Artigos de menuUltimas notícias

‘Estudo medicina e sou filho de motoboy com muito orgulho e sacrifício’

Os gritos preconceituosos de estudantes de medicina contra motoboys indignaram Anderson Bastos Júnior, 23. Depois de ouvir seus colegas da Unig (Universidade Iguaçu) gritarem “eu sou playboy, não tenho culpa se seu pai é motoboy”, Bastos foi a público para dizer que também estuda medicina na Unig, é filho de motoboy e tem orgulho do sacrifício feito pelo pai.

O jovem é estudante do último ano de medicina e não estava presente no momento em que os colegas foram filmados entoando o grito preconceituoso durante os Jogos Universitários de Medicina (Intermed), em Vassouras (RJ). Ficou sabendo do caso pela internet e se surpreendeu.

Para o estudante, o ataque contraria os sacrifícios que sua família, em especial o pai, fez para que ele conseguisse estar na faculdade. “Entrei na rede social para falar porque tenho orgulho do meu pai, tenho orgulho de tudo que ele fez por mim, faz até hoje”, diz Bastos, que publicou no TikTok um desabafo sobre a situação.

O pai de Bastos tem um depósito de bebidas em Itaperuna, no Rio. Atende pedidos de outros estabelecimentos como lanchonetes, restaurantes e hospitais, e faz as entregas em uma moto. O depósito tem feito mais entregas de gelo do que de bebidas, e o pai, de 49 anos, participa de todo o processo: desde colocar os gelos em sacos, manualmente, até levar ao destino final.

Bastos diz que foi necessário ter ajuda de toda a família para que ele conseguisse chegar perto da formatura. A mensalidade do curso se aproxima de R$ 10 mil. “Toda vez que meu pai pagava uma mensalidade, ele falava que era um degrau a menos e mais um degrau que a gente estava subindo”, conta o jovem.

“Hoje, graças a Deus, faltam só dois degraus. Me formo em dezembro e é uma honra muito grande para mim, para minha família. Tenho muito orgulho das minhas raízes”, completa.

Ele teve uma formação cheia de desafios. Estudante de escola pública a vida toda, ele é técnico em química pelo Instituto Federal de sua cidade. Na época, conseguiu uma bolsa de iniciação científica que ajudava com os gastos em casa.

Ao terminar o ensino médio e receber a aprovação da Unig, ele não tinha certeza se conseguiria seguir com o curso. Para que seu sonho se tornasse realidade, toda a família contribuiu.

“Foi aquele reboliço em casa e acabou que a gente conseguiu. Um tio meu ajuda meu pai, uma tia também. A família se juntou nessa causa para poder realizar o meu sonho”, conta o estudante.

“Meu pai vendeu uma casa na praia que ele tinha no último ano. Agora, ele vendeu o carro”, completa.

A rotina dele na faculdade também é diferente da de alguns colegas. “Vou andando para a faculdade e às vezes eu tenho carona na volta. Para mim, é uma coisa normal, é a minha vida, a minha rotina. E eu estou bem no chão mesmo. Sei de onde vim e onde posso chegar”, diz Bastos.

O término do curso nunca foi uma certeza, o que faz com que a família celebre cada conquista.

“Não tenho vergonha de o meu pai ser motoboy. Tenho orgulho”, ele conta. “Orgulho para mim é ser filho do motoboy que vai se formar para ser médico”, diz Bastos, que planeja seguir na área de neurologia ou neurocirurgia. Ele diz, ainda, que ser playboy não deveria ser motivo de comemoração. “Você está ostentando com dinheiro do seu pai.”

Alunos foram multados

Após a repercussão, os estudantes que entoaram o grito preconceituoso foram banidos pelo prefeito da cidade de Vassouras (RJ), multados e expulsos da competição. Para Bastos, o acontecimento é uma infelicidade e não representa todos os estudantes da faculdade.

“Nunca fui discriminado aqui na faculdade. Foi uma minoria que estava lá para representar a gente nos jogos estudantis e teve essa fala infeliz, ofendendo uma classe trabalhadora”, diz ele. Como a fala o atingia diretamente, Bastos se sentiu no dever de se posicionar.

Fonte: UOL

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.