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Doença mental causada pelo trabalho afeta mais as mulheres e exige mudança de postura da empresa e da sociedade

As mulheres trabalhadoras estão mais sujeitas a sofrerem as doenças mentais no ambiente de trabalho, hoje consideradas a terceira maior causa de afastamentos, segundo os dados da Previdência Social.

A sobrecarga de trabalho, a pressão excessiva, a jornada tripla (trabalho fora, cuidados com a casa, cuidados com a família) e também a falta de sensibilidade dos patrões e colegas, são os principais fatores que desencadeiam esse tipo de transtorno.

O alerta foi feito por Ana Carolina Lemos Pereira, psicóloga do trabalho, doutoranda em Saúde Coletiva pela Unicamp, professora de Psicologia do Trabalho na PUC-Campinas, durante o 8º Encontro Regional da Mulher EAA, com o tema “Saúde Mental Relacionada ao Trabalho”, promovido pela Secretaria da Mulher da FEAAC, no sábado, dia 25.

O Encontro, coordenado por Elizabete Prataviera, presidente do SEAAC Campinas e Região e secretária da Mulher da FEAAC, teve a presença Ana Carolina Lemos Pereira, de Cleo Dias da União Brasileira de Mulheres – UBM, Nacional e Estadual, Rosane de Arazão, do Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres de Campinas, Luciana P. Franco, secretária da Mulher, Criança e Adolescente, do SEAAC Campinas e Região e de Maria Isabel Manzano, psicóloga e coach, palestrante de outros encontros da Mulher da FEAAC.

As doenças mentais, segundo a psicóloga, surgem na forma de depressão, crises de ansiedade, estresse e síndrome do pânico e são cada vez mais frequentes no mundo do trabalho e na sociedade individualista. O problema é que a pessoa que sofre de algum tipo de transtorno mental, raramente o atribui às condições de trabalho e ao ambiente pouco favorável à sua adaptação. Em geral o diagnóstico e tratamento demoram e causam muito sofrimento. E quando é necessário o afastamento do trabalho existe sempre uma carga de preconceito e de insensibilidade dos chefes, da empresa e dos próprios colegas.

“Se você encontra uma pessoa com depressão no shopping, num restaurante ou num bar, logo vai dizer que a pessoa está fingindo ter alguma doença. Se ela volta de uma licença, fatalmente será discriminada e colocada num canto sem, chance de readaptação. E o pior, se não conseguir dar conta do trabalho, vai achar que a culpa é dela, e não da empresa”, explica Ana Carolina Lemos.

A melhor forma de acabar com o adoecimento no trabalho, aconselha a psicóloga, é haver um sentimento de solidariedade com o outro, ter empatia, se colocar no lugar da pessoa que está produzindo menos em razão da doença e diminuir o ritmo, acabar com a com a competitividade, sem se preocupar com a queda da produtividade.

É essa mudança de consciência que será capaz de transformar a realidade. Sem se esquecer de todos os outros fatores que levam ao adoecimento de alguém. Para pensar na saúde mental relacionada ao trabalho tem que analisar cinco patamares. Isso quer dizer que, adoecer no trabalho nunca é por uma coisa só. É uma série de fatores:
– Internacional
– Contextos nacionais (que inclui condições gerais de vida)
– Empresa (política e gestão)
– O trabalhador em si
– Individualidade (complexo psicoorgânico singular)

As empresas, por outro lado, não podem responsabilizar a trabalhadora ou trabalhador pelo adoecimento, que provavelmente foi causado pelas condições de trabalho, aliadas a outros fatores. “É preciso ver se a empresa que oferece programas de saúde quer que eu tenha saúde, ou se ela quer que eu tenha mais saúde para poder produzir mais. Se eu tenho um trabalhador doente, não adiante oferecer atendimento psicológico se eu não mudo a causa, aquilo que o adoeceu no trabalho. As empresas deveriam trabalhar o relacionamento interpessoal, que trata das pessoas e não do trabalho”, defende a psicóloga do trabalho.

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