Pensar de forma diferente é a saída para conseguir resultados melhores, seja na sala de aula, seja nos ambientes corporativos.

jornada de 40 horas para escolasA mudança é defendida por Michael Patton, considerado o pai da “avaliação focada no uso”, corrente que prega a análise dos resultados como a própria maneira de atingir a transformação desejada. O especialista comparou o método a descascar cebolas, ou seja, tirar camada por camada e propor perguntas a cada etapa. Patton participou ontem do 14º Seminário Internacional de Avaliação, realizado pelo Itaú Social, Fundação Roberto Marinho, Instituto C&A e Grupo de Institutos Fundações e Empresas (Gife), em São Paulo.

Na educação, o americano Patton afirma que é difícil sair de uma espiral de resultados ruins sem mudar a abordagem e trazer alunos e pais para a discussão. “Não se trata de avaliações melhores, mas avaliações diferentes. Fazer melhor algo que não é exatamente útil não vai trazer melhores resultados.”

O especialista sugere transformar as avaliações para ajudar a abordar os problemas locais e levar a uma educação que forme uma população pensante. “É colocar as crianças para estudar o que está ocorrendo em suas comunidades e escolas, qual o motivo de ali ser diferente de outros lugares ou o porquê de estudar determinados assuntos”, disse.

Segundo Patton, uma avaliação bem-sucedida começa no desenho dos projetos e passa pelo seu monitoramento e pela análise da implementação. “Caso contrário, vamos produzir aqueles relatórios que ninguém lê e não têm utilidade”, afirmou.

Patton diz que o educador Paulo Freire, que há 50 anos terminava a “Pedagogia do Oprimido”, sua mais icônica obra, já trabalhava tais ideias ao considerar que o processo educacional deveria considerar o contexto em que está inserido o aluno.

O especialista conta que, recentemente, acompanhou um projeto com alunos de oito anos na cidade americana de Mineápolis. A ideia era entender por que os semáforos foram colocados nos locais em que estavam. “Eles descobriram que, a cada vez que ocorria uma fatalidade, o Departamento de Transportes colocava um semáforo como resposta a isso.”

No fim das contas, ele prossegue, havia tantos semáforos que era quase impossível transitar pela vizinhança, e os motoristas passaram a desrespeitar a sinalização. “Os alunos recomendaram a repensar a distribuição de semáforos, porque a sinalização estava produzindo efeitos negativos”, afirmou.

Para Hugo Barreto, secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, mudar as avaliações é uma exigência dos tempos atuais. “Houve um tempo em que essa ideia de promover o bem comum nos mobilizava e apenas o desejo de promover o bem legitimava a nossa ação”, disse. Mas, em um mundo mais acelerado e mais competitivo, Barreto lembra que é preciso verificar, de fato, a eficácia das ações. “Nesses tempo em que vivemos, é preciso muito mais do que um desejo de mudar, é preciso ter a capacidade de mudar”, afirmou.

Fonte: Valor Econômico