O Brasil da diversidade subiu a rampa, mas muito ainda precisa ser feito
Necessário destacar o quanto foi importante para a representatividade da pessoa com deficiência trazer Ivan Baron na cerimônia de posse do presidente Lula no primeiro dia de 2023.
Não apenas por ser ele um jovem com deficiência, mas por ser ele quem é e a quem devemos agradecer por sua incansável persistência em trazer para as mídias sociais os temas da pessoa com deficiência no Brasil.
Desde expressões e formas mais adequadas de se referir a nós até relatos de situações capacitistas que acabam atrapalhando a inclusão da diversidade em seus variados grupos, no mercado de trabalho e na sociedade como todo.
Ivan é uma pessoa interseccionada. Além de ser uma pessoa com deficiência, é nordestino, de região periférica e humilde e que nunca deixou de acreditar nas suas capacidades, nos seus direitos. Ele presta um grande serviço em suas redes sociais para trazer mais conhecimentos, conteúdos e informações sobre inclusão, acessibilidade, o que colabora – e muito – em nos tirar da invisibilidade.
Muito além da simbologia, a atitude trouxe um sopro de esperança e reforçou o compromisso do novo governo com demandas dessa população que não pode mais ficar na invisibilidade.
Sobretudo, reforça também nosso papel de cobrar ações e resultados. A imagem do “Brasil da diversidade” na posse deve servir – antes de tudo – para atender a urgência de criação de políticas públicas que estimulem o desenvolvimento de medidas que vão tornar o país um lugar muito mais acessível e justo para todas as suas diversidades.
Em primeiro lugar, é preciso criar mecanismos que protejam as poucas políticas que atendem às pessoas com deficiência. Isso porque, a todo momento, convivemos com medidas e decisões governamentais que tentam barrar e extinguir nossos direitos básicos já conquistados.
Um exemplo disso é o Decreto nº 10.502/2020, assinado em 30 de setembro de 2020 e que ficou conhecido como “Decreto da Exclusão”, que propunha uma política capacitista, excluindo as crianças com deficiência do convívio com as demais nos ambientes escolares, incentivando o isolamento social, o que é exatamente o contrário da inclusão. Esse decreto foi revogado recentemente, em 2/1/2023.
Em seu primeiro discurso como novo ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Luiz Almeida, destacou que no novo governo “a vida e a dignidade humana estão em primeiro lugar”, reconhecendo o valor e as urgências dos grupos minoritários do país.
O incômodo que vai provocar mudanças de atitudes e impulsionar novas ações no tema da inclusão no país, começa pelo movimento do povo. Um exemplo disso foi a pressão das representações de pessoas com deficiência e da própria opinião pública que fez com que o novo governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, voltasse atrás na decisão precipitada de extinguir a Secretaria da Pessoa com Deficiência do estado, A pressão da opinião pública e representações das pessoas com deficiência foram fundamentais para reverter a atitude.
Contudo, a participação da diversidade representada nesse momento histórico de uma democracia, serve para nos lembrar sobretudo e todos os dias, do quanto ainda é preciso ser feito para aumentar a inclusão e o quanto teremos que cobrar como cidadãos. Precisamos de um governo que construa novas pontes que vão muito além da rampa.
Para isso, queremos estar presentes, participar e ser consideradas como pessoas brasileiras a cada decisão, a cada ação política que nos envolve. Porque tudo que esperamos é um governo que nos ouça e, principalmente, nos tire da invisibilidade, que nos conheça, para nos respeitar de fato.
A partir do respeito todo o resto se construirá com mais solidez, equidade e verdade. Que se multipliquem os “Ivans Barons” e pessoas aliadas das causas da população com deficiência.
*Carolina Ignarra é CEO e fundadora da Talento Incluir, consultoria que já incluiu mais de 8 mil profissionais com deficiência no mercado de trabalho. É influencer do LinkedIn e está entre as 20 mulheres mais poderosas do Brasil da revista Forbes em 2020
Fonte: Ecoa/UOL