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Falsa maioria e como as redes sociais podem distorcer a realidade

Falsa maioria pode dar a ideia de que todos concordam sobre algo, menos você. Não é verdade
Falsa maioria pode dar a ideia de que todos concordam sobre algo, menos você. Não é verdade – Imagem: Getty Images

Você acredita que todas as suas amizades foram para a praia nesta virada de ano, menos você, que ficou entediada ou entediado pulando de filme em filme depois da euforia das festas? Se a sua resposta é sim, então você já sabe o que é uma falsa maioria. E o estrago que isso causa na imaginação coletiva.

Pense o algoritmo como uma receita: eu quero que os comentários que mais pareçam entre si ocupem o topo de uma publicação. Daí, é só programar e pronto. Mesmo que aquela opinião seja apenas 1% do total, ela vai parecer a mais popular. Por aparecer mais, por aparecer primeiro. Ao ler, você sairá com a sensação de que todo mundo por ali concorda, pensa parecido. Menos você. Não é verdade.

Construir uma falsa maioria é uma das estratégias mais eficazes no ambiente digital. De hoje em diante, perceba como existem movimentos coordenados para fazer parecer que uma determinada ideia ou visão de mundo é a predominante nas redes. Muitas vezes, é só a maneira como a informação foi organizada. Um dos resultados: a distorção da realidade.

Nos anos 1970, a alemã Elisabeth Noelle-Neumann nos deu pistas de como essa distorção começa a acontecer. Batizado de “espiral do silêncio”, o conceito aponta o desafio emocional e social que é sustentar uma opinião num ambiente em que todas as outras parecem pensar muito diferente de você. Imagina o que Noelle-Neumann pensaria deste novo ingrediente adicionado à teoria: o algoritmo.

Por si só, algoritmo não sabe saber. Recebe um comando e segue. Ou seja, age feito quer o dono da plataforma, quem o programa. Se o algoritmo é construído para dar destaque a um tipo de imagem ou a um punhado de palavras-chave, é isso que ele vai fazer. O comportamento de quem usa aquela plataforma também influencia nessa dinâmica.

A falsa maioria é, então, essa percepção de que uma determinada opinião, comportamento ou posição é compartilhada pela maioria das pessoas de um ambiente. Na verdade, ela pode estar sendo sustentada por um grupo minoritário muito bem-organizado. E que recebe uma atenção especial da plataforma. Uma prioridade no alcance de suas mensagens, da sua visão de mundo.

Em resumo, é isso: se o dono de uma rede social quer induzir seus usuários a pensarem que o rosa não é uma cor assim, tão bonita, é só adicionar essa intenção ao seu algoritmo. Entendeu aonde eu quero chegar?

Fonte: Coluna Tony Marlon no Ecoa/UOL