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Apesar de campanha, violência contra mulheres persiste no carnaval

Pela primeira vez, o Carnaval foi marcado por campanhas que se popularizaram nas redes sociais pedindo respeito às mulheres, esclarecendo a diferença entre paquera e assédio e até ensinando passo a passo aos homens como “não ser um canalha”.

Nem terminada a festa, porém, já surgiam relatos de agressões no Rio, São Paulo e Salvador, onde 461 casos de violência contra mulheres foram registrados por órgão municipal.

Na tarde de sábado, dia 6, S.F., 16, descansava em um banco ao lado de uma amiga durante um bloco em Ipanema, na zona sul do Rio, quando foi abordada por dois homens.

“Eles começaram a passar a mão na gente e a perguntar: ‘O que vocês estão fazendo aqui sentadas se não querem nada?’”, afirma a estudante.

Outros homens que pareciam ser do mesmo grupo surgiram, relata. “Um deles, muito alto e forte, me deu um tapão no pescoço com força e eu caí. Não tem muito o que fazer porque a gente denuncia e não acontece muita coisa. Todo mundo acha natural porque é Carnaval, então pode tudo. Sempre amei Carnaval, mas esse ano só senti uma tristeza enorme”, diz.

Poucas semanas antes, a revista “AzMina” havia lançado a campanha #CarnavalSemAssédio, em parceria com o bloco feminista carioca Mulheres Rodadas e outros grupos. O objetivo era explicar didaticamente aos homens como se comportar de maneira respeitosa nos desfiles.

São diversos exemplos de assédio, segundo a cartilha lançada pelo grupo, como: puxar pelo cabelo, agarrar o braço e machucar a mulher.

Foi o que aconteceu com uma das integrantes do Mulheres Rodadas. Ela relatou ter levado um soco de raspão, na madrugada de sexta-feira (5), no Rio, ao tentar defender outra mulher que estava sendo assediada em um ônibus.
Segundo nota divulgada pelo grupo, o agressor dizia que ela estava defendendo uma “piranha” e que seria inútil “se aproveitar da Lei Maria da Penha”. Ele ainda teria ameaçado estuprá-la.

Nesta quartafeira, dia 10, o grupo foi à rua, com placas dizendo “meu corpo é área restrita”.

Nana Queiroz, 30, diretora-executiva da “AzMina”, diz que é o primeiro Carnaval em que o assédio é abordado de maneira enfática pela sociedade, na esteira de outras campanhas feministas que surgiram em anos anteriores, como o Chega de Fiu Fiu.

“O Carnaval é o máximo da festa popular, e o corpo da mulher sempre foi visto como algo público nessa festa”, diz. “Você não pode usar o corpo de uma mulher como usa um banheiro químico.”

Há casos em que o assédio é seguido de reação.

A insistência foi tanta que a gaúcha Fernanda Nocchi, 23, deu um tapa no rosto do assediador. Ela estava com uma amiga na Vila Madalena, bairro da zona oeste de São Paulo, que lota no Carnaval.

“Ele chegou já nos tocando, dizendo que éramos muito lindas. Pedi licença”, diz.

As duas, então, deram as mãos e disseram ser um casal. Ela afirma que, depois disso, o rapaz teria exigido um beijo entre elas como prova. “Não temos que provar nada”, ela respondeu. “Ele me xingou e ainda passou a mão na minha bunda.” O tapa, diz ela, foi “reflexo, instinto”.

Um relato de uma estudante fez com que a página do bar Quitandinha, no mesmo bairro, ficasse repleta de comentários negativos.

Segundo seu depoimento no Facebook, ela estava com uma amiga no bar quando foi abordada por dois rapazes que as xingaram após terem a investida recusada.

“Chamamos o garçom e pedimos para ele afastar os caras. Nada foi feito.” No final, diz, as amigas acabaram expulsas do bar, que teria defendido os agressores.

O bar se defendeu na rede social, afirmando que trabalha para descobrir o que aconteceu e “responsabilizar os culpados”. A Folha entrou em contato com o proprietário, que indicou a assessoria de imprensa do estabelecimento. Esta, porém, não foi localizada nesta quarta-feira, dia 10.

Outro caso de assédio acabou em violência e com o suspeito preso. De acordo com a polícia, um cabeleireiro de 30 anos agrediu com socos, chutes e cabeçadas uma mulher de 24 anos na rua da Consolação (centro) após participarem do desfile de um bloco.

Ela teve hematomas e o nariz fraturado. Os dois são namorados, segundo a Secretaria da Segurança Pública.

Para coibir casos como esse, três mulheres criaram a campanha “Apito Contra o Assédio” em São Luiz do Paraitinga, no interior paulista. Cerca de 5.000 apitos foram distribuídos durante o Carnaval.

A ideia é simples: quando um homem ultrapassar os limites, a mulher apita, indicando que precisa de ajuda.

“Estamos cansadas de aceitar o assédio. Sempre aconteceu, só que agora resolvemos falar”, diz a professora Marina Gabos, 25, uma das organizadoras. Para ela, uma nova geração está disposta a mudar essa cultura. “A gente também gosta de paquerar, mas não é que tudo pode. Não pode por a mão no meu corpo se eu não estou a fim.”

Fonte: UOL

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