Gestores denunciam Caixa por assédio moral e relatam transtornos mentais a entidade
Episódios são relatados desde 2019 pela Fenag, que ingressou com uma ação na Justiça do Trabalho
A Federação Nacional das Associações de Gestores da Caixa (Fenag) ingressou com uma ação coletiva junto ao Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região, em Brasília, contra a Caixa Econômica Federal por assédio moral. O caso aguarda julgamento.
Desde 2019, mais de nove ofícios relatando episódios de assédio e de intimidação contra servidores que ocupam cargos de gestores foram enviados à direção do banco. Nada foi feito até o momento, segundo a entidade.
Transtornos de ansiedade, depressão e síndrome de burnout seriam algumas das doenças desenvolvidas por funcionários em razão do suposto modelo de gestão adotado por algumas unidades da Caixa. Procurada, a instituição diz não ter conhecimento da ação.
Os casos chegaram ao conhecimento da vice-presidência de rede de varejo da Caixa ainda em 2019, por meio de ofícios que solicitavam a adoção de medidas urgentes para solucionar o “lamentável quadro de assédio moral institucional”.
Uma gestora da Caixa em Teresina, por exemplo, diz ter tido apenas 30 minutos para acatar uma convocação e assumir uma agência localizada no Ceará, a 500 km de distância de sua residência. Outra servidora relata ter sofrido ameaças de transferência e de perda de função após recusar investidas de cunho sexual no ambiente de trabalho.
A Fenag ainda afirma que gestores da Caixa foram orientados a deletar postagens de redes sociais com posicionamentos políticos para evitar retaliações, principalmente aquelas que faziam críticas ao atual governo.
No final de 2019, centenas de gestores tiveram que fazer uma prova escrita com questões superficiais. Elas não correspondiam à qualificação dos profissionais e apresentavam viés político, segundo relatos.
Uma delas perguntava se o servidor concordava com a reforma da Previdência proposta pelo governo federal, então sob o comando de Jair Bolsonaro (PL).
A eles também foi passada a instrução de evitar vestimentas e objetos pessoais na cor vermelha, como gravatas, vestidos, sapatos e capinhas de celular. O que deveria ser seguido, de acordo com denúncias feitas à Fenag, era a “paleta de cores da Caixa”.
Na ação apresentada à Justiça do Trabalho também são relatados episódios envolvendo a imposição de metas de produtividade excessivas, uso de canais não oficiais como o WhatsApp para fazer cobranças, inclusive durante a madrugada, e punições indevidas para dar exemplo de gestão.
Outros casos de assédio moral na Caixa Econômica Federal já vieram a público desde que Pedro Guimarães foi denunciado por assédio sexual. Ele deixou a presidência do banco em junho deste ano.
Como mostrou a Folha na segunda-feira (18), dezenas de funcionários da Caixa que chegaram ao topo da carreira estão lotados em agências bancárias ou subaproveitados. Como resultado da distorção, ex-dirigentes com salários de até R$ 45 mil dividem as mesmas funções com servidores recém-ingressados no banco que ganham cerca de R$ 3.000.
Funcionários ouvidos reservadamente pela Folha afirmam que foram alvo de retaliação por terem ocupado altos cargos nos governos petistas ou por terem tido atritos com a gestão do ex-presidente Pedro Guimarães. O caso está sendo investigado pelo MPT (Ministério Público do Trabalho).
Fonte: Coluna da Mônica Bergamo/Folha de São Paulo