Exausta, revoltada e esperançosa: veja as reflexões de uma CEO no Dia da Mulher

Mais um dia 8 de março e, para ser exata, meu sexto desde que passei a ocupar esse “seleto” grupo de mulheres que são CEOs. Comecei a escrever esse artigo por incentivo de outra mulher, que conhece tanto a minha paixão pela escrita quanto a minha vontade de incentivar outras mulheres a ocuparem esses espaços. Mas dessa vez é como se eu enfrentasse um bloqueio criativo.
Uma parte de mim está exausta. Não aguenta mais falar sobre o fato de sermos apenas 6% de CEOs mulheres no mundo. Também não aguenta mais trazer evidências de que empresas lideradas por mulheres entregam resultados (inclusive até maiores do que aqueles suas contrapartes masculinas). E, por fim, quase não tem forças para pensar que nessa velocidade, como mostram as pesquisas, só chegaremos a equidade de gênero lá em 2038.
Outra parte de mim está revoltada. Não consegue entender como a sociedade tem caminhado para trás e aceitado modelos de liderança que se provaram ineficazes em um passado tão recente. Oscila entre a ira e o medo ao não saber se está lidando com uma minoria barulhenta ou com os primórdios de uma distópica Gilead, cenário do romance de Margaret Atwood, o conto de Aia.
Mas, felizmente, minha última parte tem esperança. Se enxerga como parte da mudança. Quer enaltecer mais mulheres em público para que elas não tenham dúvidas da sua capacidade. Quer rever as estruturas de parentalidade para que o ônus e o bônus recaiam de maneira mais igualitária entre homens e mulheres. Quer escrever um artigo para que eventualmente possa tocar alguma pessoa em algum lugar do Brasil.
Por algum tempo fiquei encarando a folha de papel e pensando qual das minhas partes iria se sobressair. Mas, depois de ler as palavras que foram tomando forma, celebro a mulher que continuo escolhendo ser: aquela que continua acreditando, por mais barulhento que possa estar lá fora.
E é isso que eu desejo para todas as minhas colegas mulheres neste 8 de março e ao longo de todo 2025. Que a esperança continue nos preenchendo. Afinal, é isso que nos diferencia e nos torna tão necessárias.
*Manoela Mitchell é Economista, CEO e cofundadora da Pipo Saúde, reconhecida como uma das mais influentes da América Latina pela Bloomberg, Innovators Under 35 (2024) pela MIT, Empreendedora Endeavor, membra do YPO e Linkedin Top Voice
Fonte: Universa/UOL