencial não só por ser determinação legal, mas porque existe uma vinculação entre discriminação das mulheres e violência”, argumenta a defensora pública Nalida Coelho Monte, coordenadora auxiliar do Nudem. O EL PAÍS solicitou um posicionamento da Secretaria Municipal de Educação, que não respondeu”, anotou a reportagem.

Fonte: Carta Campinas/Veja reportagem completa do El País