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Colega de trabalho vive tenso e irritado? Cuidado! Estresse é contagioso

Você já observou que em ambientes em que há pessoas estressadas você, invariavelmente, passa a ter um comportamento semelhante, como se tivesse sido contaminado pela raiva alheia? Por mais estranho que pareça, a sensação é real e os estados emocionais são contagiantes.

A explicação para essa transmissão do estresse estaria na biologia evolutiva. “Nós sobrevivemos como espécie porque fomos capazes de obter pistas através das expressões faciais e da linguagem corporal de outras pessoas, gerando uma resposta em nosso comportamento”, explica Mailton Vasconcelos, doutor em psicologia pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e assistente de pesquisa na Ruhr University Bochum, na Alemanha.

Em 2010, o neurocientista Tony W. Buchanan, professor da Universidade de St. Louis (EUA), conseguiu evidenciar que o estresse alheio tem potencial para nos afetar. A experiência consistiu em medir os níveis de cortisol de pessoas que apenas observavam o estresse em outras. O resultado, publicado na revista científica Social Neuroscience, revelou que os observantes tiveram os níveis do hormônio do estresse aumentados.

“O cortisol é produzido pelas glândulas suprarrenais e é responsável por distribuir energia ao corpo. Então, quando há um estressor físico, ele fornece mais energia aos músculos, para que você possa correr, por exemplo. Se o agente estressor for psicológico, o hormônio dá mais energia ao cérebro”, exemplifica a doutora em fisiologia Maria Bernardete Cordeiro de Sousa, professora do Instituto do Cérebro da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).

Se essa “leitura” do outro foi importante no processo evolutivo, hoje, com um mundo cada vez mais conectado e onde as demandas se multiplicam, a tendência é sermos ainda mais impactados pelas pessoas com quem convivemos e com o estresse que elas carregam. “É como uma onda, tendemos a ter um comportamento quase solidário com as pessoas que nos rodeiam”, diz Vasconcelos.

Por trás dessa reação há eventos psicológicos mais complexos, que envolvem áreas do cérebro chamadas de córtex pré-frontal, responsável pelo comando das funções executivas; e da amígdala, que classifica os eventos como positivos ou negativos.

Apesar da contaminação, não reagimos igual

Sousa, do Instituto do Cérebro, usa modelos animais para pesquisar as diferenças fisiológicas de resposta ao estresse. De acordo com ela, os machos tendem a ser mais reativos e a resposta ao estresse se caracteriza pela mobilização. Já as fêmeas são menos impulsivas.

“Fazendo uma analogia com os seres humanos, essa resposta ao estresse também se modifica com o passar do tempo, principalmente para as fêmeas, que respondem de maneira mais compensada. Por outro lado, elas se tornam mais suscetíveis a doenças relacionadas à descalibração desse eixo”, pondera Sousa.

Se cada pessoa tem uma capacidade de enfrentamento ao estresse, é normal que cada um reaja de uma forma a situações possivelmente desafiadoras. Por exemplo, você pode ficar muito estressado se o pneu do seu carro furar em um dia de chuva. Mas para um colega, a situação, apesar de desconfortável, não é suficiente para afetar o humor.

“Uma habilidade que serve como fator protetivo ao estresse é a capacidade de reinterpretação positiva, ou seja, mesmo diante de situações adversas a pessoa consegue ponderar e atribuir ou buscar algum significado positivo”, diz André Faro, pós doutor em saúde mental e professor de psicologia da UFS (Universidade Federal de Sergipe).

Cuidado com o excesso

Segundo especialistas, situações que envolvem novidade, perdas afetivas, exposição, julgamentos e ameaças à autoestima podem desencadear estresse.

“Em doses moderadas, a reação ao estresse é positiva, já que nos dá subsídios para enfrentarmos situações adversas. O problema acontece quando alguma situação ultrapassa nossa capacidade de enfrentamento”, avalia André Faro.

Pessoas com estado de estresse alterado passam a ter respostas fisiológicas desreguladas, liberando mais ou menos cortisol. Com isso, o organismo reage aumentando a pressão arterial e a sudorese e alterando a capacidade de atenção e memória. O estresse crônico também é o principal fator de risco para o surgimento de transtornos psiquiátricos como ansiedade e depressão. O sistema imunológico também pode ficar prejudicado.

“Por exemplo, se em uma situação estressora o indivíduo libera pouco cortisol, isso pode desencadear o aparecimento de doenças autoimunes, como lúpus, artrite reumatoide, fibromialgia e asma. Se o indivíduo tem uma resposta de cortisol exacerbada ou prolongada, ocorre imunossupressão, e ele fica mais propenso a contrair doenças infecciosas”, conta Deborah Suchecki, doutora em psicobiologia e professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Fonte: VivaBem/UOL

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