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Queimadas no Mato Grosso: Vale do Jamacá, na Chapada dos Guimarães, pede socorro

Moradores, brigadistas e voluntários do Vale do Jamacá pedem socorro e denunciam queimadas criminosas e devastadoras no Mato Grosso. “Governo não está controlando fogo em lugar nenhum”

Casal de fotógrafos – ambientalista e geógrafa – alerta: animais que sobrevivem às queimadas no Mato Grosso, passam a viver o drama da fome – Foto: Jeanne Martins

Há algumas semanas o Vale do Jamacá e o Vale da Bênção, uma das principais zonas de amortecimento do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, também são focos dos incêndios florestais que vêm devastando outro bioma próximo ao local, o Pantanal. As queimadas nessa região do Mato Grosso colocam em risco uma enorme biodiversidade formada dentro de uma área de transição com a Floresta Amazônica e o Cerrado. No dia 14 de setembro, o secretário nacional de Proteção e Defesa Civil, Alexandre Lucas Alves, assinou a Portaria nº 2.418/2020 reconhecendo a situação de emergência do município.

Mas, quem vê de perto o fogo queimando hectares e avançando mata adentro, denuncia que os incêndios são criminosos e que há uma omissão no combate por parte do governo de Jair Bolsonaro.

“Tenho observado que uma das estratégias de comunicação desse governo é observar o fogo queimar. E quando o fogo está acabando, e não tem mais nada para queimar, eles mandar atacar. Declaram vitória. ‘Vencemos o fogo.’ Mas é tudo papo furado, mentira. Ninguém está controlando o fogo em lugar nenhum”, afirma o fotógrafo e ambientalista Mário Friedlander. “Nos focos no Pantanal a gente viu isso claramente.” E nas queimadas em outros parques do Mato Grosso é a mesma coisa.

Fotografando a tragédia
Animais encurralados, carbonizados e mortos. As lentes do fotógrafo capturam algumas das cenas chocantes usadas para sensibilizar a população e pressionar o poder público por uma solução urgente. Mas outro pedido de socorro corre também por texto. Na semana passada, a também fotógrafa e geóloga Jeanne Martins Nascimento usou as redes sociais para alertar sobre o risco de que o Vale do Jamacá “vire cinzas”. “Um grito de socorro” para impedir que o “desastre”, que tanto Jeanne como Mário presenciaram “com os próprios olhos” no Pantanal, “não nos alcance”.

Há mais de 40 anos vivendo juntos em meio à mata do Vale do Jamacá, o casal garante que “nunca houve um incêndio na região nessas proporções”. Acostumados a fotografar as belezas do Vale e do Pantanal, os dois têm agora os olhos mirados para a rotina de apagar as queimadas no Mato Grosso sem o apoio dos governos, como descrevem em entrevista a Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual.

Mário é responsável por registros emblemáticos do fogo consumindo uma piúva rosa, árvore símbolo do Pantanal, também conhecida como ipê-rosa. Neste setembro, época de floração em que o Pantanal estaria cercado de cores, a imagem desbotada pelo fogo “demonstra a violência do que está acontecendo”, adverte o ambientalista. O casal guarda diversas imagens da devastação, mas há um número maior de fotos que nem sequer conseguiram fazer, tamanha a densidade da fumaça e do fogo provenientes das diversas queimadas nessa região do Mato Grosso.

Depois das queimadas no Mato Grosso, fome
São deles também algumas fotografias que mostram onças-pintadas, um dos animais mais poderosos do Brasil, feridos e com as patas queimadas. “Você encontra as onças prostradas, elas ficam perto da gente, sem ter como reagir. É o que acontece no Pantanal. É um simbolismo. O Pantanal é muito poderoso, gigante, mas está prostrado em função desses incêndios criminosos”, compara.

As fotos de Jeanne também trazem perdas semelhantes. Como a do jacaré atolado na lama que, sem ter como sair, parece “esperar a chegada da morte”. Mas, a imagem que mais marca, segundo seu relato, é de uma cabeça de búfalo estirada na mata queimada. “Algumas pessoas se dirigiram para lá, mataram três búfalos, levaram a carne, o couro, deixando os pés, as cabeças e a barrigada. Em meio à imensa dor, se fazem presentes também os aproveitadores, que usam da fragilidade dos bichos em benefício próprio”, lamenta. Ela observa que os búfalos não são naturais do bioma. Foram levados para lá por criadores. E ao se separarem de seus grupos, acabaram começando a formar pequenas populações selvagens.

O ambientalista e a geógrafa alertam que os animais que sobrevivem ao fogo passam depois pelo drama da fome. O problema se agrava também para as espécies aquáticas, porque, com o acúmulo das cinzas, é esperado que a próxima chuva carregue para dentro das bacias o material que denuncia as queimadas no Mato Grosso. O que pode levar a uma mortandade de peixes e de outros organismos.

“Tenho observado que uma das estratégias de comunicação desse governo é observar o fogo queimar”, denuncia o fotógrafo e ambientalista Mario Friedlander (foto de sua autoria)

Grito de socorro

“Tenho observado que uma das estratégias de comunicação desse governo é observar o fogo queimar”, denuncia o fotógrafo e ambientalista Mario Friedlander (foto de sua autoria)
Diante da tragédia vista no Pantanal, Jeanne e Mário temem que o mesmo aconteça no Vale do Jamacá. Por isso cobram das autoridades urgências nas ações, ainda que do governo federal “não esperem nada”.

“Porque não adianta. Na verdade, enquanto o Pantanal está sendo destruído pelo fogo, os órgãos ambientais sérios que a gente tem no país, como o ICMBio e o Ibama, estão sendo destruídos por políticas que têm o objetivo de enfraquecer esse controle ambiental. O que a gente quer é conscientizar o povo brasileiro para que acorde, perceba o que está acontecendo no país de verdade. Eu só tenho esperança no povo brasileiro mesmo. Tem muito gente, peão pantaneiro, dedicando seus dias e noites para combater o fogo. Assim como muitos voluntários e brigadistas dando seu sangue para combater. Essas pessoas têm que ser lembradas e valorizadas. Apesar de o governo estar pecando, tem muita gente querendo e fazendo alguma coisa boa”, destaca Mário.

Apoio aos voluntários
Em nome desses voluntários, da natureza, e das diversas famílias que vivem em meio à mata, a geógrafa cobra a intensificação de ações por parte do governo local e federal no apoio aos brigadistas. Desde agosto, os moradores criaram a Brigada Rural Voluntária do Vale do Jamacá (BRV-VJ) quando o fogo começou nas regiões em volta do Vale. Com o avanço dos incêndios para cima da região, os brigadistas “perceberam a gravidade da situação”.

Mas o trabalho é cercado de dificuldades. Faltam equipamentos para controlar o fogo, assim como treinamento para os voluntários que querem ajudar. A ação vem demandando cada vez mais doações de equipamentos de proteção individual (EPIs), por exemplo.

“O texto foi um grito de socorro, porque a partir do momento que se começa um incêndio numa área de mata é muito difícil combatê-lo. E quando não tem um poder público que vai combater isso, você fica de mãos amarradas, desesperado. Porque além do bioma em si, há um série de pequenas propriedades, residenciais e famílias que moram em meio à mata. Mas de nossa parte lutaremos até o último suspiro e até a última gota de suor. Infelizmente, nossa lágrimas derramadas e nem nosso suor são suficientes para apagar as chamas”, descreve Jeanne à Rádio Brasil Atual.

Fonte: Rede Brasil Atual

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