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Violência doméstica: empresas criam iniciativas para proteger funcionárias

Empresas como Magazine Luiza, Marisa e Uber estão incluindo o combate à violência doméstica na pauta de gestão de RH
Problema causa prejuízos de até R$ 1 bilhão ao país, segundo pesquisa da Universidade Federal do ABC
Entre as iniciativas mais comuns estão canal para denúncias, suporte psicológico e jurídico e transferência da vítima para outra cidade

No banheiro masculino, funcionários da rede de lojas Marisa podem se deparar com algumas mensagens inesperadas.

Não são os alertas tradicionais de qualquer empresa. Eram cartazes com frases como “Mulher é tudo igual: todas merecem respeito” e traziam para o ambiente corporativo um tema ainda tabu na sociedade: a violência doméstica.

O assunto faz sentido para uma companhia composta por 72% de mulheres. Mas, aos poucos, também está entrando na pauta de outras organizações. E se tornou particularmente mais relevante ao longo da pandemia, que forçou o convívio dos casais em tempo integral. Em março, após o início do isolamento social, o número de feminicídios aumentou, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Em abril, o total de denúncias recebidas no telefone 180, dedicado à mulher, foi 36% maior do que no mesmo mês em 2019.

“Esse é um problema de todos nós, e a iniciativa privada pode e deve usar seu poder de inovação para apresentar soluções”, explica Daniela Marques Grelin, diretora executiva do Instituto Avon. Até porque as próprias empresas são severamente afetadas: uma pesquisa da UFC (Universidade Federal do Ceará) em convênio com o Instituto Maria da Penha revelou que mulheres vítimas de violência doméstica faltam em média 18 dias de trabalho por ano, gerando uma perda anual de aproximadamente R$ 1 bilhão ao país.

Em apenas um ano, o canal de atendimento para casos de violência doméstica criado pela Marisa já ajudou mais de 40 funcionárias. “Já houve casos de providenciarmos a transferência de algumas dessas mulheres para outra cidade para conseguirem abandonar seu agressor”, explica Andrea Sanches, diretora de marketing da empresa.

Mas, mais importante do que o acolhimento após o crime, o RH tem apostado na prevenção – o que inclui os cartazes nos banheiros masculinos, mas também palestras para ajudar líderes e colegas a identificarem sinais de alerta. “A conscientização é fundamental porque nos dá a possibilidade de pegar o processo no início e evitar que ele acabe de maneira trágica” , afirma Andrea. “Muita gente, incluindo as vítimas, não sabe que antes da violência física vem a psicológica, geralmente acompanhada da exclusão da mulher dos seus círculos sociais e de um processo de destruição da sua autoestima.”

No Magazine Luiza, um crime mudou tudo
O RH do Magazine Luiza adotou a causa em 2017, quando o feminicídio de uma trabalhadora pelo próprio marido chocou a empresa. A empresa formou um comitê para tratar o tema e lançou um canal interno para receber denúncias e pedidos de ajuda de funcionárias, que já atendeu 425 casos.

“Às vezes a comunicação ocorre pelo WhatsApp com a ajuda de códigos. Se ela começar a falar sobre certo filme, por exemplo, é sinal de que está correndo perigo e pode ser necessário acionarmos um vizinho ou parente”, conta Ana Luiza Herzog, gerente de reputação e sustentabilidade da companhia.

Em abril e maio, no início da pandemia, o número de denúncias caiu pela metade – mas voltou a crescer em julho.

“Muitos dos contatos vêm de colegas de trabalho e gestores, ao notarem hematomas ou mudanças bruscas de comportamento nas vítimas”, explica Ana Luiza.

A dificuldade de pedir ajuda também inspirou a empresa a criar uma alternativa para suas consumidoras. No ano passado, ela implementou um botão “secreto” em seu aplicativo de compras que é conectado ao canal 180, para receber denúncias de violência doméstica.

A Uber também lançou, em parceria com o Instituto Avon, um chatbot no WhatsApp para dar suporte às vítimas e fornecer até mesmo ajuda material, se for o caso. Se identificada a necessidade de se deslocar para um hospital, delegacia ou casa de acolhimento, por exemplo, a pessoa irá receber um código promocional para solicitar uma viagem gratuita no aplicativo de transporte. Desde seu lançamento, em abril deste ano, o serviço já atendeu mais de 2.750 pessoas.

Mas, assim no no Magalu, a atuação da Uber contra a violência doméstica também começou “dentro de casa”, com um programa de assistência que pode realocar a funcionária em um escritório em outra cidade, por exemplo, ou alterar a conta de depósito do salário, para que o agressor não tenha acesso. A empresa também percebeu que a vítima precisa de tempo para se curar e reorganizar a vida. “Elas podem tirar das de trabalho para buscar abrigo e proteção, providenciar novas moradias, comparecer a audiências judiciais ou participar de aconselhamento , por exemplo”, afirma Cláudia

Woods, diretora-geral da Uber no Brasil.
O foco nas necessidades da mulher é uma das diretrizes sugeridas pelo Instituto Avon a outras empresas que queiram enfrentar esse problema. “Ela é a vítima, e toda ação deve antes buscar compreendê-la em toda a sua complexidade e ouvir o que tem a dizer”, afirma Daniela. Por isso, também não adianta tratar apenas como um “caso de polícia”.

“Muitas vezes, a vítima não consegue sair da situação por medo ou por não ter condições materiais e psicológicas para isso. É preciso dar acolhimento e respeitar o tempo dela”, explica.

O Prêmio Lugares Incríveis para Trabalhar é uma iniciativa do UOL e da Fundação Instituto de Administração (FIA) que vai destacar as empresas brasileiras com os mais altos níveis de satisfação entre os seus colaboradores. Os vencedores serão definidos a partir dos resultados da pesquisa FIA Employee Experience, que vai medir o ambiente de trabalho, a cultura organizacional, a atuação da liderança e a satisfação com os serviços de RH. As inscrições estão abertas até o dia 12/9 e podem ser feitas, gratuitamente, no site da pesquisa FIA Employee Experience.

Fonte: UOL

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