Seu celular escuta o que você fala? Vazamento indica possível uso secreto
O celular escuta o que falamos? Um conglomerado norte-americano que tem parceiros gigantes como Google, Amazon e Meta afirma ser capaz de ouvir os usuários para personalizar anúncios.
O que aconteceu
Um portal especializado em notícias de tecnologia diz ter tido acesso à apresentação institucional da empresa. Segundo dados obtidos pelo site 404 Media, a empresa Cox Media Group (CMG), baseada em Atlanta, nos Estados Unidos, tem à disposição um software chamado Active listening (Escuta ativa, em tradução livre). A apresentação foi feita para clientes em potencial do software, que captura dados do microfone dos usuários para criação de anúncios segmentados com o auxílio de inteligência artificial.
A empresa não especifica quais dispositivos são alvo do software. Na apresentação, o grupo não informa se a captura de voz é feita por meio do microfone de smart TVs, notebooks, dispositivos inteligentes como a Alexa ou smartphones. A capa do material, porém, tem uma foto de pessoas usando celulares, o que indica que esse, provavelmente, é o dispositivo usado pelo software. Segundo o grupo, “os consumidores deixam um rastro de dados com base em suas conversas e comportamento online”.
A apresentação divulgada pelo 404 Media indica o passo a passo do software. Uma das etapas descritas pelo CMG explica que a inteligência artificial usa mais de 470 fontes para coletar e analisar o comportamento dos usuários que tem seus dados captados. O Escuta ativa afirma ser capaz de identificar o público que está “pronto para comprar”. “Pegamos esses dados e os alinhamos com seus produtos e serviços para construir uma lista de público em um raio definido de 10 milhas (cerca de 16 quilômetros)”, diz o material. Veja o slide abaixo (em inglês):
Valor cobrado pelo grupo CMG é diário e leva em consideração a área que será analisada. Segundo a apresentação, a empresa que deseja selecionar pessoas em um raio de 16 quilômetros pagará um valor diário de US$ 100 (aproximadamente R$ 559, na cotação atual). Caso a empresa queira aumentar o raio para 32 quilômetros, o valor sobe para US$ 200 (cerca de R$ 1.120) por dia.
Nossa tecnologia analisa mais de 1,9 trilhão de comportamentos diariamente e coleta dados de comportamento do cliente em centenas de sites populares.Trecho da apresentação obtida pelo 404 Media
Big techs estariam entre os parceiros do grupo. Empresas como Amazon, Google e Meta (responsável por aplicativos como Facebook, Instagram e WhatsApp) são citadas pelo CMG em sua apresentação. Ao mencionar as companhias, o CMG diz: “Fazemos parceria com os melhores para oferecer o melhor”. No entanto, não é esclarecido se essas empresas contrataram o Escuta ativa ou mantêm parceria com o grupo em outras frentes.
O material indica, também, como é o processo após a contratação do serviço. De acordo com a apresentação, após discussão interna na CMG, a empresa convoca uma reunião com o cliente que terá o Escuta ativa. “Isso ajudará os membros da nossa equipe CMG a obter uma maior compreensão do seu modelo de negócios, estabelecer KPIs [indicadores de desempenho] e metas e revisar a estratégia desejada para que possamos começar a pesquisar e construir nossas recomendações de estratégia de conta.”
Grupo é responsável por uma série de emissoras locais nos Estados Unidos. Além da atuação em notícias e entretenimento na televisão e no rádio, o grupo CMG tem um braço de “soluções locais”, que seria responsável pela utilização do programa Escuta ativa. De acordo com o site oficial da companhia, essa frente da CMG tem “a melhor tecnologia da categoria com dados e análises para gerar resultados de negócios reais para nossos clientes”.
O que dizem os envolvidos
O Google afirmou ter removido o CMG do seu programa de parceiros. Ao 404 Media, a empresa declarou que exige o cumprimento das leis e regulamentos por parte de seus parceiros, bem como das políticas internas do Google Ads. “Quando identificarmos anúncios ou anunciantes que violem essas políticas, tomaremos as medidas adequadas”, disse.
Meta também se manifestou sobre o caso. Em comunicado, a empresa declarou que mantinha com o CMG uma “parceria geral” e que não usa o software para suas publicidades. “A Meta não usa o microfone do seu telefone para anúncios e temos divulgado isso há anos. Estamos entrando em contato com a CMG para que eles esclareçam que seu programa não se baseia em dados da Meta.”
Porta-voz da Amazon declarou ao 404 Media que não há envolvimento da empresa com o CMG. De acordo com a declaração, a Amazon não tem planos de firmar parceria com o grupo.
Caso ressalta a importância da atenção por parte dos usuários. Caso a captura de sons seja devidamente descrita nos termos de uso oferecidos pela empresa no momento do cadastro e o cliente aceitar esses termos, a prática poderia ser considerada legal. Antes de concordar com as atualizações e termos de qualquer tipo de serviço, leia atentamente as cláusulas, que devem indicar, também, a finalidade da captura de qualquer dado pessoal.
Fonte: TILT/UOL