Ultimas notícias

A trajetória das Mulheres da Força Sindical

No início da década de 1990 a desigualdade salarial e de condições no trabalho entre homens e mulheres era ainda mais grave que hoje. As mulheres realizavam os mesmos trabalhos que os homens em vários setores, mas ganhando salários menores.
Ainda não estava amadurecida no movimento sindical brasileiro a consciência sobre a importância da luta pela igualdade de gênero. Contemplar as trabalhadoras era uma necessidade. “E, além de nossas reivindicações não serem incorporadas à pauta do movimento sindical, nossa participação nas negociações coletivas era muito pequena”, conta Maria Auxiliadora dos Santos, secretária nacional da Mulher da Força Sindical.

Por isso, em fevereiro de 1991, um mês antes da fundação da Força Sindical, as trabalhadoras realizaram, na sede do Sindicato dos Comerciários, em Cotia (SP), um encontro que reuniu mais de trezentas mulheres do Brasil, sobretudo nos setores de Vestuário, da Alimentação, do Comércio, de Asseio e Conservação, no ramo Químico, do Sindicato dos Brinquedos, além de muitas metalúrgicas, para discutir de que forma participaríamos daquela incipiente central.

Naquele encontro foi resolvido que deveria haver mulheres na direção da central e que aquele movimento, que estava começando, deveria se comprometer em lutar em defesa desta agenda.

No Primeiro Congresso da Força Sindical, em 8 de março de 1991, essa pauta foi levada para debate com os dirigentes.
Desta forma, a Força Sindical resultou de um processo do qual participaram várias mulheres que se empenharam em garantir o compromisso com a luta contra a violência, por maiores oportunidades no mercado de trabalho, pela igualdade salarial, contra o assédio sexual e o assédio moral no trabalho.

Ainda em setembro daquele ano, para atender à necessidade de aprimorar a organização das mulheres na central, foi realizado, no Riocentro, RJ, um Congresso com mais de mil mulheres. O principal objetivo era criar a Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres da Força Sindical, para a qual a metalúrgica Nair Goulart foi eleita a Primeira Secretária.

A Secretaria foi criada em nível nacional, fomentando a instalação de Secretarias estaduais. Nos primeiros anos, dedicados à consolidação e à ampliação da Secretaria, foram feitas parcerias com diversas centrais Sindicais do Mundo e criado um Programa de Formação Sindical para mulheres. Assim se construiu uma política para as mulheres, em parceria com a CLC (Canadian Labour Congress), do Canadá, que financiou um programa que preparava as mulheres para a negociação coletiva.

Para o 3º Congresso da Força Sindical, em 1997, no Palácio do Trabalhador (bairro da Liberdade, em São Paulo), foi preparado um projeto de cotas de, no mínimo, 30% de mulheres nas direções Nacional e Estaduais da Força Sindical. Para isso foi criado um folder explicando o que significava a cota e uma fitinha roxa para as pessoas que apoiavam. A grande maioria do Congresso apoiou e usou a fitinha roxa. A repercussão foi tanta que os jornais do dia seguinte ao Congresso estamparam em suas manchetes: “Mulheres da Força Sindical querem 30%”. A aprovação da cota foi decisiva na história da central. Algo que nem a Central Única dos Trabalhadores (CUT), criada oito anos antes, havia feito.

Nos primeiros anos as ações da Secretaria se voltaram a dar instrução às mulheres para que elas participassem das negociações coletivas e se preparassem para assumir postos nos Sindicatos, entrar para as diretorias e fazer com que os Sindicatos abraçassem suas reivindicações.

Isto viabilizaria a luta por equidade, promoção de cargos e carreiras, qualificação profissional, oportunidades de melhorar o salário e aumentar o benefício para a creche. Estas pautas foram desenvolvidas em várias categorias, que passaram a abrir mesa de negociação com as mulheres, algo que não existia até então. Como a pauta era sempre centrada nos grandes temas, como aumento salarial as secretárias buscavam incorporar a essas campanhas a “Pauta das Mulheres”, de forma que fosse uma luta atrelada às bandeiras da central.

Assim, ações como as lutas pela valorização do salário mínimo, pela redução da jornada de trabalho, pelo combate ao desemprego e pelo desenvolvimento com distribuição de renda, que a Força Sindical desenvolve, atende também às mulheres. Isto porque, segundo os indicadores do IBGE, elas sofrem mais com a pobreza e com o desemprego, têm salários mais baixos e, em contrapartida, chefiam um terço das famílias brasileiras. Quando se consegue melhorar a distribuição de renda e o salário mínimo, um contingente imenso de mulheres é beneficiado.

Ao longo desses anos muitos Congressos, Seminários, Conferências e diversos outros eventos foram realizados para incentivar as mulheres a ocupar o espaço no movimento sindical.

Estiveram à frente da Secretaria as trabalhadoras Nair Goulart, entre 1991 e 2001, Neuza Barbosa de Lima, entre 2001 e 2009 e Maria Auxiliadora dos Santos, que é a secretária desde 2009.

Hoje existem Secretarias Estaduais por todo o Brasil e há muito mais mulheres nas direções de Sindicatos, Federações e da Força Sindical, assim como nas demais centrais sindicais.

“Embora o movimento de mulheres trabalhadoras tenha avançado muito nestes anos, ainda há muito para se conquistar. Cabe a nós, mulheres engajadas na luta social e sindical, nos fortalecer e lutar para conquistar e manter nosso espaço”, declara Auxiliadora.
“Para isso é fundamental que tenhamos consciência da nossa história e das ações das nossas companheiras e companheiros, em busca da igualdade de gênero. Saber a história para avançar com força!”, destaca.

Fonte: Centro de Memória Sindical

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.