‘Black Salary Friday’ adverte sobre diferença salarial entre negros e brancos
De acordo com o IBGE, trabalhadores negros ganham R$ 1,2 mil a menos do que um branco
Aproveitando o Mês da Consciência Negra, o Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) lançou uma campanha que ironiza o evento global de compras com descontos conhecido como “Black Friday”, que se realiza na sexta-feira (23). “Black Salary Friday: contrate um profissional com 47% de desconto” chama a atenção para a diferença salarial entre brancos e negros que persiste no país. De acordo com dados do IBGE, trabalhadores negros ganham R$ 1,2 mil a menos do que um branco, em média.
Um dos rostos da campanha é o rapper, compositor, produtor e apresentador Thaíde. “Isso tem que acabar. Respeito é um valor que não pode ser negociado”, afirma em um vídeo da campanha. “Não apenas nesta sexta-feira, mas todos os dias. Sabem quem está oferecendo este desconto? O preconceito”, completam a atriz Maria Gal e o cantor Jairzinho.
De acordo com pesquisa recente da Rede Nossa São Paulo, intitulada “Viver em São Paulo: Relações raciais na cidade”, a população reconhece esse preconceito no cotidiano, especialmente os afetados. Para 62% da amostragem de paulistanos retratada na pesquisa, existe diferença no tratamento entre brancos e negros no ambiente de trabalho. Esse número sobe para 70% entre os negros e cai para 54% entre os brancos.
Dois terços dos paulistanos percebem que os negros têm menos oportunidades no mercado de trabalho. Uma vez inseridos, a desigualdade persiste, como destaca a campanha. De acordo com dados da pesquisa Características do Emprego Formal da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho, em 2014, a média salarial entre negros com ensino superior era de R$ 3.777,39. Já entre os brancos, o valor sobe 47%, para R$ 5.589,28.
“Apesar do crescimento em qualificação, a população negra com o mesmo nível de estudo ainda recebe bem menos. Nossa intenção é acabar com esse abismo e com as barreiras subjetivas como o racismo para alertar as pessoas, principalmente os empregadores, que é preciso continuar considerando a desigualdade racial um problema e buscando soluções para enfrentá-la”, resume a diretora executiva do ID_BR, Luana Génot.
O cenário pode ficar ainda mais complicado levando em conta a posição do futuro governo Jair Bolsonaro do PSL) e seus aliados. Reduzir a desigualdade racial no mercado de trabalho é um objetivo da agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). O pacto foi assinado pelo governo brasileiro em 2015 e visa ampliar o desenvolvimento sustentável no planeta. Aliados de Bolsonaro já se mostraram favoráveis à saída do Brasil do pacto. Além disso, o político e sua base são conhecidos por serem contrários a políticas afirmativas como cotas.
Fonte: Rede Brasil Atual