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Reforma em casas na favela impacta saúde e autoestima

Pesquisa da Habitat Brasil mostra que 89% de beneficiados em mutirão tiveram melhora em sintomas respiratórios

Medo de levar choque, encontrar rato no banheiro e dormir no quarto abafado eram rotina na casa da diarista Maria Helena Raimunda, 64, na favela de Heliópolis. Durante a pandemia, um mutirão de reformas minimizou os problemas para ela e mais 680 famílias e aferiu os resultados: 98% relataram melhora na autoestima, entre outros impactos na saúde e na segurança.

“Tinha um monte de fio que eu não entendia e quando chovia ficava com medo”, lembra Maria Helena.

A casa de três cômodos ganhou conduítes para fiação, portas, janelas, azulejo e pia, entre outras melhorias. “Ia muito rato lá em casa, daí colocaram espuma nos buracos da telha e agora não vejo mais.”

A intenção da Habitat para a Humanidade Brasil, organização que conduziu o Programa Wash em parceria com empresas e negócios sociais, era oferecer um ambiente mais digno, saudável e seguro a famílias de baixa renda como resposta à crise sanitária. As obras foram de setembro de 2020 ao final de 2021 em dez estados brasileiros.

O perfil dos atendidos nas 41 comunidades é parecido com o de Maria Helena. Nascida em Picos do Piauí (PI), ela veio para São Paulo aos 16 anos para trabalhar em casa de família.

Morou na rua e passou fome. Construiu um barraco de madeira e foi mãe solo de cinco filhos. Hoje mora sozinha e vende cosméticos.

Quatro de cada cinco famílias que tiveram suas casas reformadas são chefiadas por mulheres, 43% são mãe solo e 94% têm renda de até dois salários-mínimos. Na pesquisa que avaliou a percepção de mudança após o programa, 98% afirmaram que a autoestima melhorou, dado que surpreendeu a equipe da organização.

Sensação compartilhada por outras famílias na avaliação. “Recebemos relatos de pessoas que tinham vergonha quando uma visita pedia para usar o banheiro e agora fazem questão de mostrá-lo”, diz Mário Vieira, diretor-executivo da Habitat Brasil.

Para 96% das famílias, o ambiente ficou mais privativo –conquista que veio com a instalação de porta no banheiro, por exemplo. Outros 98% afirmaram que as mudanças simplificaram a rotina de limpeza. Reforma em casas de 41 comunidades incluiu instalação de janelas para aumentar iluminação natural.

“Minha casa era feia, não tinha condição de mexer. Ou eu arrumava ou eu comia”, diz a diarista. “Agora está linda, ficou uma casinha de boneca.”, Maria Helena Raimunda diarista, 64.

A transformação incluiu desde instalar caixas de água até reformar todo o banheiro, com impermeabilização, remoção de trincas e vazamentos.

“A parte estética faz parte, mas procuramos sanar precariedades que afetam a saúde, principalmente no momento da pandemia”, diz Vieira.

Segundo a organização, as moradias atendidas apresentavam mofo nas paredes e tetos, goteiras nos telhados, pouca ventilação e iluminação natural, sem ambientes adequados para higienização. Terreno fértil para transmissão do coronavírus.

“Foi na época da doença, até abriram uma janela para entrar mais vento”, diz Maria Helena sobre sua reforma.

Metade das famílias tinha pelo menos um membro com problemas respiratórios como rinite, sinusite, asma ou bronquite. Depois das intervenções, 89% sentiram melhora nos sintomas das doenças e confirmaram a importância das reformas para a prevenção da Covid-19.

“É intuitivo que a condição das famílias melhorou, mas saber de que maneira a reforma impactou na prevenção a doenças nos dá subsídios para afinar o projeto”, diz Vieira.

Percepção das Mudanças após as reformas

Fonte: Relatório da Pesquisa de Percepção de Mudanças com as Famílias Atendidas pelo Programa Wash em 2021

  • 99% afirmam que a casa ficou melhor depois da intervenção
  • 98% sentiram melhora na autoestima
  • 98% declaram que as melhorias facilitaram a limpeza da casa
  • 96% apontam que o ambiente ficou mais privativa
  • 95% das famílias com membros com mobilidade reduzida afirmaram que a acessibilidade da casa melhorou
  • 94% consideram que a casa ficou mais segura
  • 89% sentiram melhora nos sintomas de doenças respiratórias.

Fonte: Folha de São Paulo

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