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Mais mulheres no poder, mais benefícios para todos

As mulheres representam 21,9% de todos os parlamentares e 39 câmaras de deputados do mundo contam com pelo menos 30% de mulheres

A participação das mulheres nos processos de tomada de decisões é altamente rentável e seu papel no desenho e na aplicação das políticas públicas impacta favoravelmente na vida das pessoas, afirmaram na capital do Chile mulheres líderes e especialistas procedentes de todos os continentes.

“Não é um problema de homens contra mulheres, mas existe evidência de que, quando há mais mulheres em espaços de decisão há mais possibilidades e há resultados que mostram que as políticas beneficiam muito mais as famílias, as mulheres e a sociedade em geral”, afirmou à IPS a diretora-executiva da Oxfam Internacional, Winnie Byanyima.

Por exemplo, acrescentou Byanyima, “quando as mulheres estão no parlamento, elas promovem muito mais legislação a favor das mulheres, quando há suficiente representação de mulheres nos parlamentos, há direitos das crianças que são atendidos, e, quando as mulheres estão em níveis de poder, também falam pelos direitos e pelas necessidades das comunidades, porque estão mais perto da vivência de suas necessidades”.

Byanyima, natural de Uganda, é uma das mais de 60 mulheres de governo e líderes que se reuniram em Santiago nos dias 27 e 28 de fevereiro, para participar da reunião internacional de alto nível As Mulheres no Poder e a Tomada de Decisões: Construindo um Mundo Diferente, organizado pela ONU Mulheres e pelo governo do Chile.

O encontro foi encabeçado pela presidente chilena, Michelle Bachelet, que foi a primeira diretora-executiva da ONU Mulheres (2010-2013), e sua sucessora, a africana Phumzile Mlambo-Ngcuka. Também participou da abertura do encontro o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon.

A reunião foi realizada em celebração dos 20 anos da Quarta Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada na capital chinesa em setembro de 1995, na qual 189 governos assinaram a Declaração e a Plataforma de Ação de Pequim, que impulsionou um pacote de medidas a favor da igualdade de gênero e do empoderamento das mulheres.

Duas décadas depois, os defensores dos direitos das mulheres reconhecem progressos, porém mais lentos e limitados do que os prometidos naquele plano de ação. No acesso das mulheres aos postos de tomada de decisões, a representação se mantém escassa.

Em 1995, as mulheres representavam 11,3% dos legisladores no mundo e apenas os parlamentos da Dinamarca, Finlândia, Holanda, Noruega e Suécia tinham mais de 30% de mulheres em suas cadeiras. Além disso, apenas três mulheres eram chefes de Estado e sete eram chefes de governo. Agora, as mulheres representam 21,9% de todos os parlamentares e 39 câmaras de deputados do mundo contam com pelo menos 30% de mulheres. Atualmente, dez mulheres são chefes de Estado e 15 são chefes de governo.

Na América Latina e no Caribe, uma em cada quatro integrantes do Poder Legislativo é mulher, e seis mulheres conquistaram, nos últimos 23 anos, a Presidência de seus países por meio do voto, quatro delas na última década, das quais três foram reeleitas.

Bachelet governa o Chile pela segunda vez desde março de 2014, após ter governado no período 2006-2010. No Brasil, Dilma Rousseff iniciou em janeiro seu segundo mandato consecutivo e na Argentina Cristina Fernández preside o país desde 2007, tendo sido reeleita em 2011.

Na cúpula sobre Mulheres e Poder estiveram presentes mandatárias, como a presidente da Lituânia, Dalia Grybauskaité, e a vice-primeira-ministra da Croácia, Vesna Pusic, junto com várias vice-presidentes e um grupo de ministras de todo o mundo.

Junto aos êxitos, se assegurou durante diferentes intervenções, persistem múltiplas barreiras, tanto políticas como culturais, sociais e econômicas, para o acesso das mulheres aos cargos de poder. Além disso, “ainda há países que não avançaram e não há progresso”, alertou Byanyima, da Oxfam, uma das maiores organizações humanitárias do mundo.

A peruana Tarcila Rivera, jornalista e ativista pelos direitos dos povos indígenas, em particular das mulheres, afirmou à IPS que, no balanço das duas últimas décadas, “deve ficar claro que avançamos diminuindo apenas algumas brechas”. Para Rivera, fundadora do Centro de Culturas Indígenas do Peru, há diferenças nos progressos registrados para as mulheres indígenas e as não indígenas. Além disso, persistem as brechas na educação, participação, violência e acesso econômico.

Segundo estatísticas da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), uma em cada duas mulheres da região está fora do mercado de trabalho e uma em três não dispõe de renda própria, enquanto somente um em cada dez homens se encontra na mesma condição. Outro estudo da Cepal mostra que, se as mulheres tivessem o mesmo acesso que os homens ao emprego, a pobreza diminuiria entre 1% e 14% nos países latino-americanos.

“No mundo já temos provas suficientes que mostram os efeitos positivos da liderança das mulheres”, afirmou Mlambo-Ngcuka, que antes de dirigir a ONU Mulheres também foi a primeira vice-presidente na África do Sul (2005-2008). “Elas constroem e administram eficazmente países e cidades, economias e instituições”, acrescentou.

Porém, Mlambo-Ngcuka alertou que “pode existir uma resistência manifesta e outra sutil à liderança das mulheres”, por isso pediu que haja mais valor e decisão “para que a mudança aconteça”. Ela contou que durante um encontro com representantes da sociedade civil chilena, no dia 26, usou como referência uma mulher grávida, que dará à luz em seis semanas.

“Recordei a todos os presentes que sua filha, que está prestes a nascer, terá 60 anos antes que o mundo lhe conceda a igualdade de oportunidades políticas, e que essa bebê terá 80 anos antes de gozar de igualdade de oportunidades econômicas”, caso prossiga no ritmo atual o processo de avanço da paridade de gênero, destacou Malambo-Ngcuka.

De acordo com as líderes e especialistas reunidas em Santiago, a mudança não pode continuar recaindo fundamentalmente nas organizações defensoras dos direitos das mulheres e da sociedade civil. É necessária a ação das autoridades e dos poderosos, homens e mulheres.

“As herdeiras de Pequim são herdeiras de vozes que nos interpelam e nos pedem que coloquemos a igualdade na agenda política”, afirmou a mexicana Alicia Bárcena, secretária-executiva da Cepal. “Depois de 20 anos da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim, as mulheres sabem o que é preciso para alcançar a igualdade de gênero. Agora é hora de agir”, ressaltou.

Fonte: Envolverde

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