Denúncia revela mais de cem estupros por soldados da ONU
Forçadas por comandantes a manter relações sexuais com animais, vítimas de estupros denunciam os soldados internacional na República Centro Africana e abrem uma nova crise nas Nações Unidas. No total, mais de cem meninas, mulheres e meninos apresentaram seus relatos de abusos cometidos entre 2013 e 2015, criando um clima de consternação na ONU e acusações por parte de ongs de que a cúpula das Nações Unidas continua a abafar os casos.
Há pelo menos dez anos a entidade insiste que não tolera qualquer violência sexual por parte de seus soldados. Mas, apesar das declarações, o problema é considerado como generalizado e, na melhor das hipóteses, oficiais pegos em crimes são repatriados a seus países de origem. Poucos são julgados e condenados, enquanto governos e a cúpula da entidade se esforçam para encerrar os casos.
Desta vez, porém, os relatos revelados nesta semana não conseguiram ser minimizados. No total, 108 vítimas foram entrevistadas no país africano por investigadores. Muitas tinham menos de 18 anos e contam que foram estrupradas por soldados da ONU, abusadas sexualmente ou exploradas por tropas estrangeiras.
Num dos relatos, garotas revelaram que tropas francesas as amarraram e as forçaram a manter relações sexuais com cachorros. Em troca do « show », receberam o equivalente a US$ 9,00. Tres meninas chegaram a dizer que o abuso ocorreu dentro do acampamento das tropas francesas e sob o monitoramento de um comandante. Uma quarta menina estuprada acabou morrendo alguns meses depois.
Num tentativa de deixar claro que o governo em Paris desaprova os atos, o embaixador francês na ONU, Francois Delattre, condenou os atos e chamou a descrição de « doente ». Paris também garantiu que vai agir de forma exemplar contra os culpados.
As tropas francesas não fazem parte do contingente da ONU. Mas foram enviadas para a África por uma resolução do Conselho de Segurança.
Nesta semana, num encontro a portas fechadas, o Conselho de Segurança considerou que os casos de estupros são « generalizados e sistemáticos » e estuda novas formas para lidar com a epidemia que afeta as tropas de paz.
Pelas regras da ONU, porém, são os governos que fornecem as tropas que devem investigar os abusos. Em agosto, o secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, já havia demitido o comandante na RCA. Mas os casos continuaram. Além do sexo com cachorros e as mais de cem vítimas, a semana também registrou casos de soldados do Burundi e Gabão aparecendo como autores de estupros, numa onda de revelações que mergulha a ONU em um séria crise.
Fonte: Estadão