Banco digital, embora os custos de manutenção sejam mais baixos ou nulos, é uma realidade distante para ela. De acordo com especialistas, o Brasil possui vários gargalos para a inclusão de pessoas de baixa renda no mundo financeiro digital. Na prática, as pessoas mais pobres acabam pagam mais por isso.

Denise faz parte do contingente de cerca de 30% da população, de acordo com números do Banco Central, que não tem conta bancária.  “Eu pego o dinheiro, pagos minhas contas e não sobra, não tenho dinheiro para guardar, não faz sentido ter conta em um banco”, diz.

Para o professor Luis Braido, da Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getúlio Vargas (EBEF/FGV), essa é a realidade de muitos brasileiros. “Para as pessoas de baixa renda, o dinheiro que recebem logo é usado para pagar a conta na venda ou na padaria, o fiado passou a ser a verdadeiro banco, aquele que oferece crédito, nas periferias do Brasil”, avalia. “O crédito no sistema financeiro brasileiro é muito caro e mesmo os pacotes mínimos para conta corrente têm um custo de manutenção que para essa parcela da população é muito alto”.

Inclusão bancária significa que um indivíduo tem acesso a serviços financeiros úteis e é capaz de fazer pagamentos, transferências, adquirir crédito e seguros, por exemplo. Nesse sentido, os bancos digitais ou as fintechs podem ser uma alternativa uma vez que não há cobrança de taxas para transferências ou manutenção. Mas aí, como observa Braido, “esbarramos em outros gargalos”.

Na opinião de Braido a falta de concorrência é um ponto relevante. “Temos poucas empresas oferecendo serviços de telefonia e internet, por exemplo, o que resulta em pacotes caros principalmente nos planos pré-pagos, o que torna difícil o acesso a essa população aos meios de pagamento digitais. Se observar bem, o preço cobrado pelos smartphones também é muito alto se comparado ao salário mínimo”.

Para Bernardo Pascowitch, fundador da Yubb e diretor da Associação Brasileira de Fintechs, observa que houve um aumento no consumo de produtos e serviços financeiros digitais, principalmente pelos mais jovens. Segundo a recém-divulgada Pesquisa FinTech Deep Dive 2018, da ABFintechs em parceria com a PwC Brasil, 95% das fintechs brasileiras esperam aumentar receitas em 2018.

“Sabemos que os smartphones estão se popularizando, mas que uma parcela está fora desse universo e o custo para elas acaba sendo maior principalmente quando pensamos em produtos e serviços, quem não tem acesso aos meios digitais pagam mais taxas e tarifas” avalia Pascowitch.

Futuro
Caio Davidoff, CEO da PagCom, aposta na tecnologia para a inclusão. “É uma tendência mundial que os meios de pagamento digital fiquem mais fortes em todo o mundo, biometria e blockchain (sistema que dispensa negociação de bancos nas negociais virtuais) ainda são pouco utilizados, mas vão ganhar espaço”.

Para Davidoff uma solução que virá nos próximos anos é um totem capaz de reconhecer o rosto da pessoa, sem necessidade de internet. “Ainda estamos em processo embrionário no Brasil, mas é uma solução que depende muito mais das empresas que propriamente das pessoas.”

Fonte: R7