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Empresa com paridade de gênero oferece nova experiência em transporte

Na Colômbia, mulheres ocupam apenas 9% dos postos de trabalho no setor de transporte. Nesse contexto, foi criada a empresa La Rolita, em Bogotá, capital do país. Segundo matéria publicada no portal de notícia colombiano “El Espectador”, a empresa operadora de transporte público surge de uma licitação (meio pelo qual sistema de ônibus são concedidos à empresas privadas) em que nenhuma empresa se candidatou para a operação de 11 linhas de ônibus que atenderiam 35.000 pessoas moradoras da região sul da cidade colombiana – área historicamente atendida pelo transporte informal.

Assim, a nova empresa pública chamada La Rolita nasceu da necessidade de atender uma demanda de transporte que, a priori, não interessava ao setor privado. Aproveitando a oportunidade de criação de algo novo como chance de explorar novos jeitos de fazer, La Rolita também surgiu com o compromisso de garantir a paridade entre homens e mulheres na operação do serviços – o que significa elas ocupando, no mínimo, 50% dos postos de trabalho, desde a direção até a manutenção dos ônibus.

Nada mais justo, já que elas são 50% da população, assim como no Brasil, onde a presença masculina na operação de sistemas de transporte é predominante. Na cidade de São Paulo, por exemplo, apenas 2,16% das pessoas na direção de ônibus são mulheres, de acordo com dados de 2019.

Na época do início da operação da empresa La Rolita, em setembro de 2022, Claudia López Hernández, prefeita de Bogotá – uma das poucas mulheres em cargo oficial à frente das grandes capitais latinoamericanas -, afirmou por meio de pronunciamento público:

“Este mês teremos o início da operação da nova operadora de transporte público. Não queremos que Bogotá dependa somente de operação privada. Temos muita gratidão com quem o realiza, mas é melhor ter um sistema misto para que possamos aprender juntos e responder aos desafios da cidade”, enquanto reforçava que a operação dos ônibus será realizada por ônibus elétricos. Medida que leva a inovação também para o campo do meio ambiente, ao assumir o compromisso de uma empresa pública de ônibus zero emissões de poluentes atmosféricos e Gases Efeito Estufa (GEE).

É importante lembrar que o acesso às vagas de trabalho associadas à operação de serviços de transporte, para muitas mulheres, significa a possibilidade de acessar o mercado de trabalho formal com garantia de todos os direitos trabalhistas relacionados, assim como um aumento da renda familiar. Isso em um contexto em que cerca de 70% das 1.3 bilhões de pessoas vivendo em condições de pobreza no mundo são mulheres, e em que elas são responsáveis (chefes de famílias) por 40% dos lares mais pobres em áreas urbanas.

Sabendo das dificuldades que mulheres, sobretudo as que estão em situação de vulnerabilidade social, enfrentam para obter a qualificação necessária para o exercício de profissões que historicamente não são ocupadas por elas, a nova empresa de ônibus colombiana ofertou cursos de formação com acesso a todos os conhecimentos necessários para a direção dos ônibus e apoiou a obtenção da licença veicular para a direção desses veículos.

Iniciativa realizada com o apoio da cooperação internacional, que inclui conhecimentos específicos sobre a condução de ônibus elétricos e habilidade socioemocionais, de acordo com entrevista concedida ao portal “El Espectador” por Diana Parra, subsecretaria de Cuidado e Políticas de Igualdade de Bogotá.

E essa não é a única experiência bogotana com a inclusão de mulheres na operação de sistemas de transporte. O Distrito de Bogotá também realizou a revisão da forma de anunciar vagas de trabalho com a mudança da linguagem utilizada a partir do uso de linguagem inclusiva, isto é, sem usar as generalizações no gênero masculino.

Além disso, foram incluídas chamadas específicas para mulheres, ou então chamadas existentes foram adaptadas para afirmar que as vagas também são para elas, não só para eles. Essa medida já demonstra efeitos positivos, tendo ampliado o número de trabalhadoras no TransMilenio, sistema de transporte de alta capacidade, em corredor exclusivo (BRT), que atende mais de 300.000 pessoas por ano.

La Rolita traz para as cidades da América Latina a oportunidade de acompanhar uma experiência inovadora de oferta de sistemas de ônibus em grandes capitais à medida que alinha igualdade de gênero, descarbonização da frota de ônibus e revisão do modelo de gestão ao comprometer-se com o aumento da participação pública direta na prestação do serviço.

Vale a pena acompanhar as experiências bogotanas como inspirações de possibilidades mais inclusivas para pensar a equidade de gênero na operação das cidades, e também como convite para olharmos criticamente e rever como são operados os serviços de transporte coletivo nas cidades brasileiras.

É necessário nos conscientizarmos de que um sistema de transporte não pode ser verdadeiramente inclusivo para a diversidade de pessoas que o utilizam se a forma como são geridos e operados não é baseada nos mesmo valores. E isso é válido para qualquer prestação de serviço comprometida com a democracia, diversidade e acessibilidade.

Fonte: Coluna Kelly Fernandes no UOL

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