Correios passa por reestruturação e cortes podem chegar a 20 mil
O processo de reestruturação em andamento nos Correios, que completam 50 anos como empresa pública nesta quarta-feira (20), pode levar a uma redução de cerca de 20% no número de empregados da estatal, um corte equivalente a 20 mil vagas.
O presidente dos Correios, general Juarez Aparecido de Paula Cunha, que é contra a privatização da estatal, afirmou à Folha que o “número mágico” ideal para a empresa seria de 85 mil empregados. Hoje, são cerca de 105 mil.
A companhia briga para ser sustentável em um ambiente com forte concorrência na entrega de encomendas.
Na área na qual os Correios têm monopólio —envio de cartas, telegramas e outras mensagens—, as entregas caíram de 8,9 bilhões de unidades em 2012 para uma estimativa de 5,7 bilhões em 2018.
Na reestruturação, agências dos Correios em endereços próximas a outro ponto de atendimento serão fechadas. Em seguida, será feito um processo de quatro etapas que deve atingir, inicialmente, 6.000 empregados.
Primeiro, aqueles que trabalhavam em agências extintas poderão ser realocados em outras áreas da companhia. No segundo passo, será dada a chance de cessão para outros órgãos públicos.
Aqueles que seguirem com posição indefinida terão acesso a uma nova etapa de um plano de demissão incentivada. Cerca de 7.000 empregados já aderiram a programas desse tipo nos últimos anos.
Por fim, não foi descartada a possibilidade de extinção de cargos.
“Não estamos muito preocupados com essa redução por enquanto. O mais importante agora é ver quantos elementos são necessários para a atual estrutura e colocar esses elementos no lugar certo”, disse Cunha.
O quadro de pessoal dos Correios já vem diminuindo ano a ano, seja por programas de demissão voluntária, seja por vagas desocupadas e não repostas. Em 2013, eram quase 126 mil empregados, 20 mil a mais do que hoje.
Depois de resultados negativos bilionários em 2015 e 2016, os Correios registraram lucro de R$ 667 milhões em 2017. O número de 2018 ainda não foi divulgado, mas há indicativo de que será positivo.
O caixa da estatal teve um alívio depois que os empregados passaram a contribuir com um percentual do salário para bancar os planos de saúde.
Uma decisão da Justiça ainda trará nova economia para a empresa. A partir de agosto, pais de empregados dos Correios deixarão de ser atendidos pelo plano de saúde dos funcionários.
A economia esperada supera R$ 500 milhões ao ano.
A empresa também iniciou um monitoramento de ausências de funcionários que inclui buscas por indícios de médicos que vendem atestados. Esses profissionais poderão ser denunciados à Justiça e aos conselhos de Medicina.
“Temos levantamento de todos os médicos que dão guias de dispensa” afirmou o presidente.
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) já demonstrou a intenção de privatizar os Correios. Em outubro de 2018, antes de ser eleito, afirmou que a estatal tem grande chance de privatização.
A privatização de estatais está entre as prioridades da equipe econômica de Bolsonaro, comandada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. O presidente dos Correios diz não ter sido procurado pelo governo para tratar do assunto.
Para Cunha, privatizar os Correios seria muito difícil e prejudicaria o papel social da empresa, presente em todos os municípios do país.
De acordo com ele, 324 municípios de grande porte geram lucro para a empresa. Outros cerca de 5.200 são deficitários.
“Se houver a privatização, vão querer privatizar o que dá lucro. Vai sobrar para o Estado pagar aquela conta do outro lado, de R$ 8 bilhões ao ano”, afirmou.
Os Correios tiveram origem no Brasil durante o período colonial, com a instalação de uma administração postal no Rio de Janeiro, em 25 de janeiro de 1663. Nessa data se comemora o dia do carteiro.
Ao longo do tempo, o serviço postal foi interiorizado e aprimorado, por exemplo, com a entrega domiciliar de correspondências a partir de 1835.
Há exatas cinco décadas, em 20 de março de 1969, deixou de existir o Departamento de Correios e Telégrafos, subordinado ao Ministério de Viação e Obras Públicas, para a criação da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, no formato em funcionamento hoje.
A estatal é atualmente vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
Fonte: Estadão