Programa de Temer é golpe contra os trabalhadores
Na noite da última segunda-feira, dia 11, o jurista Fábio Konder Comparato, a desembargadora aposentada Magda Biavaschi, a jornalista Hildegard Angel e o ex-ministro Gilberto Carvalho debateram o tema “A Democracia e o Sistema Político no Brasil” na Fundação Escola de Sociologia de São Paulo. Condenaram o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff e definiram o projeto “Ponte para o Futuro”, do PMDB para superação da crise brasileira, como um pesadelo para os trabalhadores.
O debate faz parte do ciclo de encontros “Que Brasil é Este?”, idealizado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, com patrocínio do Sesi e Banco Nacional de Desenvolvimento Social e com apoio da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino e TV dos Trabalhadores (TVT).
Ponte para o “inferno”?
Para o jurista o projeto do PMDB, partido que conduz o processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff, reflete a visão das classes dominantes, sempre de prontidão para impedir que a riqueza produzida no Brasil seja democratizada.
Ele relatou como pensam aqueles que são favoráveis à diminuição da dívida pública, por exemplo. “Eles pensam: vamos acabar com essa história de educação e saúde para todos.Onde já se viu?”, ironizou Comparato.
O professor emérito da faculdade de direito da USP também observou que neste momento as famílias da classe média estão tirando os filhos da escola privada e colocando na escola pública.
“Bom, o estado não tem dinheiro, que elas voltem para a escola privada. É exatamente este o discurso do programa chamado ponte para o inferno, perdão, ponte para o futuro, ou seja, redução dos impostos, revisão dos gastos da seguridade social e não mexer nos juros”, enumerou.
Direitos trabalhistas na mira
Magda, que também é integrante do Fórum Nacional em Defesa dos Trabalhadores Ameaçados pela Terceirização, afirmou que as leis trabalhistas brasileiras são o único limite ao movimento “insaciável” do capitalismo contemporâneo na busca pela acumulação de riquezas.
Segundo ela, os projetos de lei que tramitam hoje no Congresso Nacional são exatamente para eliminar esses limites e o programa ponte para o futuro é instrumento fundamental no retrocesso aos direitos dos trabalhadores.
“Se for chancelado ou se for aprovado esse projeto para o futuro o pressuposto, além do recrudescimento do ajuste fiscal, é a flexibilização ou a desregulamentação de todas as normas que criem obstáculos a esse livre trânsito”.
Marina Silva
A desembargadora também lembrou que o conteúdo da flexibilização das relações trabalhistas, que marca o programa do PMDB, havia aparecido também no programa de campanha da candidata Marina Silva à presidência.
Magda lembrou ainda que outra característica das iniciativas que atacam a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) é impor o negociado sobre o legislado. “Querem tirar a condição de fonte prevalente das relações de trabalho da CLT e deixar a negociação como fonte prevalente, como se as vontades fossem iguais e autônomas”, ponderou.
“As pessoas que apostam no programa ponte para o futuro estão no parlamento forçando a barra para aprovar os projetos que prejudicam os trabalhadores. E aquels que estão no parlamento resistindo a esses projetos de terceirização são os mesmos que estão nas ruas em defesa da democracia”, comparou.
Democracia e mídia
A jornalista Hildegard Angel leu, emocionada, um relato sobre a história da mãe Zuzu Angel, vítima do golpe militar de 64, e do irmão Stuart, desaparecido político naquele período. “Ela (Zuzu) conseguiu gritar aos ventos a sua descoberta de que o poder que de fato nos oprimia era o da elite dominante brasileira da qual os militares, daquele momento histórico, eram apenas instrumentos”.
Hildegard disse que, atualmente, prefere ser chamada de blogueira a jornalista. Para ela a imprensa brasileira está se comportando de maneira vergonhosa. “É triste ver que meus colegas da grande mídia poderosa evidenciam a importância de um bom salário. Como o conforto tem o poder de comprar consciências e almas”.
Ela citou o comentário de “uma jornalista da economista importantíssima” na rádio CBN no dia em que chegou em São Paulo argumentando em favor do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff. “Como ela não se envergonha de estar ali fazendo aquele papel. Ela que viveu situação dramática na ditadura. Como ela não vê a consequência do que estava fazendo ali”, espantou-se Hildegard.
Reaproximação das lutas sociais
O ex-ministro Gilberto Carvalho se mostrou comovido pela grandeza dos movimentos sociais e também de parcela importante da sociedade brasileira que não votou na presidenta Dilma mas participa das manifestações em defesa da democracia. “Os que pregam o golpe nos combatem não pelos erros mas pelos acertos que incluíram os mais pobres, os excluídos do Brasil”.
Ele convocou a sociedade para permanecer mobilizada nestes dias em que será votado no plenário da Câmara dos Deputados o relatório do impeachment da presidenta. “Se Deus quiser vamos vencer e não apenas vencer. Vamos mudar a nossa política para que se reaproxime das lutas sociais e siga fiel a nossos projetos, que é a defesa do povo brasileiro, daqueles que sofrem com a exclusão do capitalismo no nosso país.
Fonte: Portal Vermelho