Insatisfação e remuneração inadequada aumentam o risco de fraudes dentro das empresas
Insatisfação com o trabalho e remuneração inadequada são problemas que afetam não apenas os funcionários que sofrem com essas situações, mas toda a estrutura de uma empresa. O reflexo disso está em pesquisa realizada pela consultoria KPMG com 596 profissionais, apontando que 17% deles sente-se subvalorizado no cargo que ocupa.
Já 14% dos entrevistados afirmam que o medo é o sentimento determinante para cometer um ato ilícito. Logo atrás estão os mal remunerados, 13% dos que praticam alguma ilegalidade.
Na avaliação da advogada e presidente do Instituto Compliance Brasil, Sylvia Urquiza, situações assim são precedentes bastante comuns para um ato fraudulento dentro de qualquer empresa, merecendo mais atenção por parte de seus dirigentes.
“Se somarmos a situação de funcionários insatisfeitos com a falta de um programa de compliance estruturado, o retrato é este. Esses dois lados precisam ser bem trabalhados em busca de melhores práticas”, afirma.
E essa condição pode estar ainda mais próxima da realidade se considerado o contexto das empresas instaladas no Brasil neste período de saída da crise. Segundo recorte do Índice de Confiança Robert Half, a maior parte dos profissionais qualificados que perderam seus empregos nos últimos três anos foi realocada em até um ano, mas 60% deles aceitaram posições com salários mais baixos do que a posição anterior. Entre os que tiveram o salário reduzido, 56% responderam que o corte foi acima de 20%.
“A redução de renda e, por consequência, do padrão de vida, pode fazer com que esse profissional sinta-se pressionado. Em uma empresa sem uma área de compliance desenvolvida, esse pode ser o caminho para um ato ilícito”, detalha Ricardo Lemos, professor da Trevisan Escola de Negócios.
Se por um lado as empresas ainda não podem ou não são capazes de oferecer incentivos financeiros aos funcionários, evitando comportamentos inadequados, por outro é preciso agir rápido neste tipo de situação. O primeiro passo, indica o diretor-geral da Robert Half, Fernando Mantovani, é o desenvolvimento de uma área dedicada às boas práticas. Feito isso, é hora de estruturar outros tipos de bônus.
“Remuneração abaixo do pretendido não pode ser razão para irregularidades, mas sabemos que acontece. Então a empresa deve mapear sua estrutura e pensar em planejamento de carreira, oferta de projetos paralelos, bônus de longo prazo, plano de previdência privada. Isso pode equilibrar a balança”, exemplifica.
Sylvia Urquiza reforça que a solução passa não apenas pela remuneração, mas essencialmente pela boa gestão.
“A falta de gerenciamento aumenta os riscos. Assim, a solução também inclui um ambiente motivador, destacando que práticas incorretas não serão toleradas.”
Fonte : Estadão