Brumadinho: a tragédia mais que anunciada
Desde a tarde do 25 de janeiro Minas Gerais volta a estar no centro das atenções do Brasil e do mundo. A razão, mais uma vez, é uma tragédia no setor da mineração. Infelizmente, o rompimento da Barragem da Mina Feijão, pertencente à Mineradora Vale, uma das cinco maiores e mais importantes do planeta, no Munícipio de Brumadinho, não é uma situação isolada.
Só nos últimos 17 anos, ocorreram tragédias na Mineração Rio Verde, em Nova Lima (2001), na Mineração Rio Pomba Cataguases, em Miraí (2007), na Mineração Herculano, em Itabirito (2014) e em Mariana, na Vale-Samarco (2015). É cada vez mais evidente que todos os rompimentos são frutos das ações irresponsáveis das empresas e da omissão dos poderes públicos durante anos.
Como nos casos anteriores, os acontecimentos terríveis só ocorreram porque a Vale do Rio Doce, há muito tempo, não vem cumprindo suas obrigações mínimas nas áreas de segurança e saúde e muito menos vem sendo devidamente fiscalizada.
No caso de Mariana, Siticop-MG denunciou a Vale junto a OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, sendo que a organização internacional, que reúne 36 países e tem como objetivo o fortalecimento da economia global e relações, já se reuniu formalmente com o Siticop-MG e estuda os passos a serem tomados.
A tragédia de Brumadinho, que teve sua origem num Acidente de Trabalho Ampliado, já se anuncia como o mais grave da história ocupacional do País. Ocorreu no ambiente de trabalho, durante as atividades da Empresa, mediante uma gestão ocupacional determinada e tendo a ampla maioria de trabalhadores da Vale, diretos ou terceirizados, entre as vítimas. Mostrou mais uma faceta perversa do liberalismo, do recolhimento do Estado em suas obrigações constitucionais e da retirada dos direitos trabalhistas e sindicais. Ao se recusar a receber e a ouvir os sindicatos, entre eles, o Siticop-MG, a Vale deixa claro que impõe relações internas autoritárias e despreza seus funcionários e a vida humana.
No ambiente externo, o desastre demonstra falhas no processo de licenciamento, fiscalização, monitoramento, de vigilância, de acompanhamento e do sistema de emergência.
O Acidente é um crime porque, apesar das evidências do alto impacto em caso de ruptura, dos reiterados alertas e das denúncias feitas, inclusive do Siticop-MG, que denunciou claramente as condições da Barragem de Brumadinho, a Vale do Rio Doce não vem cumprindo a legislação e as normativas de segurança no ambiente de trabalho. Tais comportamentos e procedimentos significam que a tragédia tem que ser considerada crimes contra os trabalhadores e trabalhadoras, contra a população e a economia regional. O mesmo tem que ser dito em relação aos órgãos e instituições públicas responsáveis pela fiscalização e acompanhamento.
Sendo assim, o Sindicato responsabiliza o conglomerado Vale do Rio Doce, o Estado brasileiro e o Estado de Minas Gerais pelo ocorrido e exige amparo imediato às vítimas diretas e a seus familiares, além de garantir o devido acolhimento e socorro a todo atingido.
Ao reconhecer e invocar a solidariedade da população, o Sindicato convoca as entidades e a todas as pessoas a transformarem a indignação individual em mobilização popular permanente pela exigência de justiça, condições dignas de trabalho e segurança na mineração e para o conjunto da população.
As riquezas do País têm que ser colocadas a serviço da melhoria das condições de vida do povo brasileiro. Não podem servir apenas aos interesses do capital. E, muito menos, não podem ser fábricas de tragédias. Sendo assim, convoca a população e demais entidades a se mobilizarem para garantir:
– Apoio imediato e integral às vítimas e seus familiares – que a Empresa e os governos assumam as suas responsabilidades e garantam assistência a todos, trabalhadores da Vale ou não.
– Transparência nas investigações e garantia de justiça – pela constituição de Comissão de Investigação Independente, bipartite entre o Estado e a sociedade civil, que reúna a fiscalização do Trabalho, o Ministério Público do Trabalho, o Governo de Minas, o Ministério Público Estadual, a Assembleia Legislativa, o Crea-MG, o Siticop-MG, entidades sindicais e instituições e movimentos da sociedade civil.
– Condições dignas de vida para as vítimas e atingidos – garantia dos empregos diretos e indiretos gerados pela Vale na Região e reparação e indenização pelos danos causados à população de Brumadinho e das regiões afetadas.
– Constituição de uma força tarefa de fiscalização e avaliação, bipartite entre o Estado e a sociedade civil, que verifique as condições das barragens de Minas Gerais.
– Aprimoramento, melhoramento e atualização da legislação do setor mineral, tanto em nível federal como estadual, e garantia de sua implantação.
– Garantia de salários e condições das convenções e acordos coletivos e de assistência social a todos os trabalhadores vitimados e não vitimados da Vale e das empresas sub contratadas (terceirizadas) lotados no Complexo do Córrego do Feijão durante todo o processo de embargo do Site.
José Antonio da Cruz – Presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada de Minas Gerais – Siticop-MG
Fonte: Siticop-MG